3 Poemas de Elisa Lucinda!
TRÊS POEMAS DE ELISA LUCINDA
por Altair de Oliveira
por Altair de Oliveira
Através de 3 belos poemas, nesta semana apresentamos outra grande poeta capixaba, trata-se da formosa Elisa Lucinda, que é também atriz, jornalista, cantora e professora; enfim uma mulher atual e atuante nas artes e nas causas sociais contemporâneas. Como atriz, Elisa está atualmente trabalhando na novela das oito da rede Globo (Insensato Coração), onde faz a personagem Vilma, mãe da personagem de Camila Pitanga.
Como poeta, o trabalho de Elisa alcança uma musicalidade próxima da prosa, é arrojado, inteligente e inteligível e tem a marca da guerreira fêmea que busca com convicção um lugar ao sol do mundo contemporâneo e globalizado. Uma poesia própria para ser lida à viva voz e que faz de sua autora "a grande dama moderna da poesia brasileira falada" de nossos dias. Seus livros de poemas costumam coincidir com a montagem de espetáculos teatrais onde a própria poeta-atriz faz a leitura de poemas do livro, e que ela costuma levar às importantes capitais do país. Quem puder assistir, por favor, não hesite! Uma deliciosa leitura para todos vocês!
UM POUCO SOBRE A POETA
Elisa Lucinda dos Campos Gomes nasceu em Vitória-ES em 2 de fevereiro de 1958, aos 11 anos ela participou de um curso de interpretação teatral de poesia, ministrado pela professora Maria Filina Salles Sá de Miranda, quando começa a declamar poemas. Formou-se em jornalismo em 1982 e chegou a exercer a profissão de jornalista por alguns anos, mas em 1986 mudou-se para o Rio de Janeiro, disposta a seguir a carreira de atriz. Trabalhou em algumas peças, como "Rosa, um Musical Brasileiro", sob direção de Domingos de Oliveira, e "Bukowski, Bicho Solto no Mundo", sob direção de Ticiana Studart. Integrou o elenco do filme "A Causa Secreta", de Sérgio Bianchi. Seu primeiro trabalho na televisão foi na telenovela "Kananga do Japão", em 1989, na antiga TV Manchete.
Fez várias apresentações teatrais, com declamação de seus poemas, e algumas com a participação especial de Paulo José. No mesmo formato apresentou em seguida "Euteamo Semelhante". Acredita no poema vivo pela declamação, tanto que criou uma associação no Rio de Janeiro de estudo de declamação que promove saraus. Atualmente a poeta excursiona pelo país com mais um espetáculo solo, “Parem de falar mal da rotina”.
Em 2010, a atriz foi agraciada com o "Trofeu Raça Negra 2010" pelo sua contribuição à cultura brasileira.
Em 2011, a poetisa foi entrevistada no programa online "Filossofá - Desertores do Cotidiano", gravado em um sofá, em cima das dunas de Itaúnas, no Espírito Santo. Itaúnas é o lugar em que Elisa passa as férias e que mantém uma "casa-poema".
A poeta ainda mantém a “Escola Lucinda de Poesia Viva” (veja site http://www.escolalucinda.com.br/bau.htm/), no Rio de Janeiro, onde ensina interpretação teatral da poesia seguindo o lema: “Falando poesia sem ser chato”.
Livros:
* A Menina Transparente
* Euteamo e suas estréias
* O Semelhante
* Coleção Amigo Oculto (trilogia infantil).
* Contos de Vista
* A Fúria da Beleza (2006)
* Lili a rainha das escolhas
* Parem de Falar Mal da Rotina(2010)
CDs de poesias:
* Semelhante - sob o selo da gravadora Rob Digital
* Euteamo e suas Estréias - sob o selo da gravadora Rob Digital
* Notícias de Mim, com poemas da poeta paulista Sandra Falcone, participação de Miguel Falabella, direção e produção de Gerson Steves. O CD é resultado do espetáculo homônimo com roteiro e direção de Steves.
