domingo, 17 de abril de 2011

Pelos olhos do Guilherme rememoro minha infância (parte 1/2)




Não posso deixar a minha Sony Cyber-shot ou o meu celular a vista, que o Guilherme sai pela sua ainda breve vida a registrar em imagens o mundo à sua volta.

Fotografia 1: Ao tirar mais uma foto da televisão (são várias) buscando registrar os seus desenhos favoritos, sua imagem segurando a câmara digital reflete no tubo da tv; um auto-retrato de cuecas, uma imagem a revelar sua ação, a animação com a brincadeira. Ele sabe que o captado permanece, retoma as fotografias uma a uma, na própria máquina ou depois, no meu computador. No fundo a silhueta de sua mãe se olhando no espelho da sala do nosso apartamento. Janeiro de 2011.
 
Guilherme Reis Mattos Duarte Lima, meu neto, 4 anos, filho da minha querida Natália, tem um tio um pouco mais velho, meu amado João Vitor de 8 anos. Moramos todos em um pequeno apartamento alugado no bairro de Cantagalo em Três Rios/RJ.
São centenas de imagens captadas em um período muito curto. A maioria destas tenho guardado – são imagens digitalizadas, no meu Neopc e em dvds devidamente gravadas. A cada oportunidade de revelar por onde percorre o seu olhar, me encontro fascinado, animado mesmo, assim como descreve Barthes:

Nesse deserto lúgubre, me surge, de repente, tal foto; ela anima e eu a animo. Portanto, é assim que devo nomear a atração que a faz existir: uma animação. A própria foto não é em nada animada (não acredito nas fotos “vivas”) [não será neste artigo que discordarei de Barthes, mas, há vida nas fotografias, pois são lugares de memória] mas ela me anima: é o que toda aventura produz. [1]

O desejo de expressar em um artigo este “estado de animação” vinha ficando em separado, pois no momento o pouco do tempo dos meus dias é dedicado aos estudos e construção da dissertação de mestrado. Mas hoje, ao transferir mais umas tantas imagens registradas pelo Gui, me deparei com a fotografia 1, e... lá estava ele, no gesto, na ação de fotografar, auto se retratando sem assim o perceber, refletido no tubo da televisão.
Dubois afirma que...
 “é a fotografia, antes de qualquer outra consideração representativa, antes mesmo de ser uma imagem que reproduz as aparências de um objeto, de uma pessoa ou de um espetáculo do mundo, é em primeiro lugar, essencialmente, da ordem da impressão, do traço, da marca e do registro (marca registrada, diria Denis Roche). [1]

Fotografias 2 e 3: Sua mochila destacando os “heróis” do Hot Wheels (seu mundo esta repleto de heróis) e seu tio João Vitor dormindo. A relação dos dois é de muito carinho, com as provocações inerentes a idade e ao convívio como irmãos. Objetos, pessoas, espaços de sua vida.  Janeiro de 2011, imagem registrada pela Sony Cyber-shot.

Suas fotografias são registros, traços do mundo que consegue observar com a atenção e preferências da sua idade. Os brinquedos, os bonecos seus heróis, os espaços do apartamento (sala, seu quarto, o meu quarto, a cozinha), sua mãe, seu tio, seu avô, sua mochila do colégio, as capas dos seus dvds favoritos, os decalques colados no caderno ou nas mobílias, os desenhos na tv, seu rosto. Quando na casa da sua bisavó, a atenção se volta para as primas Nicole e Clara, para o Tuffy o gato e também para o espaço entorno; na rua, são as motos, os carros, o antigo prédio onde moramos e o atual, a rua ao lado do apartamento onde brinca com o tio, meu carro, o estacionamento improvisado... seu espaço de vida. Não tenho condições de expor todas neste artigo, apenas aquelas mais representativas do universo por mim descrito.




André Luiz Reis Mattos Mestrando em História Cultural pela Universidade Severino Sombra – Vassouras/RJ



A Contemporartes agradece a publicação e avisa que seu espaço continua aberto para produções artísticas de seus leitores.





[1] DUBOIS, Philippe. “O Ato Fotográfico”. Papirus Editora. Campinas/SP. 12ª edição, 2009, pp 61.



[1] BARTHES, Roland. “A Câmara Clara”. Rio de Janeiro. Editora Nova Fronteira. 2008, pp 127.
[2] DUBOIS, Philippe. “O Ato Fotográfico”. Papirus Editora. Campinas/SP. 12ª edição, 2009, pp 61.

1 comentários:

Evandro Santos disse...

muito legal nessa parte sua imagem segurando a câmara digital reflete no tubo da tv; um auto-retrato de cuecas, uma imagem a revelar sua ação, a animação com a brincadeira. eu adorava tirar fotos dos canais e o comum eu de cuecas kkkkk bons tempos que tive o guilherme e igualzinho a mim.

6 de março de 2012 às 17:16

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