DRAMATURGIAS E TEXTUALIDADES
Durante a ABRACE em São Paulo, entre os dias 08 e 12 de novembro, pensei um pouco sobre dramaturgia contemporânea, sobre minhas impressões (imprecisões).
A primeira impressão é a percepção da dilatação do entendimento de dramaturgia como a marca indelével da palavra.
A segunda impressão, também comum, desdobramento da primeira é o reconhecimento de que, na contemporaneidade, no fluxo das revoluções e quebras de paradigmas, surgem novas “tecituras dramáticas”. A dramaturgia outrora detentora de um poder absoluto, desloca seu referencial, sua concepção, bem como sua singularidade.
Aqui, dois pilares sustentam meus interesses:
Um deles, a partir da Teoria queer, da Teoria da Performatividade de Judith Butler, pretende-se extrair de um conjunto de textos da dramaturgia nacional e estrangeira aspectos que poderiam ser traduzidos em cena como uma estética queer.
Essa estética aponta para um corpo queer, sugere elementos de superação de um corpo dócil mapeado, cartografado, previsível, saturado, instigado: a criação de um devir corpo, muito mais interessado no transito, na passagem, na instabilidade, na viagem em direção a um corpo sem órgãos, desmapeado, (des)identitário.
Esse primeiro pilar utiliza-se da performatividade da escrita como dispositivo performativo da cena.
O segundo pilar tensiona o deslocamento do conflito central (da ficção dramática) em direção a um conflito estrutural, para os modos de representação, do intra para o extra-ficcional.
Assim, a partir da dramaturgia textual promover-se-á o deslocamento do conflito do centro dramático (a relação com os personagens) para as diferentes camadas semióticas, em outras palavras, os modos de representação teatral colaborariam para aumentar as possibilidades de interação entre atores, espaço e espectadores.
Essas tais textualidades – numa proposital aliteração – problematiza as fronteiras do discurso das dramaturgias, que agora atravessam os territórios, transbordam, cruzam as diversas artes da cena, quais sejam, o teatro, a performance, o circo, a dança contemporânea, a bodyart ou os happenings, provocando operações de afetamentos e contaminações.
Djalma Thürler é Cientista da Arte (UFF-2000), Professor do Programa de Pós-Graduação Multidisciplinar em Cultura e Sociedade e Professor Adjunto do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências da UFBA. Carioca, ator, Bacharel em Direção Teatral e Pesquisador Pleno do CULT (Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura). Atualmente desenvolve estágio de Pós-Doutorado intitulado “Cartografias do desejo e novas sexualidades: a dramaturgia brasileira contemporânea dos anos 90 e depois”.
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