Em Telenovelas:
* 2011 - Insensato Coração .... Vilma
* 2009 - Viver a Vida .... Rita
* 2006 - Páginas da Vida .... Selma
* 2003 - Mulheres Apaixonadas .... Pérola
* 1995 - Sangue do Meu Sangue .... Beatriz
* 1990 - Araponga
* 1990 - Escrava Anastácia.... Ermelinda (Yatunji)
* 1989 - Kananga do Japão .... Sueli
Séries:
* 1997 - Você Decide - episódio: Preconceito
No Cinema:
* 2003 - Gregório de Matos
* 2003 - As Alegres Comadres .... Mrs. Rocha
* 2002 - Seja o que Deus Quiser
* 2001 - A Morte da Mulata
* 1997 - O Testamento do Senhor Napumoceno .... Dona Jóia
* 1994 - A Causa Secreta
* 1990 - Barrela: Escola de Crimes
TRÊS POEMAS DE ELISA LUCINDA
LATE ILUSÃO
Em noite de lua cheia
geme ao meu lado o meu cão
acabado de chegar
late ilusões ao meu ouvido
e meu sentido
diz que ele veio pra ficar
Mas a vida passa e vira
páginas da folhinha
o que era cheia e domingo
foi minguando em segundas e terças
e meu homem, minha besta
voltou novo e repetido
como se fosse ficar até sexta
três dias de ele chegando de madrugada
Três dias de ele nadando na minha água
Conversas de homem e mulher
beijo na boca
tirar a roupa
novos latidos de ilusão no meu duvido
meu homem partiu na derradeira manhã
todo agradecido
dos momentos de amor que uivou comigo
eu fiquei lua sozinha no céu com aquela saudade amarela
e ele na terra cantando latindo partindo
uivando pra ela.
***
O BREU
meu eu
Deus meu
Alguém chamou minha mãe
e não pediu a mim
Alguém de algum Deus, algum querubim
retirou-a de cena sem a minha permissão
Alguém arrancou-me o umbigo
sem falar comigo
Alguém, de alguma misteriosa verdade,
Puxou-lhe o fio da vida, a echarpe, a pipa, a idade
Alguém anjo a levou pra compor outro coral
Alguém roubou de mim a sua voz
e sua música que era o meu melhor vento
Adeus moqueca, adeus convento,
Alguém levou meu mundo, meu invento,
minha bruxa boa, meu ungüento
Estou ainda de vestido azul de bolinha
calcinha de babado, sentada na calçada, sozinha
Minha mãe não está na cozinha, no piano, na aula, na vizinha
Alguém badalou meia-noite e a Cinderela virou açoite, pernoite.
É breu, Deus... um buraco fundo, um vão sem chão, o infortúnio
Quero ao menos que, ao morrer o criador, não se vá também a criatura.
Está escuro, quero luz, dá-me a luz...
Alguém desatarraxou daqui minha lâmpada maravilhosa
Agora não posso mais ter febre
Agora ninguém mais reza e não há compressa
Agora eu estou com pressa.
Elisa Lucinda, In: "O Semelhante", Ed. Record 2006.
***
INCOMPREENSÃO DOS MISTÉRIOS
Saudades de minha mãe.
Sua morte faz um ano e um fato
Essa coisa fez
eu brigar pela primeira vez
com a natureza das coisas:
que desperdício, que descuido
que burrice de Deus!
Não de ela perder a vida
mas a vida de perdê-la.
Olho pra ela e seu retrato.
Nesse dia, Deus deu uma saidinha
e o vice era fraco.
Elisa Lucinda, In: "O Semelhante", Ed. Record 2006.
***
Para ver mais:
- Site da poeta: http://casapoema.com.br/
- Blog sobre o trabalho da poeta: http://afuriadeelisa.blogspot.com/
- Vídeo do poema "Só de Sacanagem", por Elisa Lucinda: http://www.youtube.com/watch?v=iTFPPgYj5uQ
Como poeta, o trabalho de Elisa alcança uma musicalidade próxima da prosa, é arrojado, inteligente e inteligível e tem a marca da guerreira fêmea que busca com convicção um lugar ao sol do mundo contemporâneo e globalizado. Uma poesia própria para ser lida à viva voz e que faz de sua autora "a grande dama moderna da poesia brasileira falada" de nossos dias. Seus livros de poemas costumam coincidir com a montagem de espetáculos teatrais onde a própria poeta-atriz faz a leitura de poemas do livro, e que ela costuma levar às importantes capitais do país. Quem puder assistir, por favor, não hesite! Uma deliciosa leitura para todos vocês!
