EITA: O Nascimento de um Sarau de Poesia em SP
A PARIÇÃO DO "EITA" EM SÃO PAULO!
por Altair de Oliveira.
Tivemos a satisfação de poder participar de um belíssimo sarau de poesia denominado EITA na noite deste último 17 de setembro na cidade de São Paulo e, para nossa surpresa, fomos informado de que aquela era apenas a segunda apresentação do evento que, comandado por 5 belas garotas, surgia com força para, mensalmente, ajudar ainda mais alegrar com poesia as noites paulistanas.
São Paulo é tida por muitos como a capital cultural da América Latina, e esteve sempre envolvida com as vanguardas culturais e com os movimentos literários de nosso país. Atuaualmente a cidade está povoada por vários saraus culturais ou lítero-musicais, onde a poesia é o carro chefe de várias manifestções artísticas que podem se tornar acessível aos frequentadores de bares, cafés, escolas e etc. Segundo um mapeamento feito pelo estado de São Paulo, existe hoje mais de 60 saraus deste tipo em atividade em "Sampa", onde, como dizia Cetano, a poesia parece surgir concretamente de cada esquina.
Este fenômeno da volta dos saraus em nossas vidas não parece ser uma característica específica da capital paulista pois, por experiência própria, sabemos que eles estão acontecendo em vários cidades de vários estados brasileiros e, para o bem da poesia, esta tendência pode aumentar. Só que, diferentemente dos saraus que aconteciam no final do século XIX e início do século XX, os saraus atuais, menos burgueses, tendem popularizar a poesia. Se isto vai aumentar ou não a pequena quantidade de leitores de poesia no Brasil só o tempo dirá. Mas é fato que a poesia falada é uma grande arma para aliciar novos apreciadores da arte da palavra, além disso, ela é um bom termômetro para que os autores possam testar se a poesia que escrevem tem realmente um eco com o público.
Reunindo poesia, música, teatro, dança em um bar ou café, os saraus lítero-musicais se apresentam como um programa cultural barato e de grande entretenimento onde várias tribos podem compartilhar de uma verdadeira confraternização pelas artes. No caso do EITA sarau, estas características já nasceram fortes, devido ao ótimo nível dos artistas participantes e ao carisma das organizadoras. Para quem gosta principalmente de poesia e de música, este tipo de evento é "o cara!", não percam então uma oportunidade de participar de um sarau! Eita, loga vida para vocês!
Aproveitamos então esta oportunidade para entrevistar este quinteto de moças, criadoras e promotoras do jovem e promissor "EITA sarau!" e, desta forma, aprender um pouco mais sobre a abertura e funcionamento desta magnífica reinvenção cultural de nosso dias, o Sarau de Poesia.
Eita! Quem são as moças do sarau!?
Paula Martins: bailarina, educadora, poeta, etc
AnaCris: socióloga, pesquisadora, poeta (e enxirida)
Solange: atriz, fotógrafa, poeta (e brincalhona...rs)
Maria do Carmo: terapeuta da medicina chinesa, poeta e contista.
Marise: consultora, amante das artes, da poesia e das relações humanas.
A ENTREVISTA:
PC1- "Eita" é uma interjeição de espanto, quase sempre de espanto gostoso, o que tem tudo a ver com a poesia. Mas como surgiu este interessante nome EITA para vocês nominarem o sarau?
EITA1 - Nos reunimos para escolher o nome e desenhar o formato do sarau, que objetivos queríamos para ele, etc. Fizemos várias sugestões, mas nada agradava à todas. A Ana Cris cismou que tinha de ser uma sigla (tentamos criar algo com TPM, inclusive! Rs). Até que, pensando no fato de termos definido que o sarau buscaria integrar todas as artes, ela veio com EITA – Encontro Integrado de Todas as Artes. Bingo! O grupo fechou na hora.
PC2- Vocês já tinham experiência com saraus de poesia: organizando, participando, e etc. O que as motivou a montarem o seu próprio sarau?
EITA2- Bem, tudo começou com um convite do Julinho Camargo, dono do espaço onde o EITA é realizado, o Julinho Clube, num bate papo com a Ana Cris.
Ana Cris: eu enrolei o Julinho um bom tempo! Rs. Eu nem declamava ainda! Só freqüentava os saraus e adorava! Mas como eu ia apresentar um sarau se nem subia num palco? Aí, veio a idéia de convidar as meninas, companheiras de saraus, chás e cafezinhos, amantes das artes e da poesia e, cada vez mais, amigas. A Solange Mazzeto (poeta e atriz) já tinha experiência de quase 4 anos com o Sarau Sopa de Letrinhas, na produção e como ajudante de palco. Maria do Carmo Antunes (poeta e contista), Paulinha Martins (também poeta dançarina) e Marise Lopes (que usa a poesia no seu trabalho) também já conheciam bem alguns saraus da cidade. Por fim, eu perdi o medo do palco e entre começar a declamar e apresentar o EITA foram alguns meses.
Mas todas concordam que o desejo de fazer um sarau diferente, voltado para as artes em geral – ainda que a poesia prevaleça, até porque ela está presente em todas as artes – foi o grande motivador.
PC3- Percebi que vocês fazem um sarau temático, onde os poemas e as apresentações devem estar voltados a determinado tema, previamente definido. Isto não limita o interesse dos participantes num evento como este?
