Yndio do Brasil: Sylvio Back à procura do índio brasileiro
Quando criança, na escola, aprendi que existia um dia no ano que em que a professora falava de índio. Nesse dia, nós alunos recebíamos uma folha mimeografada com algumas fotos de índio para pintar; outras vezes ainda, os professores pintavam nossos bochechas com marcas pretas e dançávamos algumas músicas que citavam índios. Muito pequena, só sabia que existia um ser, quase alienígena, que aparecia nesse dia e depois sumia do nada, como Tiradentes e Dom Pedro I. Quando cresci mais um pouco, percebi que existia também marchinhas de carnaval e filmes que passavam na televisão nos quais também existiam índios. Lógico, nascida e criada na metrópole paulistana, vivia em contato direto com pessoas que andavam apressadas pelas calçadas e ruas, ruas essas que tínhamos de compartilhar com carros, muitos carros e obviamente, muito, muito trânsito.
Sem idéia formada a respeito do que seria propriamente um índio, seguia com minha encruada ignorância. Assistia aos filmes americanos, aqueles que costumam ser exibidos na Sessão da Tarde, com índios do norte da América, os barulhentos apaches. Eles gritavam em cima de cavalos enormes e lustrosos com arcos e flechas nas mãos, bravos e guerreiros como no clássico Rastros de ódio, 1956, de John Ford na inesquecível atuação vingativa de John Wayne. Esses westerns me encantavam, mais pela garra e energia que via naqueles índios do que pela história propriamente dita. A meu pedido, meus pais me davam muitos apaches em miniaturas, aqueles de plásticos que vem com apoio para ficarem de pé (Forte Apache). O desenho do pica-pau também referenciava os apaches em algumas de suas edições.
Sem idéia formada a respeito do que seria propriamente um índio, seguia com minha encruada ignorância. Assistia aos filmes americanos, aqueles que costumam ser exibidos na Sessão da Tarde, com índios do norte da América, os barulhentos apaches. Eles gritavam em cima de cavalos enormes e lustrosos com arcos e flechas nas mãos, bravos e guerreiros como no clássico Rastros de ódio, 1956, de John Ford na inesquecível atuação vingativa de John Wayne. Esses westerns me encantavam, mais pela garra e energia que via naqueles índios do que pela história propriamente dita. A meu pedido, meus pais me davam muitos apaches em miniaturas, aqueles de plásticos que vem com apoio para ficarem de pé (Forte Apache). O desenho do pica-pau também referenciava os apaches em algumas de suas edições.
Índio quer apito
Haroldo Lobo - Milton de Oliveira
Ê ê ê ê ê índio quer apito
Se não der
pau vai comer
Lá no bananal mulher de branco
Levou pra pra índio colar esquisito
Índio viu presente mais bonito
Eu não quer colar
Índio quer apito
Índio Apache |
Grupo Mawaca |
No entanto, apesar dessas referências um tanto confusas, continuava sem saber muito bem o que era índio. Um pouquinho mais crescida e pesquisando sobre o assunto, li em uma enciclopédia que o nome índio vinha dos povos da Índia e que esse termo foi usado por Cristóvão Colombo quando chegou à América pois acreditava que havia chegado à Índia. Índio ficou sendo o povo nativo da terra que geralmente era vencido pelo invasor dominante.