UM POUCO SOBRE A POETA
Elisa Lucinda dos Campos Gomes nasceu em Vitória-ES em 2 de fevereiro de 1958, aos 11 anos ela participou de um curso de interpretação teatral de poesia, ministrado pela professora Maria Filina Salles Sá de Miranda, quando começa a declamar poemas. Formou-se em jornalismo em 1982 e chegou a exercer a profissão de jornalista por alguns anos, mas em 1986 mudou-se para o Rio de Janeiro, disposta a seguir a carreira de atriz. Trabalhou em algumas peças, como "Rosa, um Musical Brasileiro", sob direção de Domingos de Oliveira, e "Bukowski, Bicho Solto no Mundo", sob direção de Ticiana Studart. Integrou o elenco do filme "A Causa Secreta", de Sérgio Bianchi. Seu primeiro trabalho na televisão foi na telenovela "Kananga do Japão", em 1989, na antiga TV Manchete.
Fez várias apresentações teatrais, com declamação de seus poemas, e algumas com a participação especial de Paulo José. No mesmo formato apresentou em seguida "Euteamo Semelhante". Acredita no poema vivo pela declamação, tanto que criou uma associação no Rio de Janeiro de estudo de declamação que promove saraus. Atualmente a poeta excursiona pelo país com mais um espetáculo solo, “Parem de falar mal da rotina”.
Em 2010, a atriz foi agraciada com o "Trofeu Raça Negra 2010" pelo sua contribuição à cultura brasileira.
Em 2011, a poetisa foi entrevistada no programa online "Filossofá - Desertores do Cotidiano", gravado em um sofá, em cima das dunas de Itaúnas, no Espírito Santo. Itaúnas é o lugar em que Elisa passa as férias e que mantém uma "casa-poema".
A poeta ainda mantém a “Escola Lucinda de Poesia Viva” (veja site http://www.escolalucinda.com.br/bau.htm/), no Rio de Janeiro, onde ensina interpretação teatral da poesia seguindo o lema: “Falando poesia sem ser chato”.
Livros:
* A Menina Transparente
* Euteamo e suas estréias
* O Semelhante
* Coleção Amigo Oculto (trilogia infantil).
* Contos de Vista
* A Fúria da Beleza (2006)
* Lili a rainha das escolhas
* Parem de Falar Mal da Rotina(2010)
CDs de poesias:
* Semelhante - sob o selo da gravadora Rob Digital
* Euteamo e suas Estréias - sob o selo da gravadora Rob Digital
* Notícias de Mim, com poemas da poeta paulista Sandra Falcone, participação de Miguel Falabella, direção e produção de Gerson Steves. O CD é resultado do espetáculo homônimo com roteiro e direção de Steves.