EITA3- A idéia de um sarau temático veio por 2 razões: ser diferente - porque não havia nenhum sarau assim em São Paulo (apenas o Sarau do Povo, em Diadema que já nem existe mais) e porque consideramos que seria uma boa maneira de ‘integrar as artes e os artistas’, um dos objetivos que traçamos para o sarau.
Até tivemos esse receio e houve quem dissesse (que o tema limitaria). Por isso, procuramso escolher temas bastante amplos, mas acima de tudo, o tema não é fechado! Deixamos livre para quem não quiser usá-lo ou não tiver nada à respeito ou mesmo preferir fazer outra coisa. Não é e nem queremos que seja uma obrigação! É um divertimento. Por fim, o que temos percebido é que, para muitos, é uma espécie de “desafio” e a grande maioria se empenha em trazer algo do tema, seja escrevendo especialmente ou até pesquisando outros autores. Isso acaba enriquecendo mais do que limitando! Nós mesmas temos o trabalho de pesquisar sobre o tema, trazendo textos que colocamos na ‘caixinha’ do EITA, que é outro elemento de interação. Na ‘caixinha2019 são colocados textos que os freqüentadores podem ler, mesmo que tragam algo seu. A idéia da caixinha é também encorajar quem não escreve a se aventurar no palco também!
PC4- São Paulo hoje tem um grande número de saraus de poesia acontecendo periodicamente em vários pontos da cidade. Vocês acham que ainda há espaço para se divulgar a poesia aqui?
EITA4- Sim, até porque tem muita gente que não conhece poesia e nem sabem que existem os saraus! Quando convidamos pessoas que nunca foram, desperta curiosidade e quase sempre viram freqüentadores assíduos de alguns saraus. Além disso, muitos saraus ocorrem em pontos afastados da cidade (a tal ‘periferia’) e acabam sendo freqüentados pela comunidade ao redor, portanto têm públicos diferentes e ações e objetivos diferenciados também. A localização também é fator importante. Por isso, a maioria dos públicos tende a fundir-se em alguns, mas são diferentes em vários outros. Nós vemos que o movimento ainda não chegou ao seu ápice e, portanto, ainda há espaço para crescer.
PC5- Poderíamos falar que hoje já existe um público para os saraus de poesia? Ou o público dos saraus de poesia ainda acaba sendo os próprios poetas, apludindo-se uns aos outros?
EITA5: Existe um público sim, ainda pequeno, mas em formação e pode aumentar. Existem pessoas que não escrevem e não declamam, mas não perdem o sarau que mais apreciam por nada. É verdade que boa parte é formada pelos poetas, mas muitos também começaram como ouvintes e hoje participam (casos da Ana Cris, Maria do Carmo e Paula Martins, por exemplo!). Isso é um movimento que vai além de ter um público ‘expectador’, porque a tendência é que o freqüentador passe a participar, mesmo que seja lendo textos alheios. Há também os que se encorajam a escrever, aprendem com os poetas mais ‘antigos’, passam a participar de oficinas e até viram parceiros em músicas!
Solange: conheço gente que tava viajando de férias e voltou antes pra não perder o sarau, isso é gente que ama poesia, teatro, dança, música... e ama sorrir e se emocionar!
PC6- Quais as tarefas básicas que devem ser feitas para que se programe, divulgue e execute um bom sarau de poesia?
EITA6- Precisa primeiro investimento de tempo. Bom humor, comprometimento, sensibilidade para lidar com pessoas, espírito agregador, amor à arte e à poesia. Ter um espaço (ou fazer uma boa parceria com um espaço) ter uma boa rede de relacionamentos e disponibilidade para divulgar e incentivar as pessoas a irem!
No nosso caso, há o trabalho de pesquisa prévio para guarnecer a ‘caixinha’, além de ‘bolarmos’ sempre alguma performance do grupo, (geralmente de teatro ou dança). Fazemos reuniões de trabalho e criamos e alimentamos quase diariamente o blog do EITA para manter o sarau vivo entre uma edição e outra, e permitir até a participação de escritores que não moram em São Paulo.
PC7- Vocês 5, juntas, fazem todas as atividades do sarau, correto? Mas há algum gerenciamento nisto? Por exemplo, vocês dividem previamente as tarefas de cada sarau entre si ou elegem uma coordenadora para aquele sarau específico?
EITA7- Fazemos tudo juntas, tudo é discutido e acordado em reuniões de trabalho feitas semanas antes de cada sarau, que duram umas 3 horas. Imagina fazer 5 juntas mulheres tomarem decisões? Pois é, não é nada fácil! Rsrsrs.
Mas cada uma acaba contribuindo mais intensamente em um ou vários setores, dependendo do talento, experiência, tempo disponível ou jeito para a coisa... rs. A Marise cuida da administração do Blog do EITA e faz contatos virtuais pela blogosfera, além de pesquisar textos e ajudar em questões organizacionais. A Paula atua e faz performances de dança e também contribui com alguma tarefa durante o sarau (cuida da lista de inscritos, de algum item de organização, etc). A Maria do Carmo, ajuda na pesquisa de textos do tema, também se reveza com a lista e recepção dos freqüentadores, etc. A Ana Cris apresenta o sarau, ajuda na produção (imprime os textos da caixinha, por exemplo), divulga e, por vezes, faz flyers e/ou textos de divulgação ou para o sarau. A Solange (que além de atriz, é fotógrafa) atua e bola performances de teatro, também faz flyers e/ ou textos, faz divulgação e durante o sarau é responsável por registrar o EITA através de fotografias e/ou vídeos!
