Filhos da Rua
Filhos da Rua
Por: Aline Serzedello Vilaça
Olá Menino de Rua
Peço por meio desta que entenda que...
Sua liberdade me intimida
Passo a odiar-me por ter mais medo dos seus olhos
Do que compaixão ou dó por seus lábios queimados de craque
Invejo seu andar destemido e
No vazio do por detrás de seus olhos
Enxergo seu cego medo da morte
E me pego morrendo de medo
De morrer sem um dia fazer com que
em seus olhos brilhem vida
Faço inocentemente
Com que seu afrontamento,
raiva de sobrevivente que és,
Seja o combustível para minha utópica necessidade de revolução artístico- pacífica
Que tem o único objetivo de achar um meio de fazê-lo sorrir
Se não tivesse tanto medo do seu cheiro de rua,
da podridão dos panos que lhe cobrem
da crosta de cimento, lixo e noite que por ti pisados
aderiram seus pés,
Se não tivesse tanto medo dos seus belos lábios negros,
pretos queimados de entorpecentes
Se não tivesse tanto medo que em um violento devaneio de droga
Violasse a estúpida bolha que me protege e atingisse meu físico
Em dor semelhante a que já sinto lacrimejar n´alma,
Apenas pelo fato de poucas vezes vê-lo
mesmo em sua invisibilidade herdade
Se não fosse como a todos
Apegada na proteção das minhas coisas e não tivesse medo que você as roubasse
Se tivesse coragem de encarar seus olhos sem alma
Se tivesse a bravura de abraçá-lo e prometer mudanças
Se fosse realmente a imagem e semelhança e tivesse real noção da força da fé
Ah, menina de rua sou violentada por sua vulgaridade,
por sua infância roubada,
Por seu sexo invasivamente bulido,
Ahh, menina,
És boneca de cuja brincadeira é sordidamente a ludicidade de homens sujos,
Me perdoe por deixar seu corpinho nas mãos grossas destes vândalos bem vestidos
Me perdoe por só lhe dar dor, onde na juventude terias fonte de prazer
Nos perdoe por lhe dar no lugar de pai, um cafe...
Ahh, menino
Desculpe-me por não ter coragem de abraçá-lo,
De amá-lo
Menino,
Quando foi que apagaram sua ingenuidade, seu brilho,
Seu coração, sua ALMA???
Ahh, menino
me perdoe por não ter comida,
por não ter banho quente,
por não ter ido a escola, por não ter lençóis macios,
quarto, cama e cobertor
Ahh, menina das ruas
Sou violentada feito você ,
Pela vulgaridade que a noite lhe ensinou
Meninos e Meninas
Esta que vos fala, que escreve é mais uma não- cidadã covarde que confessa se sentir agredida
Confesso me sentir
Envergonhada por ter medo, por me sentir vítima de seus olhos sem alma
Sou
Mais uma não- cidadã que prefere sentir medo de teu aproximar
Do que me abrir para a capacidade de enxergar a crueldade apavoradora
Que lhes cercam
Realidade que vocês sobrevivem,
Sobrevivem
Aos olhos do Estado
feito pequenos problemas
onde na verdade são vítimas
VÍTIMAS
sem nome, sem família, sem casa, sem nada...
Na próxima publicação contarei o que estes meninos remetem a cidade Maravilhosa, ao CONEB, ao assalto que sofremos semana passada em Viçosa, e a Arte(educação)- Política que tanto defendi nas colunas passadas...
Atenciosamente,
Aline SerzeVilaça
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