As outras vidas
Por Diego Junior Teodoro.
O chão esburacado, com pedras e muito cinza de piche, agora ganhara o vermelho do meu próprio sangue. Os aros da bicicleta abraçaram-se num emaranhado de raias e o guidão estava dentro da janela traseira do Honda amassado. Uma mulher chocada empunhando um celular conversava com alguém, chorando freneticamente, enquanto eu permanecia lá com o crânio aberto e a perna esquerda desfigurada perto do ombro direito.
Indescritivelmente um latido involuntário materializou-se em minha cabeça, literalmente dentro dela. Outros sucessivos latidos se formavam feito trovão.
Sim! Minha alma reencarnou-se em um cachorro, um vira-lata! Fui pobre na condição de humano, agora um vira-lata na condição de cão. Era como ser um mendigo na melhor das ocasiões de sua vida.
Notei que eu estava andando maquinalmente em direção ao meu ex-corpo sem vida, com a visão de uma câmera direcionando os ângulos lineares.
Cheirei por alguns segundos a minha ex-cabeça e uma mulher desorientada - agora rodeada de curiosos - me acertou um chute no dorso com o peito do pé. Senti na pele como era a sensação de insidia que sentiam os cachorros em relação aos humanos.
Gritei um palavrão, que saiu como um choro fino sem palavra alguma, só gemidos sufocantes e um rabo fino e liso entre as pernas de trás. Ao menos agora, eu ganhei mais duas pernas, no entanto, perdi dois braços. A despeito da minha aparência, não pude relutar muito; Quando humano, não mantinha relações sexuais já havia um ano inteiro. Agora, entretanto, eu podia bolinar cadelas em qualquer lugar.
Acho que a sensação de liberdade e abstração é comum quando as pessoas morrem, eu mesmo nunca esperava sentir tamanha paz no corpo de um cachorro. Não quis sair do corpo do vira-lata, minha vida de humano não era tão melhor assim. Parei numa árvore, dei uma urinada morna ostentando meus enormes testículos para o mundo e me senti orgulhoso com o volume deste.
Comecei a latir sem parar até controlar minha dicção canina, pois era como aprender a falar de novo. Realizei um desejo a muito ansiado: Comecei a girar o corpo vertiginosamente até encontrar meu rabo, consegui na terceira tentativa, então, mandei um uivo para a ambulância que descia rapidamente com a sirene ligada, cortando caminho por entre os carros e continuei minha divagação.
Ergui a pata direita na faixa de pedestres e atravessei – esqueci que os carros não costumam parar para cachorros felizes atravessarem a rua -, senti o primeiro pneu quebrando cada osso da minha costela, então veio á roda de trás e arrancou um olho que eu quase engoli pelo nariz esmagado, então, breu total.
Súbito abrir de olhos me revelou uma arquitetura respaldada e extremamente dura, coberta de cimento numa circunferência geométrica infinita. O chão tremia e a presença de gigantescas pessoas andando apressadas me assustou. De repente uma sola de sapato triscou minha cabeça, só senti o vento que me jogou um pouco de lado. Fazendo um barulho ensurdecedor.
Uma formiga! Tornei-me uma formiga! Observei dois canos molhados cheios de pelos saindo da minha cabeça e o escuro tomou conta de mim repentinamente. Por alguns segundos pensei estar morto, até que a forte luz me fez fechar os olhos grandes que colavam entre os pelos e a casca da minha pele. Um homem havia passado bem em cima do meu corpo, sorte eu estar dentro daquela greta na calçada. Saí agilmente da greta – que mais parecia uma cratera - e comecei a andar visivelmente – como todas as formigas – desorientado. Agarrei uma folha, não sei diabos o porquê, e segui andando até que a menina, aparentemente feliz, pulando com uma mochila rosa nas costas, me cortasse ao meio como uma fatia de pão. Não consegui ao menos conhecer mais sobre a vida de uma formiga, mas tive o privilégio de por alguns segundos, olhar meu corpo cortado ao meio.
