segunda-feira, 21 de março de 2011

Filhos da Rua

Filhos da Rua

Por: Aline Serzedello Vilaça

Olá Menino de Rua

Peço por meio desta que entenda que...


Sua liberdade me intimida

Passo a odiar-me por ter mais medo dos seus olhos

Do que compaixão ou dó por seus lábios queimados de craque

Invejo seu andar destemido e

No vazio do por detrás de seus olhos

Enxergo seu cego medo da morte

E me pego morrendo de medo

De morrer sem um dia fazer com que

em seus olhos brilhem vida

Faço inocentemente

Com que seu afrontamento,

raiva de sobrevivente que és,

Seja o combustível para minha utópica necessidade de revolução artístico- pacífica

Que tem o único objetivo de achar um meio de fazê-lo sorrir

Se não tivesse tanto medo do seu cheiro de rua,

da podridão dos panos que lhe cobrem

da crosta de cimento, lixo e noite que por ti pisados

aderiram seus pés,


Se não tivesse tanto medo dos seus belos lábios negros,

pretos queimados de entorpecentes

Se não tivesse tanto medo que em um violento devaneio de droga

Violasse a estúpida bolha que me protege e atingisse meu físico

Em dor semelhante a que já sinto lacrimejar n´alma,

Apenas pelo fato de poucas vezes vê-lo

mesmo em sua invisibilidade herdade

Se não fosse como a todos

Apegada na proteção das minhas coisas e não tivesse medo que você as roubasse

Se tivesse coragem de encarar seus olhos sem alma

Se tivesse a bravura de abraçá-lo e prometer mudanças

Se fosse realmente a imagem e semelhança e tivesse real noção da força da fé

Ah, menina de rua sou violentada por sua vulgaridade,

por sua infância roubada,

Por seu sexo invasivamente bulido,

Ahh, menina,

És boneca de cuja brincadeira é sordidamente a ludicidade de homens sujos,

Me perdoe por deixar seu corpinho nas mãos grossas destes vândalos bem vestidos

Me perdoe por só lhe dar dor, onde na juventude terias fonte de prazer

Nos perdoe por lhe dar no lugar de pai, um cafe...

Ahh, menino

Desculpe-me por não ter coragem de abraçá-lo,

De amá-lo

Menino,

Quando foi que apagaram sua ingenuidade, seu brilho,

Seu coração, sua ALMA???

Ahh, menino

me perdoe por não ter comida,

por não ter banho quente,

por não ter ido a escola, por não ter lençóis macios,

quarto, cama e cobertor

Ahh, menina das ruas

Sou violentada feito você ,

Pela vulgaridade que a noite lhe ensinou

Meninos e Meninas

Esta que vos fala, que escreve é mais uma não- cidadã covarde que confessa se sentir agredida

Confesso me sentir

Envergonhada por ter medo, por me sentir vítima de seus olhos sem alma

Sou

Mais uma não- cidadã que prefere sentir medo de teu aproximar

Do que me abrir para a capacidade de enxergar a crueldade apavoradora

Que lhes cercam

Realidade que vocês sobrevivem,

Sobrevivem

Aos olhos do Estado

feito pequenos problemas

onde na verdade são vítimas

VÍTIMAS

sem nome, sem família, sem casa, sem nada...


Na próxima publicação contarei o que estes meninos remetem a cidade Maravilhosa, ao CONEB, ao assalto que sofremos semana passada em Viçosa, e a Arte(educação)- Política que tanto defendi nas colunas passadas...

Atenciosamente,

Aline SerzeVilaça


0 comentários:

Postar um comentário

Seja educado. Comentários de teor ofensivo serão deletados.