Em Telenovelas:
* 2011 - Insensato Coração .... Vilma
* 2009 - Viver a Vida .... Rita
* 2006 - Páginas da Vida .... Selma
* 2003 - Mulheres Apaixonadas .... Pérola
* 1995 - Sangue do Meu Sangue .... Beatriz
* 1990 - Araponga
* 1990 - Escrava Anastácia.... Ermelinda (Yatunji)
* 1989 - Kananga do Japão .... Sueli
Séries:
* 1997 - Você Decide - episódio: Preconceito
No Cinema:
* 2003 - Gregório de Matos
* 2003 - As Alegres Comadres .... Mrs. Rocha
* 2002 - Seja o que Deus Quiser
* 2001 - A Morte da Mulata
* 1997 - O Testamento do Senhor Napumoceno .... Dona Jóia
* 1994 - A Causa Secreta
* 1990 - Barrela: Escola de Crimes
TRÊS POEMAS DE ELISA LUCINDA
LATE ILUSÃO
Em noite de lua cheia
geme ao meu lado o meu cão
acabado de chegar
late ilusões ao meu ouvido
e meu sentido
diz que ele veio pra ficar
Mas a vida passa e vira
páginas da folhinha
o que era cheia e domingo
foi minguando em segundas e terças
e meu homem, minha besta
voltou novo e repetido
como se fosse ficar até sexta
três dias de ele chegando de madrugada
Três dias de ele nadando na minha água
Conversas de homem e mulher
beijo na boca
tirar a roupa
novos latidos de ilusão no meu duvido
meu homem partiu na derradeira manhã
todo agradecido
dos momentos de amor que uivou comigo
eu fiquei lua sozinha no céu com aquela saudade amarela
e ele na terra cantando latindo partindo
uivando pra ela.
***
O BREU
meu eu
Deus meu
Alguém chamou minha mãe
e não pediu a mim
Alguém de algum Deus, algum querubim
retirou-a de cena sem a minha permissão
Alguém arrancou-me o umbigo
sem falar comigo
Alguém, de alguma misteriosa verdade,
Puxou-lhe o fio da vida, a echarpe, a pipa, a idade
Alguém anjo a levou pra compor outro coral
Alguém roubou de mim a sua voz
e sua música que era o meu melhor vento
Adeus moqueca, adeus convento,
Alguém levou meu mundo, meu invento,
minha bruxa boa, meu ungüento
Estou ainda de vestido azul de bolinha
calcinha de babado, sentada na calçada, sozinha
Minha mãe não está na cozinha, no piano, na aula, na vizinha
Alguém badalou meia-noite e a Cinderela virou açoite, pernoite.
É breu, Deus... um buraco fundo, um vão sem chão, o infortúnio
Quero ao menos que, ao morrer o criador, não se vá também a criatura.
Está escuro, quero luz, dá-me a luz...
Alguém desatarraxou daqui minha lâmpada maravilhosa
Agora não posso mais ter febre
Agora ninguém mais reza e não há compressa
Agora eu estou com pressa.
Elisa Lucinda, In: "O Semelhante", Ed. Record 2006.
***
INCOMPREENSÃO DOS MISTÉRIOS
Saudades de minha mãe.
Sua morte faz um ano e um fato
Essa coisa fez
eu brigar pela primeira vez
com a natureza das coisas:
que desperdício, que descuido
que burrice de Deus!
Não de ela perder a vida
mas a vida de perdê-la.
Olho pra ela e seu retrato.
Nesse dia, Deus deu uma saidinha
e o vice era fraco.
Elisa Lucinda, In: "O Semelhante", Ed. Record 2006.
***
Para ver mais:
- Site da poeta: http://casapoema.com.br/
- Blog sobre o trabalho da poeta: http://afuriadeelisa.blogspot.com/
- Vídeo do poema "Só de Sacanagem", por Elisa Lucinda: http://www.youtube.com/watch?v=iTFPPgYj5uQ
- Vídeo do poema "Aviso da Lua que Menstrua", por Elisa Lucinda: http://www.youtube.com/watch?v=K4hu3Jbh0AY&feature=related
Ilustrações: 1- foto da poeta Elisa Lucinda; 2- foto da capa do livro "Semelhante", de Elisa Lucinda; 3- "Forças da Natureza", do pintor Di Cavalcanti; 4- "Mãe Negra", do pintor Di Cavalcanti.
Altair de Oliveira (poesia.comentada@gmail.com), poeta, escreve quinzenalmente às segundas-feiras no ContemporARTES a coluna "Poesia Comovida" e conta com participação eventual de colaboradores especiais.
1 comentários:
Altair, belos textos de Elisa... Obrigado por compartilhar.
19 de abril de 2011 às 08:50"Nesse dia, Deus deu uma saidinha
e o vice era fraco."
Postar um comentário
Seja educado. Comentários de teor ofensivo serão deletados.