A opinião humana em relação à morte é tão menos cruel do que imaginamos e tão monótona que eu não me surpreenderia em me reencarnar numa célula ou um átomo. Pois agora, depois da experiência de segundos como uma formiga, senti um vento cortando pedaços do meu corpo que pegava fogo, mesmo em grande velocidade e grandes proporções no espaço. Eu estava atravessando o céu negro e a atmosfera terrestre junto com outros meteoros, formando uma intensa chuva incandescente. Os outros que me acompanhavam não pareciam tão assustados. Estavam acostumados com as transformações pós-morte e apreciavam cada um dos infindáveis termos da vida. Agora, a perspectiva de ser uma pedra interplanetária não me agradava muito. No entanto, para minha surpresa, descobri da pior maneira que pedras vindas do cosmo também morrem. Antes mesmo de me chocar com o solo, me desfiz em inúmeros pedaços e só ensejei para abrir os olhos novamente em outro corpo de matéria.
Descobri que para a morte a vida não tinha fronteiras, e agora, eu poderia ser qualquer coisa, um objeto talvez? Não havia ínterim, era morrer e acordar vivo. Experiências que poderiam não voltar mais, como a de ser um humano, esta talvez, seja a mais enigmática.
O silêncio e o escuro já estavam demorando tempo demais para acabar. Eu estava sentindo minha presença, no entanto, sentia-me leve e flutuando num cubículo, sem notar um corpo aparente. Demorou cerca de 20 minutos até o bombardeio de imagens, sons e um imensurável oceano de pensamentos aleatórios se manifestarem.
Fiquei assustado, era inconcebível pensar naquilo. Um cérebro, humano?
E assim como uma conjuração dos meus próprios sentidos, estava eu lá, Tentando manter o controle, enquanto dois buracos longínquos remetiam uma luz vinda do mundo exterior. As imagens eram extremamente nítidas, e os neurônios operários do cérebro não paravam um segundo sequer de trabalhar freneticamente, enquanto a pessoa enviava os comandos fortuitos à ele.
Notei que o corpo estava em movimento, direcionando a uma porta que levava ao banheiro. Escovando os dentes e penteando-se frente ao espelho, pude deslumbrar os traços da face da mulher, que passava um creme no rosto. Será que ela notou algo estranho? Uma presença? Nada! Ela olhava profundamente os próprios olhos, porém, não via além do verde.
Tornar-me uma pedra é uma coisa, agora, infiltrar-me no cérebro de outra pessoa sem poder sair, é outra extremamente diferente.
Quantos anos eu ficaria ali, preso, angustiado e inoperante naquele cérebro? Eu não poderia ter uma vida própria, em qualquer outro corpo, nem que fosse o de uma barata asquerosa?
OITO E DEZESSETE DA MANHÃ
Foi o tempo em que os boatos começaram a ressoar no consciente da moça.
DUAS E VINTE TRÊS DA TARDE
O momento do estampido e do completo silêncio posterior.
O tiro da suicida na própria cabeça me libertou de mais um corpo.
Embasbacado após libertar-me de mais um corpo, ansiei pela próxima empreitada que, por ironia das forças que moviam minha alma às outras, designaram-me ao corpo de uma barata, com as mesmas características daquelas que eu - quando na condição de humano – adorava esmagar, arrancar os bigodes e as pernas, asfixia-las em copos...
Minha visão míope não ajudava a direcionar meu corpo a lugar algum, então andava sem rumo. Eu estava em cima de uma mesa, senti a espessura da toalha e o cheiro de café doce por perto. O instinto me levou até algumas migalhas de pão espalhadas por toda parte, porém, não cheguei a comer. Só vi o reflexo de uma mão que me jogou no chão. Desesperado, passei a correr feito louco, mas o peso de um chinelo me esmagou, e novamente a escuridão impregnou.