Solange: a AnaCris é mais a ‘cabeça’ do grupo. É ela que cuida pra que tudo fique mais organizadinho, quando as idéias pululam demais, aí então ela dá o ‘grito’ final. Rsrs
PC8- Sabemos que para o trabalho de reunir artistas diversos num mesmo palco, principalmente poetas, é preciso muita diplomacia e alguma regra. Isto para que não haja conflitos de interesses ou de ego que venham a enfraquecer ou inviabilizar a longevidade do projeto. Sabemos também que o sarau de vocês está apenas começando e já veio com grande força. Mas o que vocês planejaram para garantir ou para assegurar este sucesso por longo tempo?
EITA8- A gente não pensa em longo prazo, mas em curto prazo. A cada mês, temos planos e muitos, e os revemos após cada sarau. Mas o interesse das pessoas vem do interesse que o sarau desperta, tanto pela forma como são tratadas, como pelos atrativos. As pessoas precisam sentir-se acolhidas e respeitadas, além de perceber atrativos que, podem ser, por exemplo, as nossas performances, nossa simpatia, o local e até as amizades e pessoas que encontram ali. Sentir que todos têm a mesma importância é essencial. Até porque o organizador do sarau dá o ‘tom’, mas em última instancia, o sarau é feito pelas pessoas que o freqüentam. A única coisa que pensamos é em fazer o nosso melhor, corrigir rotas se for necessário e dentro do que propomos como objetivos principais para o sarau e estar atentas às opiniões dos próprios freqüentadores, mas sabendo que não dá para agradar a gregos e troianos.
PC9- A poesia é tida como um das artes mais libertárias que existe, por trabalhar diretamente com as palavras, ela pode levar a liberdade de expressão às últimas conseqüências. Partindo disto, qual é a ética da poética do sarau de vocês? Poderia, por exemplo, alguém chegar e declamar um RAP ou uma história de cordel de 45 minutos, ou então declamar poemas pornográficos, religiosos ou discriminatórios?
EITA9- Por definição, o sarau, é palco livre e aberto. Assim quase todos são e assim funcionam! E quase todos têm algumas regrinhas, uns mais rígidos, outro menos. Em geral, as regras só dizem respeito ao tempo. Por exemplo, pedimos para fazer de 1 a 2 poemas/ textos pra que todos tenham espaço. Pode ser até necessário limitar mais, dependendo da quantidade de inscritos para se apresentar ou até pode rolar várias ‘rodadas’, se houver poucas pessoas. Dois textos, se não forem muito longos e 1 apenas se for maior. Geralmente, os freqüentadores já têm essa ‘noção’ e, os que não têm, vão aprendendo e a gente vai orientando durante o sarau. Um conto ou contação de estória pode se estender mais, mas isso é pelo tipo de texto, geralmente mais longo. Bom senso é o que pedimos, mas mesmo o tal ‘bom senso’, pode variar de pessoa para pessoa. Costuma funcionar, com raríssimas exceções. Algumas pessoas que querem aparecer mais de todo jeito, sempre aparecem... rs. Mas a gente não deve cortar nem tolher. No máximo mandamos ‘recadinhos’ gerais durante o sarau. Quanto ao teor/ conteúdo, é livre mesmo! Pode ser RAP, pornô, religioso, tá tudo liberado. No caso do EITA o horário e local propiciam abertura, pois apenas adultos freqüentam (é um bar). Há casos em que o local é freqüentado por crianças (seja pelo horário ou por ser um local público) e o bom senso, mas também algum direcionamento do apresentador, podem ser necessários.
O próprio público acaba filtrando, aplaudindo mais ou não e às vezes podem ocorrer manifestações diretas dos próprios ouvintes/ colegas. Os saraus acabam indo mais para algum tipo de texto ou tendência literária: há saraus mais ‘Rap’, outros mais politizados, outros mais românticos, outros ainda mais acadêmicos e até os mais híbridos/ sem uma tendência definida. Nada impede a mistura e nem que um rapper ou cordelista, por exemplo, não será bem recebido em um espaço mais acadêmico.
Ana Cris: Já vi essa troca ocorrer de uma forma muito amistosa e até gerar parcerias inusitadas.
PC10- A programação para a participação do EITA Sarau é previamente agendada, ou alguém pode aparecer lá no dia do evento e se inscrever para participar na hora?
EITA10- É livre, é só aparecer e botar o nome na lista à chegada. O que pode eventualmente ocorrer é termos algum convidado especial – para alguma performance diferente - mas quem chegar e quiser, se apresenta e pronto!
PC11- Gostaria que vocês nos informassem onde e quando acontece o EITA sarau. Se possível, que nos fornecessem dicas de como acessar o local a partir de ônibus ou metrô ou ainda se existe um site ou email onde se pudesse buscar estas informações.
