Profissão: Cineasta
O russo Sergei Eisenstein, cara e cabelo de cineasta. |
Até pouco tempo atrás, era comum ver alguns membros de famílias tradicionais brasileiras optarem por determinadas profissões. Para a conservação do “status quo” familiar, era imprescindível ter médicos, engenheiros e advogados. Num passado ainda mais e mais remoto, o professor também poderia fortalecer este status. Os diplomas nas paredes dos consultórios, casas ou escritórios, explicitavam a capacidade intelectual familiar e, em geral, esses bacharéis eram chamados de doutores. Essas profissões contribuíam para manter a condição economicamente privilegiadas dos membros, que exerciam suas profissões na comunidade. Lembro-me de ter presenciado um pouco desses costumes e de ter visto o lado nefasto dessa prática. Muitos jovens deixavam de lado suas vocações para seguirem os mandamentos da família, trilhando carreiras das quais não se encantavam.
Sinônimo de status |
Mas como encarar essa situação? Um adolescente diz ao pai: Papai, quero ser um cineasta. Talvez ele, o pai, muito lúcido diga: Cineasta, como? Pra que ser cineasta? O que faz um cineasta num país como o Brasil? Filho, aqui não é Hollywood? E ser cineasta é profissão?
Mas ser cineasta tem um charme, uma coisa de Cult, de “virado”, de encantamento. No entanto fazer cinema no Brasil é complicado. Primeiro é preciso aprender o ofício, as técnicas, as linguagens; depois é preciso ter uma ótima idéia, fazer um roteiro que irá concorrer com muitos outros em editais de concursos de B.O. (baixo orçamento). Caso o roteiro seja contemplado, o prêmio em dinheiro deve ser dividido em varias partes: produção, atores, equipe técnica, edição e, posteriormente, mas não menos importante, distribuição do filme. Distribuição é um problema muito sério pois se ela não for bem realizada pode botar tudo a perder, afinal um filme é feito para ser assistido por muitas pessoas. Qual a sala de cinema do Brasil que está interessada em exibir filmes de estreantes, sejam curtas, médias e até longas metragens? As Mostras? Mas será que elas são suficientes para que o filme seja visto por um número significativos de pessoas?
Paulo Emilio Sales Gomes |
Cinema pode ser um negócio e aqui no Brasil temos pessoas interessadas nele. Bruno Wainer, filho do jornalista Samuel Wainer e da colunista Danuza Leão é um desses distribuidores que tenta fazer o cinema brasileiro virar um negócio de milhões. Ele é dono da Downtown, que colocou no cinema 32 longas como, “De Pernas pro Ar”, “Chico Xavier”, entre outros. Ele também está por trás de alguns fracassos de bilheteria como: “Lula, o filho do Brasil” e “Salve Geral”. Ele diz: “Não existe filme de sucesso sem a GloboFilmes”. Também já distribuiu alguns filmes autorais como: “Ação entre Amigos” de Beto Brant, “O Céu de Suely” de Karin Ainouz e “Estomago” de Marcos Jorge. Fazer do cinema um negócio é um desafio e tanto para o cinema nacional. Filmes de grande bilheteria geralmente estão relacionados a algo que os telespectadores brasileiros conhecem: artista globais consagrados, temas que passam em telejornais (preferência aos de violência) e assim por diante.
Lula, O filho do Brasil- fracasso de bilheteria - Downtown |
Chico Xavier - Sucesso da distribuidora Downtown |
Mas para dar emprego aos profissionais do cinema: roteiristas, maquinistas, fotógrafos, câmeras, editores, montadores, produtores e outros, o cinema precisa ser levado a sério e não somente ser um adorno do país. O incentivo dos governos federal, estadual e municipal precisam ser maiores, tanto no que diz respeito a produção como a distribuição. Já está em tempo do nosso Brasil ter salas de cinemas nas escolas, nas comunidades, nos clubes e o espaço onde o filme será exibido deve ser acolhedor. Que carência de salas temos em nosso pais! Cinema é arte, precisa de seu espaço de discussão. Seria bom se nossos adolescentes não precisassem passar horas e horas em shoppings, muitas vezes sem comprar nada e sem fazer nada também, por falta de lazer e entretenimento e pudessem estar ocupando salas de cinema para discutir, ver, rever e falar sobre nossas realidades mostradas nas telas. Quando o Brasil vai fazer jus ao título de maior pais da América Latina? E ter um plano de educação e cultura decente?