Deus cadê você? Gritei enquanto esperava o próximo corpo. Deus e agora em quem ou em quê, reencarnar? Mas ninguém respondia, aliás, eu já havia desacreditado que o arquiteto do universo existia. Afinal, depois das várias transformações inesperadas pós-morte, como acreditar? No entanto, não demorou muito e minha resposta veio como uma folha caindo de uma árvore seca na neve.
- Acalme-se, meu bom homem.
Deus estava do meu lado, sentado numa cadeira de madeira obsoleta, olhando o horizonte branco.
- O que você quer ser agora? Deus era bem preciso, não havia meias-palavras, ia direto ao ponto.
Fiquei nervoso, mas consegui responder com ênfase.
- Só quero meu corpo de volta. Aquele magricelo, com cabelos ruivos encaracolados, e barba falhada. Por favor?!
Eu já estava de saco cheio das reencarnações, pois eu nunca sobrevivia muito tempo para conhecer como era de fato ser de outra casta.
De repente, quando eu ia pedir algumas coisas que eu precisava na terra e perguntar sobre alguns mistérios da humanidade, eu já estava de volta ao meu corpo, á imagem de Deus sumiu, junto à propriedade incomensurável de cor branca que ostentava sua única cadeira antiquada.
Abri devagar e com medo um dos meus olhos, e fechei novamente devido a claridade e a dor de cabeça que me consumia. Quando finalmente consegui firmar o olhar, notei minhas pernas e braços enfaixados e o sorriso da minha mãe, que chorava olhando ora para mim, ora para meu pai que observava perplexo, porém, com olhar feliz para meu corpo desfigurado, enquanto a enfermeira aplicava uma injeção anestésica que me faria dormir em segundos. Ouvi as últimas palavras do mundo exterior ao qual literalmente por milagre retornei: “Este rapaz realmente teve muita sorte dona Fátima”... E a escuridão me engoliu outra vez.
Contribuição do leitor Diego Junior Teodoro, brasileiro sem grandes graduações, sem faculdades, operário decadente, oriundo de uma massa omissa. Consequentemente sem grandes perspectivas para o futuro, assim como grande parte dos cidadãos brasileiros. Escreve para libertar-se de uma prisão individual.
Indescritivelmente um latido involuntário materializou-se em minha cabeça, literalmente dentro dela. Outros sucessivos latidos se formavam feito trovão.
Sim! Minha alma reencarnou-se em um cachorro, um vira-lata! Fui pobre na condição de humano, agora um vira-lata na condição de cão. Era como ser um mendigo na melhor das ocasiões de sua vida.
Notei que eu estava andando maquinalmente em direção ao meu ex-corpo sem vida, com a visão de uma câmera direcionando os ângulos lineares.
Cheirei por alguns segundos a minha ex-cabeça e uma mulher desorientada - agora rodeada de curiosos - me acertou um chute no dorso com o peito do pé. Senti na pele como era a sensação de insidia que sentiam os cachorros em relação aos humanos.
Gritei um palavrão, que saiu como um choro fino sem palavra alguma, só gemidos sufocantes e um rabo fino e liso entre as pernas de trás. Ao menos agora, eu ganhei mais duas pernas, no entanto, perdi dois braços. A despeito da minha aparência, não pude relutar muito; Quando humano, não mantinha relações sexuais já havia um ano inteiro. Agora, entretanto, eu podia bolinar cadelas em qualquer lugar.
Acho que a sensação de liberdade e abstração é comum quando as pessoas morrem, eu mesmo nunca esperava sentir tamanha paz no corpo de um cachorro. Não quis sair do corpo do vira-lata, minha vida de humano não era tão melhor assim. Parei numa árvore, dei uma urinada morna ostentando meus enormes testículos para o mundo e me senti orgulhoso com o volume deste.
