sábado, 2 de outubro de 2010

Especial XIV ENEArte - As Criadas




Fechando a nossa Edição Especial sobre o XIV ENEArte, gostaria de falar sobre uma peça de teatro que vi durante esse evento e que muito me chamou a atenção.


As Criadas, obra de Jean Genet, nos conta a história de

Duas mulheres: Irmãs, amantes, rivais e criadas. Na ausência da patroa, satirizam suas condições humildes, personificando fantasias de libertação e luxúria, ora servas, ora senhoras. Num jogo em que se confundem poder e submissão, amor e ódio: pela patroa e uma pela outra.


O texto original é primoroso. Dispensa comentários. Sobre o que quero escrever, na verdade, é sobre o espetáculo apresentado na noite de 22 de outubro, no Centro de Convenções de Ouro Preto - MG, dirigido por José Luiz Filho.

Apesar da história retratar personagens femininas, o elenco é composto apenas por homens. Só por isso já é impactante por quebrar certas conveções sociais. Cinco rapazes de saia interpretando uma madame e duas criadas. Parece confuso? Talvez seja essa a intenção. Quem nunca se viu como uma autoridade num instante e no outro como um serviçal?


O mais interessante é o desdobramento e fusão das duas criadas, causado pela presença de quatro atores carecas no palco e pelas suas saias que mudam de cor, num gesto rápido e expansivo. O que dá uma idéia de espelho e/ou múltipla personalidade que nos confunde e intriga.

Apesar do cenário e do figurino serem bem simples, o jogo de luz e a soberba atuação do atores provam que são mais do que suficientes, deixando o resto com a imaginação do espectador.

Além do jazz estonteante de Billie Holiday, a peça conta com um leve toque da banda de rock japonesa Maximum The Hormone. Música boa nos momentos certos.


Não é por menos que acaba de ganhar os prêmios de melhor espetáculo e melhor cenário do III Festival Universitário de Patos de Minas. Essa peça é o terceiro trabalho da Cia Teatral Confraria Tambor, fundada em 2004 por atores de Uberlândia interessados em montar um elenco masculino que abordasse cenicamente questões ainda na ordem do dia, tais como a relação de poder, o confinamento, a violência e o submundo.

Sem exagero, é a melhor peça teatral que já vi. Vale a pena conferir.


Vinícius "Elfo" Rennó é graduando em Letras pela UFV. Gosta de cozer bem o que escreve. Basicamente, trata-se de um leitor glutão, amante de cinema e viciado em música. Atualmente é membro do corpo editorial da Contemporâneos – Revista de Artes e Humanidades e, juntamente com a Prof. Dr. Ana Maria Dietrich, coordena a ContemporARTES – Revista de difusão cultural.

2 comentários:

Ana Cecília disse...

Pues espero ter a linda oportunidade de vê-lo! Pelo que nos contas já é emplogante!

2 de outubro de 2010 às 12:23
chacomascriadas disse...

Com carinho, em nome do grupo, recebemos as suas palavras. Parabéns a vocês por este trabalho tão enriquecedor, e pouco feito, de comentar a respeito das práticas teatrais. Pois, é com os comentarios,bons ou ruins, que podemos mediar a qualidade artistica do trabalho.
José Luiz Filho - diretor do espetáculo

4 de outubro de 2010 às 23:53

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