EITA11- O EITA ocorre todas as 2as terças-feiras do mês, com possibilidade de mudança quando cai em um feriado ou no meio de um feriado prolongado. O próximo, por exemplo, será na 1ª terça, 5 de outubro, porque dia 12 é feriado e aqui em Sampa o povo ‘foge’ da cidade para o litoral.
O local, o Julinho Clube, é muito aconchegante, decorado com vinil e fotos de cantores e artistas brasileiros, e fica bem no coração dos bairros mais cheios de bares e intelectuais da cidade: Pinheiros-Vila Madalena. Rua Mourato Coelho, 585, entre as ruas Cardeal Arcoverde e Teodoro Sampaio, que são as principais vias de Pinheiros. A região é farta em transporte público e é de fácil acesso. Os metrôs mais próximos (Clínicas e Sumaré) dão uma caminhadinha de 20 min. a pé, mas têm também ônibus que deixam bem perto, vindos de todos os bairros da cidade. Serviço de utilidade pública (rs): a melhor forma de procurar é pelo Google Maps, colocando endereço de destino e de origem, de carro, a pé ou de transporte público, dá ótimas e detalhadas orientações para qualquer ponto da cidade.
PC12- Agora, se possível, gostaria de poder contar com a opinião de cada uma de vocês nesta questão. Por que vocês acham que as pessoas estão indo ou deveriam ir mais aos saraus, especificamente aos saraus de poesia?
EITA12- Nós falamos pelos saraus em geral, não só os de poesia, embora estes sejam maioria e/ou a poesia prevaleça na maioria deles. Os saraus são reuniões de relacionamento, de troca de informações e experiências, conhecimento e arte. Em última instância, o sarau contribui para reunir pessoas em um espaço e em torno de algo em comum: a arte, nas suas variadas manifestações: literatura (poesia, contos, crônicas), música, teatro, dança... e as pessoas tanto assistem como participam.
As razões das pessoas são variadas: há pessoas vão pela alegria e descontração, pela possibilidade de interação com pares e/ou outros artistas, para prestigiar arte, em especial a literatura, para se reunir com/encontrar amigos, para conhecer e interagir com artistas e/ou pessoas com as quais tenham afinidades específicas, para ouvir/ degustar a palavra na forma de poesia ou outras, para troca de experiências entre os poetas e artistas.
Acreditamos que as pessoas deveriam ir mais para apreciar e prestigiar a arte produzida pelo ‘cidadão comum’ e pelos artistas ditos alternativos, que não estão da grande mídia e que são tão bons ou melhores que essa arte massificada. Para também tirar o estigma de que sarau e poesia é algo elitizado e para poucos. Hoje cada vez mais os saraus também têm uma função sócio-cultural, de formação de novos leitores (e porque não, de novos escritores?), e está se tornando uma das várias ‘mídias alternativas’ para divulgação de escritores e outros artistas.
***
DOIS POEMAS:
TEATRO
mundos…mudei
fiz da pausa, o pesadelo
da bruma, a ciência
debrucei na janela da vida
plantei gerânios
vermelhos
distribui lágrimas
cinzas
fiz do meu terraço
pontes
refiz a lua
nas quinhentas voltas
no abutre revi a luz
fiquei sentada
dolorida
levantei
sorrindo
enxuguei a cisma
amei
nossa, como amei
e
por fim
enquanto ouço aplausos
eu
vivo
respiro
e dôo
calor
em meio a exibições explicitas de amor
Poema de Solange Mazzeto
***
PRA TE OLHAR NO OLHO
Pra te olhar no olho
faço e desfaço laços
e dou mil volteios
Nem rima escolho
Me viro do avesso
teus versos enlaço
quem sabe (me) vês
além dos nós e atavios
sem tinta e adereço
e tropeças no desvario
dos meus anseios
de uma vez.
Poema de AnaCris Martins
***
Para saber mais, visitem o blog do Eita Sarau: www.eitasarau.wordpress.com
Para ver o mapeamento dos saraus em SP: http://www.igroup.com.br/arquivos/clube/mapa_dos_saraus.pdf
Ilustrações: 1- foto da inauguração do EITA Sarau; 2- foto das organizadoras Paula Martins e AnaCris; 3- foto das organizadoras Maria do Carmo e Solange; 4- foto da interpretação mímica para leitura de um conto do escritor Ricardo Kelmer.
Altair de Oliveira (poesia.comentada@gmail.com), poeta, escreve às segundas-feiras no ContemporARTES. Contará com a colaboração de Marilda Confortin (Sul), Rodolpho Saraiva (RJ / Leste) e Patrícia Amaral (SP/Centro Sul).
por Altair de Oliveira.
Tivemos a satisfação de poder participar de um belíssimo sarau de poesia denominado EITA na noite deste último 17 de setembro na cidade de São Paulo e, para nossa surpresa, fomos informado de que aquela era apenas a segunda apresentação do evento que, comandado por 5 belas garotas, surgia com força para, mensalmente, ajudar ainda mais alegrar com poesia as noites paulistanas.
São Paulo é tida por muitos como a capital cultural da América Latina, e esteve sempre envolvida com as vanguardas culturais e com os movimentos literários de nosso país. Atuaualmente a cidade está povoada por vários saraus culturais ou lítero-musicais, onde a poesia é o carro chefe de várias manifestções artísticas que podem se tornar acessível aos frequentadores de bares, cafés, escolas e etc. Segundo um mapeamento feito pelo estado de São Paulo, existe hoje mais de 60 saraus deste tipo em atividade em "Sampa", onde, como dizia Cetano, a poesia parece surgir concretamente de cada esquina.
