sábado, 21 de agosto de 2010

Amai-vos


de Gibran Khalil Gibran.

Amai-vos um ao outro,
mas não façais do amor um grilhão.

Que haja, antes, um mar ondulante
entre as praias de vossa alma.

Enchei a taça um do outro,
mas não bebais da mesma taça.

Dai do vosso pão um ao outro,
mas não comais do mesmo pedaço.

Cantai e dançai juntos,
e sede alegres,

Mas deixai
cada um de vós estar sozinho.

Assim como as cordas da lira
são separadas e,

No entanto,
vibram na mesma harmonia.

Dai vosso coração,
mas não o confieis à guarda um do outro.

Pois somente a mão da Vida
pode conter vosso coração.

E vivei juntos,
mas não vos aconchegueis demasiadamente.

Pois as colunas do templo
erguem-se separadamente.

E o carvalho e o cipreste
não crescem à sombra um do outro.

Poeta, pintor e filósofo libanês, Gibran emigrou com sua família para Boston (EUA) em 1895. Iniciou sua carreira literária escrevendo poemas e meditações para o Al-Muhajer (O Emigrante), jornal árabe local. Seu estilo novo, cheio de música, imagens e símbolos, atrai-lhe a atenção do Mundo Árabe.

Em 1910, muda-se para Nova York, onde reúne em volta de si uma plêiade de escritores libaneses e sírios que, embora estabelecidos nos Estados Unidos, escrevem em árabe. O grupo forma uma academia literária que se intitula Ar-Rabita Al-Kalamia (A Liga Literária), e que muito contribuiu para o renascimento das letras árabes.

Os primeiros livros de Gibran -- Asas Partidas, As Ninfas do Vale, As Almas Rebeldes, Temporais -- foram uma série de escritos revolucionários, com os quais esperava destruir tradições e instituições, denunciar a vilania e a estupidez, desmantelar o trono dos gananciosos, humilhar o clero que prega o que não pratica, edificar um novo estilo de vida.

Após esses livros, Gibran, o revolucionário, transformou-se em Gibran, o filósofo. Mais preocupado com a alma humana do que com as instituições sociais, convencido de que os piores inimigos do homem estão dentro e não fora dele mesmo, e que a compreensão e a compaixão são melhores instrumentos de reforma e progresso do que a condenação e a destruição. Viriam, então, os livros de mais ampla visão e de mais profunda ternura, como O Profeta, Jesus – O Filho do Homem, Areia e Espuma, dentre outros.

Gibran procura fazer do homem um homem melhor, sensível, justo, generoso, benévolo, mais apegado aos valores espirituais do que aos materiais, mais orientado pelo coração do que pelo interesse, mais feliz em dar do que receber. Seu ideal da vida: harmonizar-se com a natureza. "O amor é a única liberdade neste mundo, porque eleva a alma às alturas, além das leis e das tradições dos homens e das necessidades e imposições da natureza" (Asas Partidas). A leitura deste escritor é mais do que uma leitura, é uma saborosa renovação da alma.



Vinícius "Elfo" Rennó é graduando em Letras pela UFV. Gosta de cozer bem o que escreve. Basicamente, trata-se de um leitor glutão, amante de cinema e viciado em música. Atualmente é membro do corpo editorial da Contemporâneos – Revista de Artes e Humanidades e, juntamente com a Prof. Dr. Ana Maria Dietrich, coordena a ContemporARTES – Revista de difusão cultural.

1 comentários:

Ana Cecília disse...

Sábios e sensíveis versos.
Saber-se para amar. Amar ao saber-se. Saber amar.
Sempre um processo,sempre um conhecimento.
Um alegre conhecer, mesmo com as lágrimas,mesmo com a dor.
A dor existe, sofrer por ela ou não é onde reside o desafio.
Amar é liberdade! É ser livre, é cultivar a liberdade um do outro. Sempre uma proposta, sempre um exercício sem erros ou acertos, apenas com mestres e aprendizes mútuos e em fusão, mesmo que individuais no seu ser.
Amai!

21 de agosto de 2010 às 21:52

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