domingo, 11 de julho de 2010

Drops discute: celebridade e barbárie


Hoje, gostaria de compartilhar um texto que li durante uma aula da Pós-Graduação e que me fez refletir sobre muitos fatos que tem sido cada vez mais freqüentes na nossa sociedade.

O ensaio intitulado Celebridade e barbárie foi publicado na edição 147 da Revista Cult e tem autoria do Francisco Bosco. O autor traça uma possível relação entre fama do tipo, celebridades, e crimes bárbaros.
Bosco inicia o texto relembrando um assalto da década de 1970, em uma churrascaria carioca, onde os assaltantes ao reconhecerem um repórter, devolveram imediatamente seus pertences.

Bosco também cita outro exemplo, onde o assaltante ao reconhecer sua vítima famosa, desiste de roubá-la. Porém, o que Bosco percebe, é que de alguns anos para cá, esse tipo de reação tem se modificado extremamente. Uma situação citada no texto é da invasão da casa do cineasta Zelito Viana, em 2006. “quatro homens armados invadiram a casa do cineasta Zelito Viana, no Cosme Velho, e reconheceram entre as vítimas seu filho, o ator Marcos Palmeira. Entretanto, em vez de devolverem-lhe os pertences, trataram-no com violência redobrada: deram-lhe uma coronhada no rosto e por pouco não o levaram como refém”.

O autor também comenta exemplos de seqüestros, no caso de familiares de jogadores de futebol que sofreram violências. Como o caso da mãe de Robinho que ficou durante um mês em cativeiro.  Assim, Francisco Bosco atribui essa mudança de comportamento à uma transformação entre o crime e sua finalidade. “Na verdade, o que chama atenção é justamente o fato de que nesses crimes a violência não é um meio, mas um fim em si, um excesso sem causa e consequência aparentes.”

E o mais interessante, na teoria de Bosco, é que ele relaciona essa transformação de finalidade às características da relação ente os mitos de nossa cultura midiática e a sociedade. Para explicitar isso, ele argumenta que nossa era é criadora de um tipo particular de celebridade, os que são famosos por tautologia. “Antigamente, um imperador tornava-se célebre por suas conquistas bélicas, expansionistas. Um chefe de Estado notabilizava-se por sua astúcia política, por sua capacidade de liderança e presença de espírito.”

Hoje, não é necessário nada disso para alcançar fama, e sem ter nada à acrescentar, essa fama é vazia, ou como o autor mesmo fala, “A imagem da celebridade reproduz-se tantas vezes na mídia que ela acaba se tornando célebre. Ela é célebre porque é vista repetidamente. Daí a tautologia: é famoso porque é famoso.”

Bosco compara essas celebridades à parasitas, que vivem do desejo dos outros de quererem um dia chegarem a esse tipo de reconhecimento, é uma relação de masoquismo, de inconformismo. “É assim que a admiração pelas celebridades está sempre a um passo de se tornar ódio mortal. ‘Por que eu deveria amá-lo se a sua fama só serve a ele e ainda me humilha?’”

Dessa forma, a mudança no comportamento dos criminosos, isto é, a modificação do caráter objetivo do crime em violência excessiva, demonstraria o ódio daqueles que sofrem preconceitos, é que excluído da sociedade. “É a manifestação súbita da barbárie por parte de sujeitos que sofrem um processo gradual de barbárie por longos anos”.

Para aqueles que desejam ler o ensaio na íntegra: http://revistacult.uol.com.br/home/2010/06/celebridade-e-barbarie/



Ana Paula Nunes é jornalista, Pós-graduanda em Mídia, Informação e Cultura pela Universidade de São Paulo/USP. Coordenadora de Comunicação da Contemporâneos, revista de Artes e Humanidades. Escreve aos domingos no ContemporArtes.





0 comentários:

Postar um comentário

Seja educado. Comentários de teor ofensivo serão deletados.