Este fenômeno da volta dos saraus em nossas vidas não parece ser uma característica específica da capital paulista pois, por experiência própria, sabemos que eles estão acontecendo em vários cidades de vários estados brasileiros e, para o bem da poesia, esta tendência pode aumentar. Só que, diferentemente dos saraus que aconteciam no final do século XIX e início do século XX, os saraus atuais, menos burgueses, tendem popularizar a poesia. Se isto vai aumentar ou não a pequena quantidade de leitores de poesia no Brasil só o tempo dirá. Mas é fato que a poesia falada é uma grande arma para aliciar novos apreciadores da arte da palavra, além disso, ela é um bom termômetro para que os autores possam testar se a poesia que escrevem tem realmente um eco com o público.
Reunindo poesia, música, teatro, dança em um bar ou café, os saraus lítero-musicais se apresentam como um programa cultural barato e de grande entretenimento onde várias tribos podem compartilhar de uma verdadeira confraternização pelas artes. No caso do EITA sarau, estas características já nasceram fortes, devido ao ótimo nível dos artistas participantes e ao carisma das organizadoras. Para quem gosta principalmente de poesia e de música, este tipo de evento é "o cara!", não percam então uma oportunidade de participar de um sarau! Eita, loga vida para vocês!
Aproveitamos então esta oportunidade para entrevistar este quinteto de moças, criadoras e promotoras do jovem e promissor "EITA sarau!" e, desta forma, aprender um pouco mais sobre a abertura e funcionamento desta magnífica reinvenção cultural de nosso dias, o Sarau de Poesia.
Eita! Quem são as moças do sarau!?
Paula Martins: bailarina, educadora, poeta, etc
AnaCris: socióloga, pesquisadora, poeta (e enxirida)
Solange: atriz, fotógrafa, poeta (e brincalhona...rs)
Maria do Carmo: terapeuta da medicina chinesa, poeta e contista.
Marise: consultora, amante das artes, da poesia e das relações humanas.
A ENTREVISTA:
PC1- "Eita" é uma interjeição de espanto, quase sempre de espanto gostoso, o que tem tudo a ver com a poesia. Mas como surgiu este interessante nome EITA para vocês nominarem o sarau?
EITA1 - Nos reunimos para escolher o nome e desenhar o formato do sarau, que objetivos queríamos para ele, etc. Fizemos várias sugestões, mas nada agradava à todas. A Ana Cris cismou que tinha de ser uma sigla (tentamos criar algo com TPM, inclusive! Rs). Até que, pensando no fato de termos definido que o sarau buscaria integrar todas as artes, ela veio com EITA – Encontro Integrado de Todas as Artes. Bingo! O grupo fechou na hora.
PC2- Vocês já tinham experiência com saraus de poesia: organizando, participando, e etc. O que as motivou a montarem o seu próprio sarau?
EITA2- Bem, tudo começou com um convite do Julinho Camargo, dono do espaço onde o EITA é realizado, o Julinho Clube, num bate papo com a Ana Cris.
Ana Cris: eu enrolei o Julinho um bom tempo! Rs. Eu nem declamava ainda! Só freqüentava os saraus e adorava! Mas como eu ia apresentar um sarau se nem subia num palco? Aí, veio a idéia de convidar as meninas, companheiras de saraus, chás e cafezinhos, amantes das artes e da poesia e, cada vez mais, amigas. A Solange Mazzeto (poeta e atriz) já tinha experiência de quase 4 anos com o Sarau Sopa de Letrinhas, na produção e como ajudante de palco. Maria do Carmo Antunes (poeta e contista), Paulinha Martins (também poeta dançarina) e Marise Lopes (que usa a poesia no seu trabalho) também já conheciam bem alguns saraus da cidade. Por fim, eu perdi o medo do palco e entre começar a declamar e apresentar o EITA foram alguns meses.
Mas todas concordam que o desejo de fazer um sarau diferente, voltado para as artes em geral – ainda que a poesia prevaleça, até porque ela está presente em todas as artes – foi o grande motivador.
PC3- Percebi que vocês fazem um sarau temático, onde os poemas e as apresentações devem estar voltados a determinado tema, previamente definido. Isto não limita o interesse dos participantes num evento como este?
EITA3- A idéia de um sarau temático veio por 2 razões: ser diferente - porque não havia nenhum sarau assim em São Paulo (apenas o Sarau do Povo, em Diadema que já nem existe mais) e porque consideramos que seria uma boa maneira de ‘integrar as artes e os artistas’, um dos objetivos que traçamos para o sarau.
