sábado, 26 de fevereiro de 2011

Cavalos ao mar





Quem já leu alguma obra da poeta Sophia de Mello Breyner Andresen deve ter percebido o destaque que ela dá ao mar. A sensação que temos, enquanto leitores, é de que o mar foi muito importante não só quanto inspiração, mas que se fez presente durante toda a vida da artista. Há um poema que para mim é muito simbólico e faz com que eu sinta o mar de Sophia. O poema chama-se ondas:

Ondas

Onde - ondas – mais belos cavalos
Do que estes ondas que vós sois
Onde mais bela curva do pescoço
Onde mais longas crinas sacudidas
Ou impetuoso arfar no mar imenso
Onde tão ébrio amor em vasta praia.






Não é difícil perceber a relação estreita que a poeta faz entre as ondas e um cavalo. Ambos em movimento constante, com suas crinas que se sacodem, com seus pescoços imponentes e curvos e com o quebrar que é diretamente relacionado ao sacudir destas crinas. Os cavalos são animais fortes, vigorosos, que com sua força fizeram parte não só da vida de Sophia, mas ficaram marcados na história, lembremos do famoso cavalo de Napoleão Bonaparte, o cavalo de D. Pedro I do Brasil e IV de Portugal importante na independência brasileira, além de muitos outros fatos históricos nos quais eles estiveram presentes.

Por outro lado, as ondas, ou melhor, o mar também ficou marcado na história, já que através dele desbravaram e descobriram novos mundos e novas terras. Ele foi muito importante para a expansão marítima e imperial dos ex Impérios europeus, além de obviamente, figurar com extrema importância para o desenvolvimento econômico de tais países.


Em meio a esse mar tão imponente, que gera medos, amores, que hoje serve tanto para transações comerciais quanto para deslumbramento de suas belezas, há as ondas que são descritas de maneira brilhante como “Ou impetuoso arfar no mar imenso”. Ou seja, as ondas funcionam como a respiração ofegante do mar imenso, maravilhoso. Elas têm o papel de estabelecer um contato maior com a terra, mostrando aos habitantes desta o quanto o mar é vivo e sábio.

Ao fim deste texto, transcrevo outro poema de Sophia no qual o mar e as ondas possuem uma grande importância.

Beira-Mar

Mitológica luz da beira mar
A maré alta sete vezes cresce
Sete vezes decresce seu inchar
E a métrica de um verso a determina
Crianças brincam nas ondas pequeninas
E com elas em brandíssimo espraiar
Em volutas e crinas brinca o mar



Para os leitores que queiram conhecer mais os poemas de Sophia e desejam saber as referências dos poemas acima: o poema Ondas foi retirado da obra Musa e o poema Beira-Mar está presente em O Búzio de Cós e outros poemas.





Rodrigo C. M. Machado é Mestrando em Letras pela Universidade Federal de Viçosa.

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