Os Governos precisam ficar atentos a essa realidade abrindo salas – cineclubes autorizados - que possam exibir filmes nacionais a preços populares para uma massa de brasileiros. Quando a televisão brasileira vai trabalhar junto com as produtoras de cinema? Brasileiro não gosta de música clássica? Não gosta de Villa Lobos? Quem ouve Villa Lobos? Onde? Só no parque Villa Lobos? Pra que sevem as praças da cidade? Os teatros municipais? E as escolas públicas?
Brazucah |
O ex-professor de História do Cinema Brasileiro da Escola de Comunicação e Artes de São Paulo, Paulo Emilio Sales Gomes, deu o pontapé inicial na década de 1930/40 com os cineclubes e incentivou a popularização do cinema nacional.
Algumas iniciativas como a do cine Brazucah, http://www.brazucah.com.br/brazucah/site_brazucah.html ou do cine mambembe colaboram com a divulgação do cinema nacional.
Cláudio Assis |
Claudio Assis, diretor de “Amarelo Manga”, “Baixio das Bestas” e do “Febre do Rato”, que será finalizado em março, esteve na AIC (Academia Internacional de Cinema) dia 09 de fevereiro, em São Paulo, para discutir suas inquietudes com os alunos e os convidados. Que bom ver cineastas brasileiros que nasceram dessa inquietude, da vontade de mostrar e discutir a nossa querida Pátria Amada nas telas do cinema.
Sabrina Areias e Sheila Maria publicaram uma resenha do filme Baixio das Bestas na Contemporâneos:
“Baixio das Bestas (2007) expõe uma realidade desumana vivenciada na zona da mata pernambucana, onde um povoado sobrevive de forma miserável em torno da monocultura de cana-de-açúcar. Os habitantes da localidade não questionam a situação precária em que estão inseridos e se acostumam com a estrutura vigente e com o bagaço da vida que lhes resta.” Sabrina Areias Teixeira e Sheila Maria Doula em Resenha para Contemporâneos
O Brasil precisa que o cinema nacional possa ser visto por alunos da Rede Pública de todo esse nosso grande país, por alunos das universidades, donas de casa, pelos telespectadores, visto e discutido em seminários para que possamos mostrar o cinema para “um punhado de espectadores”.
Prestigiem o cinema nacional!
Kátia Peixoto é doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Mestre em Cinema pela ECA - USP onde realizou pesquisas em cinema italiano principalmente em Federico Fellini nas manifestações teatrais, clowns e mambembe de alguns de seus filmes. Fotógrafa por 6 anos do Jornal Argumento. Formada em piano e dança pelo Conservatório musical Villa Lobos. Atualmente leciona no Curso Superior de de Música da FAC-FITO e na UNIP nos Cursos de Comunicação e é integrante do grupo Adriana Rodrigues de Dança Flamenca sob a direção de Antônio Benega.
2 comentários:
Oi Kátia, lindo post, gostei muito e apesar de ainda estarmos rastejando (não é nem engatinhando ainda) sinto que as coisas estão melhorando um pouco. Não sou do meio, como vc sabe, falo como espectador. Um beijo.
11 de fevereiro de 2011 às 13:59Jacó Izidro de Moura
Ótimo texto! Quem já não sonhou ser cineasta? Eu já, pelo menos..que cada vez mais o talento possa ser materializado em filmes e público!
17 de fevereiro de 2011 às 13:56Postar um comentário
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