Até tivemos esse receio e houve quem dissesse (que o tema limitaria). Por isso, procuramso escolher temas bastante amplos, mas acima de tudo, o tema não é fechado! Deixamos livre para quem não quiser usá-lo ou não tiver nada à respeito ou mesmo preferir fazer outra coisa. Não é e nem queremos que seja uma obrigação! É um divertimento. Por fim, o que temos percebido é que, para muitos, é uma espécie de “desafio” e a grande maioria se empenha em trazer algo do tema, seja escrevendo especialmente ou até pesquisando outros autores. Isso acaba enriquecendo mais do que limitando! Nós mesmas temos o trabalho de pesquisar sobre o tema, trazendo textos que colocamos na ‘caixinha’ do EITA, que é outro elemento de interação. Na ‘caixinha2019 são colocados textos que os freqüentadores podem ler, mesmo que tragam algo seu. A idéia da caixinha é também encorajar quem não escreve a se aventurar no palco também!
PC4- São Paulo hoje tem um grande número de saraus de poesia acontecendo periodicamente em vários pontos da cidade. Vocês acham que ainda há espaço para se divulgar a poesia aqui?
EITA4- Sim, até porque tem muita gente que não conhece poesia e nem sabem que existem os saraus! Quando convidamos pessoas que nunca foram, desperta curiosidade e quase sempre viram freqüentadores assíduos de alguns saraus. Além disso, muitos saraus ocorrem em pontos afastados da cidade (a tal ‘periferia’) e acabam sendo freqüentados pela comunidade ao redor, portanto têm públicos diferentes e ações e objetivos diferenciados também. A localização também é fator importante. Por isso, a maioria dos públicos tende a fundir-se em alguns, mas são diferentes em vários outros. Nós vemos que o movimento ainda não chegou ao seu ápice e, portanto, ainda há espaço para crescer.
PC5- Poderíamos falar que hoje já existe um público para os saraus de poesia? Ou o público dos saraus de poesia ainda acaba sendo os próprios poetas, apludindo-se uns aos outros?
EITA5: Existe um público sim, ainda pequeno, mas em formação e pode aumentar. Existem pessoas que não escrevem e não declamam, mas não perdem o sarau que mais apreciam por nada. É verdade que boa parte é formada pelos poetas, mas muitos também começaram como ouvintes e hoje participam (casos da Ana Cris, Maria do Carmo e Paula Martins, por exemplo!). Isso é um movimento que vai além de ter um público ‘expectador’, porque a tendência é que o freqüentador passe a participar, mesmo que seja lendo textos alheios. Há também os que se encorajam a escrever, aprendem com os poetas mais ‘antigos’, passam a participar de oficinas e até viram parceiros em músicas!
Solange: conheço gente que tava viajando de férias e voltou antes pra não perder o sarau, isso é gente que ama poesia, teatro, dança, música... e ama sorrir e se emocionar!
PC6- Quais as tarefas básicas que devem ser feitas para que se programe, divulgue e execute um bom sarau de poesia?
EITA6- Precisa primeiro investimento de tempo. Bom humor, comprometimento, sensibilidade para lidar com pessoas, espírito agregador, amor à arte e à poesia. Ter um espaço (ou fazer uma boa parceria com um espaço) ter uma boa rede de relacionamentos e disponibilidade para divulgar e incentivar as pessoas a irem!
No nosso caso, há o trabalho de pesquisa prévio para guarnecer a ‘caixinha’, além de ‘bolarmos’ sempre alguma performance do grupo, (geralmente de teatro ou dança). Fazemos reuniões de trabalho e criamos e alimentamos quase diariamente o blog do EITA para manter o sarau vivo entre uma edição e outra, e permitir até a participação de escritores que não moram em São Paulo.
PC7- Vocês 5, juntas, fazem todas as atividades do sarau, correto? Mas há algum gerenciamento nisto? Por exemplo, vocês dividem previamente as tarefas de cada sarau entre si ou elegem uma coordenadora para aquele sarau específico?
EITA7- Fazemos tudo juntas, tudo é discutido e acordado em reuniões de trabalho feitas semanas antes de cada sarau, que duram umas 3 horas. Imagina fazer 5 juntas mulheres tomarem decisões? Pois é, não é nada fácil! Rsrsrs.
Mas cada uma acaba contribuindo mais intensamente em um ou vários setores, dependendo do talento, experiência, tempo disponível ou jeito para a coisa... rs. A Marise cuida da administração do Blog do EITA e faz contatos virtuais pela blogosfera, além de pesquisar textos e ajudar em questões organizacionais. A Paula atua e faz performances de dança e também contribui com alguma tarefa durante o sarau (cuida da lista de inscritos, de algum item de organização, etc). A Maria do Carmo, ajuda na pesquisa de textos do tema, também se reveza com a lista e recepção dos freqüentadores, etc. A Ana Cris apresenta o sarau, ajuda na produção (imprime os textos da caixinha, por exemplo), divulga e, por vezes, faz flyers e/ou textos de divulgação ou para o sarau. A Solange (que além de atriz, é fotógrafa) atua e bola performances de teatro, também faz flyers e/ ou textos, faz divulgação e durante o sarau é responsável por registrar o EITA através de fotografias e/ou vídeos!
Solange: a AnaCris é mais a ‘cabeça’ do grupo. É ela que cuida pra que tudo fique mais organizadinho, quando as idéias pululam demais, aí então ela dá o ‘grito’ final. Rsrs
PC8- Sabemos que para o trabalho de reunir artistas diversos num mesmo palco, principalmente poetas, é preciso muita diplomacia e alguma regra. Isto para que não haja conflitos de interesses ou de ego que venham a enfraquecer ou inviabilizar a longevidade do projeto. Sabemos também que o sarau de vocês está apenas começando e já veio com grande força. Mas o que vocês planejaram para garantir ou para assegurar este sucesso por longo tempo?
