MADAME YEVONDE: "SER ORIGINAL OU MORRER"
Yevonde Cumbers Middleton (1893-1975) mais conhecida como Madame Yevonde, nasceu na Inglaterra.
Seu pai, um fabricante de tintas de impressão, apresentou à filha o fascinante mundo da cor. Foi incentivada pela própria família a ser independente, característica que vai desenvolver através de uma personalidade forte e determinada em construir o seu próprio caminho. Yevonde , ao contrário de suas contemporâneas, não tinha a intenção de passar seus dias numa sucessão de danças e grupos de teatro até que um marido "apropriado" surgisse.
Desde a sua adolescência era adepta do movimento sufragista, e foi uma radical defensora dos direitos das mulheres ao longo de toda a sua vida. Este movimento foi sem dúvida, uma força motivadora da sua carreira, levando-a mais tarde a explorar os diversos aspectos da sexualidade feminina e o seu papel na sociedade.
A escolha da sua profissão foi por uma obra do acaso: Yevonde respondeu a um anúncio para ser assistente de um conhecido fotógrafo. Apesar de não ter aceitado a oferta, ela decidiu o que queria fazer para o resto de sua vida e que lhe proporcionaria sua independência profissional e financeira: a fotografia. Tinha na época dezessete anos.
Antes de iniciar a sua carreira nos anos 20, trabalhou no atelier de Lallie Charles, a maior fotógrafa da alta sociedade inglesa da época. Lallie foi, sem dúvida, uma grande influência no trabalho inicial de Yevonde. Mas, aos poucos, ela iria encontrar o seu próprio estilo. A fotografia de aspecto vitoriano daria lugar a uma tendência irreverente e inesperada que surgiu no período entre as duas Grandes Guerras.
Acima de tudo, Madame Yevonde inovou na fotografia a cores. Nos anos 30, a fotografia colorida já existia, mas era técnicamente muito intrincada e considerada vulgar; só os anúncios publicitários utilizavam fotografias a cores. Para além de Yevonde, o único fotógrafo que se dedicou à fotografia em cores, na mesma época e de forma artística, foi Paul Outerbridge.
Mas Yevonde iria mais longe. Ela utilizava o processo Vivex e filtros para que a cor “explodisse” nas suas fotografias. Algo inédito para a época, o resultado eram fotos com cores saturadas e com um toque surrealista, lembrando os trabalhos de Man Ray. Porém seu estilo foi e continua sendo único.
Com as fotos da série As Deusas, ela encontrou a melhor oportunidade para combinar realidade e fantasia e para potencializar o uso da cor entregando-se plenamente ao experimento. Seu domínio técnico, visual e emotivo da cor era instintivo, o que a motivava a correr mais riscos em sua experimentação.
Seu interesse pela causa feminina traduz-se nos anos 30 numa exploração sobre como a mulher transgride seu papel social. Ela própria se reinventa sob a pele de vários papéis, como em seu famoso auto-retrato com a imagem de Hecate.
Ela também retrata uma gama de arquétipos femininos - reais ou imaginários - nesse período.
A série As Deusas, com 23 modelos ao todo foi a exposição inaugural de seu estúdio na charmosa e elegante área de Berkeley Square. Através desse trabalho, Yevonde continuou sua pesquisa das questões femininas ao identificar modelos históricos, cujos atributos, como a força, a coragem, o sofrimento ou o narcisismo podiam ser vistos e compartilhados pela mulher moderna.
Seu lema como fotógrafa retratista, era "ser original ou morrer".
Auto-retrato (1940)
Série As Deusas- Europa (1935)
Série As Deusas (1935)
Série As Deusas - Medusa (1935)
Musa da História (1935)
Flora- parte 1
Costureira no Verão (1937)
Manequim
Sem título
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Izabel Liviski é Fotógrafa e Mestre em Sociologia pela UFPR. Pesquisadora de História da Arte, Sociologia da Imagem e Antropologia Visual. Escreve quinzenalmente às 5as feiras na Revista ContemporArtes.
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