segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

A Poesia de Dalva Contar.


A POETA DALVA CONTAR
por Altair de Oliveira


Nossa orgulhosa coluna de poesia como a vida, que de maneira nenhuma é responsável por aqueles que cativa, apresenta nesta semana a poeta e artista plástica paulista Dalva Contar, uma apaixonada pela arte e habituada a dedicar sua vida à construir uma poesia com delicadeza.

Só aparentemente singela, a poesia de Dalva é introspectiva nos remete a um ser demasiado humano, muito parecido com nós mesmos, que se dedica a mergulhar em si a cada novo espanto em busca de aprender-se, entender-se e a extrair daí alguma compensação ou beleza. Uma poesia um pouco triste, diriam alguns. Mas é desta mesma beleza triste que sofrem os poetas, como bem diria o nosso saudoso Antero de Quental: ",..e para sempre eu fiquei tímido e triste."


A poeta, que sempre foi uma amante singular da poesia, só recentemente tem publicado seus escritos (poemas e contos) em antologias independentes na grande São Paulo e, em 2008, publicou o seu primeiro livro de poemas "Pietá" pela editora Casa do Novo Autor. Atualmente ela está trabalhando na preparação de seu segundo livro, que tem o título provisório de Magnitudes. Vale a pena esperar!

Por enquanto ficamos com a leitura de alguns poemas de Dalva Contar, uma pequena brasileira da cidade grande, que trabalha na saúde pública e que, como quem pinta, vai aos poucos descobrindo e prescrevendo o remédio que restabelece a saúde da alma, a poesia. Prescrevo-lhes então "Pietá" para este verão. Aviem-se, pois!


***

OS POEMAS


ANÁLISE SINTÁTICA


Eu,
sujeito do mundo,
objeto direto
em fato concreto.

Eu,
trago no peito predicados
faço do meu verbo
poemas delicados.

Eu
apenas sou
(quem sou sou?)
transitivo ser
suporto minha dor
sorrio sem rancor
Eu sujeito às tramas do amor.


Dalva Contar, In: "Pietá".

***

PERSONA NON GRATA

Desenhei numa tela rósea pétala
De uma flor colorida, sem espinhos
Rabisquei em contorno sua sépala
Num jardim solitário e sem caminhos.

Percebi na aquarela uma sombra,
Sutil, em um canto, de cor gris
Abre as asas na moldura - negra pomba!-
corpo estranho ao desenho, que eu não quis.

Solidão, teu desenho de cor triste
Contorna a minha tela em tom pastel
Acompanhas minha vida e existes
A rimar tristemente em meu papel.


Dalva Contar, In: "Pietá".

***

ARTE

Página em branco, espera o papel,
A castigá-lo com ponta macia
De uma caneta como um cinzel
A esculturar palavras, poesia!

Percorre linhas, como na paleta
Do colorido de uma dor que fala.
Pintura íntima, de uma cor concreta,
Perfume frágil que o artista exala.

E faz então, das dores, a colagem
A sinfonia de uma orquestra vã
E mostra com uns versos de coragem,
Tecendo a arte, à espera do amanhã.

Dalva Contar, In: "Pietá".

***

CAMINHOS

Piso sobre as pedras
e vou contando a noite.
Teço uma teia
entre a terra e o céu.

Vislumbro luzes
de estrelas próximas
e retenho o pulso
ao peito de uma fera.

Existo na manhã
que nem nasceu ainda.
E morro numa noite
mais escura
e bela.

Dalva Contar, In: "Magnitudes" (título provisório).


***

Para adquirir o livro de poemas "PIETÁ", de Dalva Contar, por reembolso postal e ao preço de 15 reais, escreva para a poeta no seguinte endereço: dcontar@hotmail.com

***

Ilustrações: 1- foto da poeta Dalva Contar; 2- capa do livro de póemas "Pietá"; 3- trabalho da artista plástica Dalva Contar.


Altair de Oliveira (poesia.comentada@gmail.com), poeta, escreve quinzenalmente às segundas-feiras no ContemporARTES a coluna "Poesia Comovida" e conta com participação eventual de colaboradores especiais.

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