EITA8- A gente não pensa em longo prazo, mas em curto prazo. A cada mês, temos planos e muitos, e os revemos após cada sarau. Mas o interesse das pessoas vem do interesse que o sarau desperta, tanto pela forma como são tratadas, como pelos atrativos. As pessoas precisam sentir-se acolhidas e respeitadas, além de perceber atrativos que, podem ser, por exemplo, as nossas performances, nossa simpatia, o local e até as amizades e pessoas que encontram ali. Sentir que todos têm a mesma importância é essencial. Até porque o organizador do sarau dá o ‘tom’, mas em última instancia, o sarau é feito pelas pessoas que o freqüentam. A única coisa que pensamos é em fazer o nosso melhor, corrigir rotas se for necessário e dentro do que propomos como objetivos principais para o sarau e estar atentas às opiniões dos próprios freqüentadores, mas sabendo que não dá para agradar a gregos e troianos.
PC9- A poesia é tida como um das artes mais libertárias que existe, por trabalhar diretamente com as palavras, ela pode levar a liberdade de expressão às últimas conseqüências. Partindo disto, qual é a ética da poética do sarau de vocês? Poderia, por exemplo, alguém chegar e declamar um RAP ou uma história de cordel de 45 minutos, ou então declamar poemas pornográficos, religiosos ou discriminatórios?
EITA9- Por definição, o sarau, é palco livre e aberto. Assim quase todos são e assim funcionam! E quase todos têm algumas regrinhas, uns mais rígidos, outro menos. Em geral, as regras só dizem respeito ao tempo. Por exemplo, pedimos para fazer de 1 a 2 poemas/ textos pra que todos tenham espaço. Pode ser até necessário limitar mais, dependendo da quantidade de inscritos para se apresentar ou até pode rolar várias ‘rodadas’, se houver poucas pessoas. Dois textos, se não forem muito longos e 1 apenas se for maior. Geralmente, os freqüentadores já têm essa ‘noção’ e, os que não têm, vão aprendendo e a gente vai orientando durante o sarau. Um conto ou contação de estória pode se estender mais, mas isso é pelo tipo de texto, geralmente mais longo. Bom senso é o que pedimos, mas mesmo o tal ‘bom senso’, pode variar de pessoa para pessoa. Costuma funcionar, com raríssimas exceções. Algumas pessoas que querem aparecer mais de todo jeito, sempre aparecem... rs. Mas a gente não deve cortar nem tolher. No máximo mandamos ‘recadinhos’ gerais durante o sarau. Quanto ao teor/ conteúdo, é livre mesmo! Pode ser RAP, pornô, religioso, tá tudo liberado. No caso do EITA o horário e local propiciam abertura, pois apenas adultos freqüentam (é um bar). Há casos em que o local é freqüentado por crianças (seja pelo horário ou por ser um local público) e o bom senso, mas também algum direcionamento do apresentador, podem ser necessários.
O próprio público acaba filtrando, aplaudindo mais ou não e às vezes podem ocorrer manifestações diretas dos próprios ouvintes/ colegas. Os saraus acabam indo mais para algum tipo de texto ou tendência literária: há saraus mais ‘Rap’, outros mais politizados, outros mais românticos, outros ainda mais acadêmicos e até os mais híbridos/ sem uma tendência definida. Nada impede a mistura e nem que um rapper ou cordelista, por exemplo, não será bem recebido em um espaço mais acadêmico.
Ana Cris: Já vi essa troca ocorrer de uma forma muito amistosa e até gerar parcerias inusitadas.
PC10- A programação para a participação do EITA Sarau é previamente agendada, ou alguém pode aparecer lá no dia do evento e se inscrever para participar na hora?
EITA10- É livre, é só aparecer e botar o nome na lista à chegada. O que pode eventualmente ocorrer é termos algum convidado especial – para alguma performance diferente - mas quem chegar e quiser, se apresenta e pronto!
PC11- Gostaria que vocês nos informassem onde e quando acontece o EITA sarau. Se possível, que nos fornecessem dicas de como acessar o local a partir de ônibus ou metrô ou ainda se existe um site ou email onde se pudesse buscar estas informações.
EITA11- O EITA ocorre todas as 2as terças-feiras do mês, com possibilidade de mudança quando cai em um feriado ou no meio de um feriado prolongado. O próximo, por exemplo, será na 1ª terça, 5 de outubro, porque dia 12 é feriado e aqui em Sampa o povo ‘foge’ da cidade para o litoral.
O local, o Julinho Clube, é muito aconchegante, decorado com vinil e fotos de cantores e artistas brasileiros, e fica bem no coração dos bairros mais cheios de bares e intelectuais da cidade: Pinheiros-Vila Madalena. Rua Mourato Coelho, 585, entre as ruas Cardeal Arcoverde e Teodoro Sampaio, que são as principais vias de Pinheiros. A região é farta em transporte público e é de fácil acesso. Os metrôs mais próximos (Clínicas e Sumaré) dão uma caminhadinha de 20 min. a pé, mas têm também ônibus que deixam bem perto, vindos de todos os bairros da cidade. Serviço de utilidade pública (rs): a melhor forma de procurar é pelo Google Maps, colocando endereço de destino e de origem, de carro, a pé ou de transporte público, dá ótimas e detalhadas orientações para qualquer ponto da cidade.
