segunda-feira, 25 de abril de 2011

COELHINHO DA PÁSCOA, O QUE TRAZES PRA MIM?



MOMENTO REFLEXIVO DE EUNICE, RAQUEL, TOBI E SEUS AMIGUINHOS.

Hoje a coluna uni.verso vai abrir uma exceção, um espaço muito especial pós-páscoa, chocolates e momentos de reflexão, para uma prosa da querida e admirável amiga e escritora Eunice Garcia.

Membro do Espaço Literário “Nelly Rocha Galassi” (Americana/SP), começou a escrever para crianças em 2001.

Autora de “As aventuras de Briny e Spify no planeta Terra” (Editora Adonis - Americana/SP), participou ainda das Antologias “Via Palavra 9”, “Via Palavra 10” (Editora EME) e da Antologia Internacional “Haiti – aqui estamos” pela Real Academia de Letras do Rio Grande do Sul.

Pessoa extremamente delicada e sensível, em cada uma das linhas, e também nas entrelinhas, Eunice mostra o perfeito domínio das letras, das palavras, tanto na técnica como na forma e no conteúdo. Um estilo inconfundível, único, inspirador; um grande exemplo da boa literatura. Este seu conto, além da forte mensagem, vem recheado de sentimentos, momentos inesquecíveis e de muita poesia. Delicie-se.

UM CONTO DE PÁSCOA

Quando dei por mim, estava sentado em uma mesa, entre caixas de bombons, ovos de páscoa e embrulhos coloridos. O perfume que havia naqueles pacotes de puro chocolate, me deixavam com água na boca. Mesmo sendo um coelhinho de pelúcia, eu tenho muitos sentidos: até posso pensar!
Naquela noite, a casa encheu-se de gente. E num determinado momento, uma garotinha linda, linda como um anjo, me tomou nos braços.
_ O meu coelhinho de pelúcia – ela disse, toda feliz – o meu presente de Páscoa!
Todos me admiraram e eu passei de colo em colo, até voltar aos braços de Raquel. Pois este era o nome da minha dona.
Começou aí a época mais feliz da minha vida. Eu participava de todas as brincadeiras e até viajava com Raquel e sua família.
Certo dia, Tobi, o cachorrinho da casa, morreu. Raquel soluçou a noite toda, até encharcou a minha pelúcia. No outro dia, mais consolada, ela me disse:
_ Sr. Coelhinho, o Tobi está no céu dos cachorrinhos. E encerrou o assunto.
Ah! O tempo que os humanos contam, como passa de pressa.
Raquel se transformou numa linda mocinha e eu fui colocado numa prateleira em seu quarto. A minha pelúcia estava bem desbotada e as minhas orelhas não mais se erguiam, por mais que eu tentasse
Mas, não pensem que tudo era tristeza, não. À noite eu saia pela casa acompanhado do meu melhor amigo e colega de prateleira: um soldadinho de chumbo.
O meu amigo sabia contar muitas histórias e eu não me cansava de ouvi-las.
Nossas brincadeiras só terminavam com os primeiros raios de sol. E não voltávamos à prateleira.
Certo dia, a mãe de Raquel entrou no quarto com um decorador.
_ Este quarto está muito infantil; quero uma decoração própria para uma mocinha – ela disse.
Em seguida, começaram a fazer uma lista do que sairia e o que ficaria. O meu amigo e eu ficamos muito apreensivos; tínhamos certeza de que não permaneceríamos ali.
Fomos para a sala naquela noite e ficamos sentados no tapete, sem vontade de brincar.
A partir daí, tudo aconteceu rapidamente. Fomos colocados dentro de caixas com muitos outros objetos e hoje moramos no sótão da casa.
À noite, sentamos na pequena janela do sótão e olhamos as estrelas que cintilam lindamente. A lua, quando está cheia, nos dá a impressão de que podemos tocá-la. E quando uma estrela cadente risca o céu aproveitamos para fazer um pedido.
O que pedimos? Ah! Sim. Eu peço para ir para o céu dos coelhinhos de pelúcia, quando tudo terminar, e o meu amigo para o céu dos soldadinhos de chumbo.


Para não dizer que não falei também do lado poeta de Eunice Garcia, a seguir, uma das suas belas incursões pelo uni.verso do poema.


SE EU PUDESSE
Em memória de Adão P. Garcia,
cuja alma repousa nas águas pantaneiras.

Ah! Se eu pudesse
Fragmentar a saudade
E diluir no tempo
Esta tristeza imensa.
Se eu pudesse operar milagres
Trilhar o teu caminho
Como se fosse meu
Doar o meu caminho
Para que seja teu.
Se eu pudesse emprestar meus olhos
Para a tua mirada
Silenciar meus lábios
No silêncio teu
No espaço capturar
A dimensão que habitas
E nesta, onde existo,
Para sempre entrelaçar...
Ah! Se eu pudesse entender
O porquê das ausências
O porquê das partidas
E este percurso estranho
Que é a vida.

Abraços literários e até +.


7 comentários:

edweinels disse...

Sensivel o trabalho, poetico e de prosa, da escritora Eunice Garcia. Aquele que usa o dom para fazer a crianca viajar pela imaginacao merece todos os aplausos. Parabens a Eunice, pela obra, e a Geraldo, pelo belissimo artigo.

Abracos do amigo.

Edweine

25 de abril de 2011 às 08:36
geraldo trombin disse...

Obrigado, Ed. A Eunice tem trabalhos belíssimos!

25 de abril de 2011 às 08:59
Tatiana disse...

Muito tocantes os textos da Eunice. Obrigada por dividi-la conosco, Gê.
Um beijão aos dois
Tatiana

25 de abril de 2011 às 11:13
geraldo trombin disse...

Realmente, Tati... não teria como não compartilhar... Bjos a você e ao Andre e ao filhote!

25 de abril de 2011 às 11:21
geraldo trombin disse...

A amiga e poetisa Wilma também mandou seu recadinho que divulgo abaixo muito agradecido:

Oi Geraldo, é pleonasmo dizer dos trabalhos da Eunice, são divinos, maravilhosos. Parabéns pra você pelo blog e para ela, cuja amizade prezo e admiro, pela força e inspiração ... abração.

wilma moraes

25 de abril de 2011 às 16:39
Sérgio Bernardo disse...

Conto de final surpreendente, que deixa na gente uma dúvida: onde terá sido a Eunice mais poeta, no conto ou no poema? Obrigado por me apresentar a essa bela escritora, Geraldo. Abraços aos dois!

25 de abril de 2011 às 18:20
geraldo trombin disse...

Eis mesmo a dúvida, Sergio! A Eunice tem mania de guardar seus tesouros. Mas a gente vai lá e "cafuncha" e divulga, mesmo sem ela saber... abraços

25 de abril de 2011 às 18:35

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