Comecei a latir sem parar até controlar minha dicção canina, pois era como aprender a falar de novo. Realizei um desejo a muito ansiado: Comecei a girar o corpo vertiginosamente até encontrar meu rabo, consegui na terceira tentativa, então, mandei um uivo para a ambulância que descia rapidamente com a sirene ligada, cortando caminho por entre os carros e continuei minha divagação.
Ergui a pata direita na faixa de pedestres e atravessei – esqueci que os carros não costumam parar para cachorros felizes atravessarem a rua -, senti o primeiro pneu quebrando cada osso da minha costela, então veio á roda de trás e arrancou um olho que eu quase engoli pelo nariz esmagado, então, breu total.
Súbito abrir de olhos me revelou uma arquitetura respaldada e extremamente dura, coberta de cimento numa circunferência geométrica infinita. O chão tremia e a presença de gigantescas pessoas andando apressadas me assustou. De repente uma sola de sapato triscou minha cabeça, só senti o vento que me jogou um pouco de lado. Fazendo um barulho ensurdecedor.
Uma formiga! Tornei-me uma formiga! Observei dois canos molhados cheios de pelos saindo da minha cabeça e o escuro tomou conta de mim repentinamente. Por alguns segundos pensei estar morto, até que a forte luz me fez fechar os olhos grandes que colavam entre os pelos e a casca da minha pele. Um homem havia passado bem em cima do meu corpo, sorte eu estar dentro daquela greta na calçada. Saí agilmente da greta – que mais parecia uma cratera - e comecei a andar visivelmente – como todas as formigas – desorientado. Agarrei uma folha, não sei diabos o porquê, e segui andando até que a menina, aparentemente feliz, pulando com uma mochila rosa nas costas, me cortasse ao meio como uma fatia de pão. Não consegui ao menos conhecer mais sobre a vida de uma formiga, mas tive o privilégio de por alguns segundos, olhar meu corpo cortado ao meio.
A opinião humana em relação à morte é tão menos cruel do que imaginamos e tão monótona que eu não me surpreenderia em me reencarnar numa célula ou um átomo. Pois agora, depois da experiência de segundos como uma formiga, senti um vento cortando pedaços do meu corpo que pegava fogo, mesmo em grande velocidade e grandes proporções no espaço. Eu estava atravessando o céu negro e a atmosfera terrestre junto com outros meteoros, formando uma intensa chuva incandescente. Os outros que me acompanhavam não pareciam tão assustados. Estavam acostumados com as transformações pós-morte e apreciavam cada um dos infindáveis termos da vida. Agora, a perspectiva de ser uma pedra interplanetária não me agradava muito. No entanto, para minha surpresa, descobri da pior maneira que pedras vindas do cosmo também morrem. Antes mesmo de me chocar com o solo, me desfiz em inúmeros pedaços e só ensejei para abrir os olhos novamente em outro corpo de matéria.
Descobri que para a morte a vida não tinha fronteiras, e agora, eu poderia ser qualquer coisa, um objeto talvez? Não havia ínterim, era morrer e acordar vivo. Experiências que poderiam não voltar mais, como a de ser um humano, esta talvez, seja a mais enigmática.
O silêncio e o escuro já estavam demorando tempo demais para acabar. Eu estava sentindo minha presença, no entanto, sentia-me leve e flutuando num cubículo, sem notar um corpo aparente. Demorou cerca de 20 minutos até o bombardeio de imagens, sons e um imensurável oceano de pensamentos aleatórios se manifestarem.
Fiquei assustado, era inconcebível pensar naquilo. Um cérebro, humano?
E assim como uma conjuração dos meus próprios sentidos, estava eu lá, Tentando manter o controle, enquanto dois buracos longínquos remetiam uma luz vinda do mundo exterior. As imagens eram extremamente nítidas, e os neurônios operários do cérebro não paravam um segundo sequer de trabalhar freneticamente, enquanto a pessoa enviava os comandos fortuitos à ele.