O tempo passou e a minha curiosidade levou-me a estudar as manifestações rítmicas e musicais dos povos. Atualmente ministro a disciplina Etnomusicologia na faculdade de música da FAC FITO. Estamos formando grupos de alunos músicos para pesquisarem sons (ex-acústicos) e imagens ( exóticas) das manifestações musicais das variadas etnias brasileiras, desde as mais remotas como a dos nativos Guaranis, Potiguaras, Caingangues, Tupinambás, Carajás, Tapajós, Ianomâmis, até as mestiçagens sonoras oriundas das variadas culturas que povoam e povoaram essa terra brasileira no decorrer de muitos anos de história. A variedade cultural é inesgotável, alguns trabalhos como o da musicista Marlui Miranda ou do grupo Mawaca nos mostram um universo repleto de sons, imagens e crenças. A Orquestra Mundana de Carlinhos Antunes, por exemplo, nos oferece viagens sonoras múltiplas por várias regiões da terra com os múltiplos sons e instrumentos. Carlinhos Antunes |
Marlui Miranda |
O filme Yndio do Brasil, 1995, de Sylvio Back, relançado em DVD numa versão que acompanha outro filme do diretor sobre o poeta simbolista Cruz e Souza, é uma montagem composta por filmes nacionais e estrangeiros de ficção, cine jornais, documentários e poesias concretas que nos fornece um panorama interessante da condição do índio brasileiro dentro do seu próprio território. O filme denuncia a enorme falta de cuidado com que essas questões foram tratadas no decorrer dos governos, principalmente militares, criando dilemas e incertezas que se arrastam e perduram até os dias de hoje. Quem assiste ao filme consegue entender muito mais sobre o tratamento político e social dado ao índio no Brasil, desmistificando muitas idéias equivocadas que nos foram empurradas goela abaixo naquelas tediosas e antigas aulas de história, nas quais o aluno estava fadado a aceitar o túnel e a linha do tempo como condição única para aprender a matéria. Repletos de nomes, datas e fatos isolados, sem contextualizacão e discussão, esses conceitos duros e estáticos do índio brasileiro, deixavam de lado questões imprescindíveis para o entendimento do nosso povo brasileiro.
Sylvio Back |
Yndio do Brasil é um ótimo filme para ser assistido, discutido em aulas, congressos, grupos de estudo contribuindo para formar pessoas mais conscientes a respeito da nossa cultura e da nossa própria dor. A questão do pertencimento, de se identificar, entender, saber quem somos para a partir daí defendermos nossos direitos. Tomara que a escola venha a ser o lugar no qual esses debates, oriundos no nosso próprio conhecimento e reconhecimento como nação, possam enfim formar o tão falado, cidadão brasileiro.
DVD do Sylvio Back |
Assistam, recomendem, utilizem em aulas, congressos, usem e abusem de Yndio do Brasil,
obrigada Sylvio Back.
Kátia Peixoto é doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Mestre em Cinema pela ECA - USP onde realizou pesquisas em cinema italiano principalmente em Federico Fellini nas manifestações teatrais, clowns e mambembe de alguns de seus filmes. Fotógrafa por 6 anos do Jornal Argumento. Formada em piano e dança pelo Conservatório musical Villa Lobos. Atualmente leciona no Curso Superior de de Música da FAC-FITO e na UNIP nos Cursos de Comunicação e é integrante do grupo Adriana Rodrigues de Dança Flamenca sob a direção de Antônio Benega.
5 comentários:
Muito Bom, interessante a analise, vou assitir o filme!
8 de outubro de 2010 às 15:40A musicalidade da Marluí eu conheço e fiquei com vontade de conhecer o som do grupo Mawaca e da Orquestra Mundana. Parabéns pelo trabalho e vamos fundindo, recriando e pesquisando nossas referencias culturais.
8 de outubro de 2010 às 17:33Relevante o tema levantado! Quem é esse outro, que somos nós e as vezes nem sabemos?
8 de outubro de 2010 às 19:57Não dá mais o "dia do índio" nas escolinhas comemorado com a peninha na cabeça; tem que haver algo um pouco mais informativo, que estimule esse auto conhecimento, afinal é nossa história.
querida katia, mais um tema de suma importância para a questão identitária brasileira que vc. tratou com todo o respeito, requinte e competência.
9 de outubro de 2010 às 20:54tbém me fez curiosa sobre o filme de back, um amigo, para o qual enviarei tal post. tbém acredito que a educação é capaz de transformar mentes e espíritos e quebrar a gelitude do nosso cotidiano high tech em busca de relações mais humanas.
abraços da amiga e fã
Por falar em educação e povos indígenas, recomendo as produções de cineastas indígenas realizadas pelo Projeto Vídeo nas Aldeias - um ótimo recurso para se usar em sala de aula e para quebrar a imagem estática do índio que só aparece vitimizado ou exotizado.
12 de outubro de 2010 às 18:20Postar um comentário
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