EM RISCO DE PALAVRA
Hoje a coluna INcontros traz uma contribuição preciosa, um texto da querida professora Glória Kirinus.*
"Cabeça, tronco, extremidades e palavra...
Encarnada, na vasta unidade do corpo, a palavra faz p(arte) de nossa condição humana. Ela integra e revela, sabiamente, uma cartografia inquieta de necessidades e desejos do Ser diante do mundo e diante de si mesmo. Como estranho registro de identidade, ou variante eficaz do DNA, nosso acervo pessoal de palavras congrega a condição filo-onto-genética que nos sustenta.
Assim, afetos e desafetos; tramas e traumas; medos e coragens, entre outros sentimentos fundamentais, registrariam uma gramática pessoal que numa somática singular, semantiza corpo e alma.
Cada vez que me toca solicitar aos integrantes da minha oficina itinerante - Lavra-Palavra - que resgatem do fundo do baú da memória uma palavra da infância, presto especial atenção à postura do corpo diante da palavra somatizada do participante: muda o timbre da voz, alguns ficam curvados, outros parecem elevar-se; alguns ruborizados, outros pálidos.
Uns afundam os pés no chão, outros brincam nervosamente com eles. E os joelhos? Como não lembrar, então, das palavras bíblicas do evangelho de São João, percebendo o verbo intensamente habitado e feito carne, feito sujeito do discurso-memória, do discurso-sentido, do discurso-mundo?
Manifestação estudantil - UFPR Foto: Izabel Liviski |
Cada vez que me toca solicitar aos integrantes da minha oficina itinerante - Lavra-Palavra - que resgatem do fundo do baú da memória uma palavra da infância, presto especial atenção à postura do corpo diante da palavra somatizada do participante: muda o timbre da voz, alguns ficam curvados, outros parecem elevar-se; alguns ruborizados, outros pálidos.
Uns afundam os pés no chão, outros brincam nervosamente com eles. E os joelhos? Como não lembrar, então, das palavras bíblicas do evangelho de São João, percebendo o verbo intensamente habitado e feito carne, feito sujeito do discurso-memória, do discurso-sentido, do discurso-mundo?
Recepção de calouros - UFPR Foto: Izabel Liviski |
Manifestação estudantil - UFPR Foto: Izabel Liviski |
Como educadores percebemos que a palavra está longe desta percepção encarnada e substancial, na escrita e na oralidade de nossos acadêmicos das tão Humanas ciências - área de Letras, de Pedagogia, de Filosofia, de História, de Sociologia, de Comunicação - justamente aqueles que formarão novas gerações de educadores dos educadores de tantas crianças.
Comemoração dos 95 anos da UFPR Foto: Izabel Liviski |
Com que freqüência descobrimos que acadêmicos dos cursos de graduação e até de pós-graduação procuram a facilidade e o imediatismo da palavra de segunda ou terceira mão, disponível na prateleira para ser servida, ingerida, digerida, rapidamente, de preferência num prato corrido, urbano e banal.
Foto: Izabel Liviski |
Sabemos que essa palavra alheia que não passou pela interação com o outro e consigo mesmo, que não passou pelo diálogo recursivo com outras leituras e com o mundo, não permanecerá por muito tempo, nem na memória nem no coração de quem a procura e se serve dela. E o mais importante, não provocará o nascimento de outras palavras sentidas e pensadas.
Calouros- UFPR Foto: Izabel Liviski |
O risco em si tem algo de inaugural, de primeira vez, de nascimento. Certamente colocar-se em risco de palavra, não significa apropriar-se da palavra apenas útil, somente comestível e prosaicamente disposta para garantia da sobrevivência, até o dia seguinte. Palavra, assim, tão sem vida, não permitiria ao usuário o tempo do aroma, do gosto, da percepção da geometria e da cor.
Representante indígena- UFPR Foto: Izabel Liviski |
Manifestação estudantil- UFPR- 2008 Foto: Izabel Liviski |
A gente não quer só comida, lembra uma bela composição de Arnaldo Antunes. Nesse sentido, é necessário modificar o ritual do banquete e modificar também a percepção e a relação com as palavras que estão aí, no mundo, saborosas, vivas e inquietas para ser selecionadas e degustadas com critério significativo vivamente vivido e estético.
Manifestação estudantil- UFPR Foto: Izabel Liviski |
Que o digam os poetas que voltam seus mais de cinco sentidos em todas elas. Que o digam os leitores de literatura que exercitam o abecedário imaginal, vasta fonte que desacomoda nossas rotineiras certezas."
Manifestação pela Paz-UFPR Foto: Izabel Liviski |
*Glória Kirinus é escritora bilíngüe e ministrante da oficina "Lavra-Palavra", é também representante da AEI-LIJ/PR (Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura Infanto-Juvenil no Paraná).
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1 comentários:
queridas izabel e gloria, q maravilha de texto adorei a metalinguagem tão divertida q fizeram... e de pensar q na ufpr tão conservadora ainda há espaço para tais manifestações, fico feliz. bjs Ana
7 de outubro de 2010 às 10:12Postar um comentário
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