Notei que o corpo estava em movimento, direcionando a uma porta que levava ao banheiro. Escovando os dentes e penteando-se frente ao espelho, pude deslumbrar os traços da face da mulher, que passava um creme no rosto. Será que ela notou algo estranho? Uma presença? Nada! Ela olhava profundamente os próprios olhos, porém, não via além do verde.
Tornar-me uma pedra é uma coisa, agora, infiltrar-me no cérebro de outra pessoa sem poder sair, é outra extremamente diferente.
Quantos anos eu ficaria ali, preso, angustiado e inoperante naquele cérebro? Eu não poderia ter uma vida própria, em qualquer outro corpo, nem que fosse o de uma barata asquerosa?
OITO E DEZESSETE DA MANHÃ
Foi o tempo em que os boatos começaram a ressoar no consciente da moça.
DUAS E VINTE TRÊS DA TARDE
O momento do estampido e do completo silêncio posterior.
O tiro da suicida na própria cabeça me libertou de mais um corpo.
Embasbacado após libertar-me de mais um corpo, ansiei pela próxima empreitada que, por ironia das forças que moviam minha alma às outras, designaram-me ao corpo de uma barata, com as mesmas características daquelas que eu - quando na condição de humano – adorava esmagar, arrancar os bigodes e as pernas, asfixia-las em copos...
Minha visão míope não ajudava a direcionar meu corpo a lugar algum, então andava sem rumo. Eu estava em cima de uma mesa, senti a espessura da toalha e o cheiro de café doce por perto. O instinto me levou até algumas migalhas de pão espalhadas por toda parte, porém, não cheguei a comer. Só vi o reflexo de uma mão que me jogou no chão. Desesperado, passei a correr feito louco, mas o peso de um chinelo me esmagou, e novamente a escuridão impregnou.
Deus cadê você? Gritei enquanto esperava o próximo corpo. Deus e agora em quem ou em quê, reencarnar? Mas ninguém respondia, aliás, eu já havia desacreditado que o arquiteto do universo existia. Afinal, depois das várias transformações inesperadas pós-morte, como acreditar? No entanto, não demorou muito e minha resposta veio como uma folha caindo de uma árvore seca na neve.
- Acalme-se, meu bom homem.
Deus estava do meu lado, sentado numa cadeira de madeira obsoleta, olhando o horizonte branco.
- O que você quer ser agora? Deus era bem preciso, não havia meias-palavras, ia direto ao ponto.
Fiquei nervoso, mas consegui responder com ênfase.
- Só quero meu corpo de volta. Aquele magricelo, com cabelos ruivos encaracolados, e barba falhada. Por favor?!
Eu já estava de saco cheio das reencarnações, pois eu nunca sobrevivia muito tempo para conhecer como era de fato ser de outra casta.
De repente, quando eu ia pedir algumas coisas que eu precisava na terra e perguntar sobre alguns mistérios da humanidade, eu já estava de volta ao meu corpo, á imagem de Deus sumiu, junto à propriedade incomensurável de cor branca que ostentava sua única cadeira antiquada.
Abri devagar e com medo um dos meus olhos, e fechei novamente devido a claridade e a dor de cabeça que me consumia. Quando finalmente consegui firmar o olhar, notei minhas pernas e braços enfaixados e o sorriso da minha mãe, que chorava olhando ora para mim, ora para meu pai que observava perplexo, porém, com olhar feliz para meu corpo desfigurado, enquanto a enfermeira aplicava uma injeção anestésica que me faria dormir em segundos. Ouvi as últimas palavras do mundo exterior ao qual literalmente por milagre retornei: “Este rapaz realmente teve muita sorte dona Fátima”... E a escuridão me engoliu outra vez.
Contribuição do leitor Diego Junior Teodoro, brasileiro sem grandes graduações, sem faculdades, operário decadente, oriundo de uma massa omissa. Consequentemente sem grandes perspectivas para o futuro, assim como grande parte dos cidadãos brasileiros. Escreve para libertar-se de uma prisão individual.
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