PC12- Agora, se possível, gostaria de poder contar com a opinião de cada uma de vocês nesta questão. Por que vocês acham que as pessoas estão indo ou deveriam ir mais aos saraus, especificamente aos saraus de poesia?
EITA12- Nós falamos pelos saraus em geral, não só os de poesia, embora estes sejam maioria e/ou a poesia prevaleça na maioria deles. Os saraus são reuniões de relacionamento, de troca de informações e experiências, conhecimento e arte. Em última instância, o sarau contribui para reunir pessoas em um espaço e em torno de algo em comum: a arte, nas suas variadas manifestações: literatura (poesia, contos, crônicas), música, teatro, dança... e as pessoas tanto assistem como participam.
As razões das pessoas são variadas: há pessoas vão pela alegria e descontração, pela possibilidade de interação com pares e/ou outros artistas, para prestigiar arte, em especial a literatura, para se reunir com/encontrar amigos, para conhecer e interagir com artistas e/ou pessoas com as quais tenham afinidades específicas, para ouvir/ degustar a palavra na forma de poesia ou outras, para troca de experiências entre os poetas e artistas.
Acreditamos que as pessoas deveriam ir mais para apreciar e prestigiar a arte produzida pelo ‘cidadão comum’ e pelos artistas ditos alternativos, que não estão da grande mídia e que são tão bons ou melhores que essa arte massificada. Para também tirar o estigma de que sarau e poesia é algo elitizado e para poucos. Hoje cada vez mais os saraus também têm uma função sócio-cultural, de formação de novos leitores (e porque não, de novos escritores?), e está se tornando uma das várias ‘mídias alternativas’ para divulgação de escritores e outros artistas.
***
DOIS POEMAS:
TEATRO
mundos…mudei
fiz da pausa, o pesadelo
da bruma, a ciência
debrucei na janela da vida
plantei gerânios
vermelhos
distribui lágrimas
cinzas
fiz do meu terraço
pontes
refiz a lua
nas quinhentas voltas
no abutre revi a luz
fiquei sentada
dolorida
levantei
sorrindo
enxuguei a cisma
amei
nossa, como amei
e
por fim
enquanto ouço aplausos
eu
vivo
respiro
e dôo
calor
em meio a exibições explicitas de amor
Poema de Solange Mazzeto
***
PRA TE OLHAR NO OLHO
Pra te olhar no olho
faço e desfaço laços
e dou mil volteios
Nem rima escolho
Me viro do avesso
teus versos enlaço
quem sabe (me) vês
além dos nós e atavios
sem tinta e adereço
e tropeças no desvario
dos meus anseios
de uma vez.
Poema de AnaCris Martins
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Para saber mais, visitem o blog do Eita Sarau: www.eitasarau.wordpress.com
Para ver o mapeamento dos saraus em SP: http://www.igroup.com.br/arquivos/clube/mapa_dos_saraus.pdf
Ilustrações: 1- foto da inauguração do EITA Sarau; 2- foto das organizadoras Paula Martins e AnaCris; 3- foto das organizadoras Maria do Carmo e Solange; 4- foto da interpretação mímica para leitura de um conto do escritor Ricardo Kelmer.
Altair de Oliveira (poesia.comentada@gmail.com), poeta, escreve às segundas-feiras no ContemporARTES. Contará com a colaboração de Marilda Confortin (Sul), Rodolpho Saraiva (RJ / Leste) e Patrícia Amaral (SP/Centro Sul).
4 comentários:
Olá Altair, um 'viva' pra nós todos. Grata pela sua gentileza e generosidade viu! Quando vier pra Sampa, venha no Eita novamente, será sempre bem vindo!
4 de outubro de 2010 às 12:59Aos demais que estão lendo e conhecendo um pouco sobre o Sarau Eita, da qual faço parte, deixo meu convite estendido.
Um beijo Altair e um abraço para todos que passarem por aqui!
Solange Mazzeto
Mas estas meninas estão importantes! Que delícia isso!
4 de outubro de 2010 às 16:34Adoro vcs, o EITA! e o Altair, é claro!
Desejo sucesso e longa vida à este Sarau, estou feliz em participar dele. Sinto q ele veio p ficar.
E até amanhã!
Altair, venha tb!
beijos
Joyce Néia
Altair,
5 de outubro de 2010 às 14:03ficou mará a entrevista!
hoje tem o 3o EITA, O Teatro Nosso de cada dia!
tudo pelo amor à arte e à poesia sempre presente nela!
Você vai fazer falta hoje, viu?
obrigada pelo carinho e acolhida ao nosso trabalho.
beijo grande!
Eita que povo bom e que coisa boa este movimento - já se pode dizer isto não é mesmo, uma vez que vemos reproduzirem-se saraus pela cidade!!! E acho que eles vieram para ficar!!! Muito interessante a proposta do grupo!!! Gostei muito!!Sucessom que dedicado ao grupo e à revista que sempre nos atualiza em eventos e acontecimentos culturais.
8 de outubro de 2010 às 18:03Postar um comentário
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