sexta-feira, 25 de março de 2011

Violência e Paixão de Luchino Visconti: o confronto dos opostos



A dor da perda associada a dor do amor escondido para preservar preceitos morais, políticos e sociais. 

Na coluna passada escrevi sobre Luchino  e seu filme Vagas estrelas da ursa. Hoje resolvi falar um pouco sobre outro filme de Luchino que vale muito a pena assitir: Violência e paixão, 1974. Este filme faz parte da última etapa de filmes do diretor, talvez esse tenha sido seu penúltimo. Nele, Luchino demonstra que a solidão, a velhice e a morte são acontecimentos naturais porém difícíes de serem concebidos como tal pela humanidade. Para completar sua inquietação ele ainda discute oposições políticas, filosóficas e sociais no decorrer das cenas, deixando o filme mais tenso e enigmático. Já nas cenas iniciais percebemos as características do diretor pela sua forma de apresentar o protagonista e inseri-lo na história, vejamos como isto acontece:
Professor em seu apartamento, rodeado por quadros e livros antigos

 O filme inicia com uma música melancólica toada por instrumentos de cordas, assim abrem os créditos. Uma fita de eletrocardiograma cai lentamente sobre o chão. O violino parece responder aos apelos do violoncelo, a câmera lentamente acompanha a fita do exame e um rápido corte revela uma mão com uma lupa que procura em um quadro antigo sinais de autenticidade. O professor é apresentado a nós espectadores fortalecendo um dos traços característicos de Luchino Visconti, o suspense no momento de revelar o personagem. Primeiro o exame, as mãos na lupa, seu amor as artes e a fidelidade a originalidade, o protagonista de Violência e Paixão nos chega assim, aos poucos.
Partindo da seqüência da mão com a lupa o filme transcorre num imenso flashback, na verdade o flashback é o tempo do filme. Somente nas seqüências finais que o ciclo da memória termina e somos conduzidos para o tempo presente.
A trama do filme se desenvolve essencialmente entre quatro personagens fortalecendo a introspecção que é reafirmada também por três elementos: O elenco restrito, espaço pequeno e apertado onde são realizadas as ações e a circularidade temporal. A essência claustrofóbica é sustentada e fortalecida pelo elenco restrito, pelos espaços pequenos por onde se desenrola as ações e pelo tempo que está fadado a circularidade, ou seja, preso pelas três pontas: presente, passado, presente.
A questão espacial:
As cenas acontecem sempre dentro de dois apartamentos: do Professor; com paredes impregnadas de quadros e livros denotando grande erudição do personagem e o de cima; habitado por Lietta, Bianca, Stefanno e Konrad, reformado e idealizado num estilo moderno, representando a juventude  e despojamento do grupo.
A questão temporal circular: 
A trama temporal está sob responsabilidade do protagonista que entra e sai dos apartamentos sem deixar pistas aos espectadores em que dia e hora as cenas acorrem, a dimensão temporal fica um pouco perdida no filme. Para sabermos é necessário que o protagonista nos coloque a par de dados vindos das falas e diálogos que são proferidos por ele mesmo. O dia e a hora dos fatos, são revelados pelo protagonista e e isto torna a narrativa circular voltando-se sempre para o tempo do protagonista. Esse modo de tratar o tempo e o espaço fílmico faz de Violência e paixão um filme intimista e misterioso, uma viagem ao centro de Luchino.
Algumas questões são colocadas em oposicão na trama formando uma teia com deslocamentos politicos, sociais, filosóficos:







Dialética fílmica
Apartamento antigo X Apartamento reformado
Velhice X Juventude
Burguesia X proletariado
Posicionamento fascista (extrema direita) X Posicionamento esquerda “marxismo”

Como viver sem discutir estas questões? O professor viveu em um mundo único fechado em suas próprias certezas e foi surpreendido pela incapacidade de viver sentimentos possíveis  como o amor e a incerteza.
Assitam Violência e Paixão,  e um ótimo filme de Luchino


Para terminar queria deixar um adeus forte ao meu querido cachorro Nacho que hoje completou sua missão na terra, e saiba Nacho, fui muito, muito feliz ao seu lado.
Dia muito triste pra mim!!!
Nacho, Leo e Ítalo. Obrigada Nacho, por tudo!!!!



Kátia Peixoto é doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Mestre em Cinema pela ECA - USP onde realizou pesquisas em cinema italiano principalmente em Federico Fellini nas manifestações teatrais, clowns e mambembe de alguns de seus filmes. Fotógrafa por 6 anos do Jornal Argumento. Formada em piano e dança pelo Conservatório musical Villa Lobos. Atualmente leciona no Curso Superior de de Música da FAC-FITO e na UNIP nos Cursos de Comunicação e é integrante do grupo Adriana Rodrigues de Dança Flamenca sob a direção de Antônio Benega.

1 comentários:

Anônimo disse...

Interessante análise do filme, mesmo em pinceladas gerais esta análise elucida-nos do teor da pelicula (quem sabe, sabe). Vi este filme há muitos anos com olhos e pensar de rapazola, achei-o na altura interessante, mas nada de transcendente, relembrando-me do que vi então, compreendo-o muito melhor depois da análise que acabei de ler ácerca da obra. O meu muito obrigado.

8 de junho de 2012 às 18:55

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