Pelos olhos do Guilherme rememoro minha infância (parte 2/2)
É a fotografia um lugar de lembranças, que permite ao seu observador o rememorar do passado, pois “não fala (forçosamente) daquilo que não é mais, mas apenas e com certeza daquilo que foi;” (Barthes) [1]; não é memória, mas o testemunho, a lembrança de um sujeito ou de um grupo social, num determinado tempo histórico, podendo esta assumir lugar no quadro de referências de nossas lembranças.
“Se o que vemos hoje toma lugar no quadro de referências de nossas lembranças antigas, inversamente essas lembranças se adaptam ao conjunto de nossas percepções do presente... Podemos reconstruir um conjunto de lembranças de maneira a reconhecê-lo porque eles concordam no essencial, apesar de certas divergências.” [2]
Fotografias 4, 5, 6, e 7: Na seqüência: Eu no meu carro quando estávamos aguardando o JV sair do colégio, o recorte da propaganda de um brinquedo que deseja pedir ao pai, sua mãe Natália e os decalques de seus heróis colados em um caderno. Janeiro e fevereiro de 2011.
Neste momento ao me animar com os olhares que o Guilherme dirige e registra do seu mundo, relembro através de suas fotografias, o meu mundo da infância, pois estas imagens retiram do esquecimento os lugares, as pessoas, os objetos da minha memória pessoal, diversos destes, mas com a mesma representatividade, e na mesma perspectiva (o perceber de uma criança com 1 metro e pouco é diferente da de um adulto) e estas lembranças retornam também na forma de imagens que revivem em meu pensamento.
“Não esqueçamos que a memória parte do presente, de um presente ávido pelo passado, cuja percepção “é a apropriação veemente do que nós sabemos que não nos pertence mais,”” e a imagem fotográfica é “uma coisa viva... que sobe do passado com todo o seu frescor. Chamada de novo, trabalhada pela percepção do agora, arrisca-se a fugir da captura de um presente que não se reconhece nela.” [3] Amanhã, num futuro, estas fotografias permanecendo e farei questão que isto ocorra, serão lugares de lembrança do meu querido Guilherme, rememoradas com certeza em qualquer tempo, mais do que o reviver de imagens do passado, serão a confirmação da história de uma vida.
Fotografias 8, 9, 10 e 11: Representativa a imagem em que o Gui registra um porta-retratos onde esta uma fotografia do JV com ele ainda neném no colo. A seguir temos o registro do corredor do nosso apartamento, do momento em que guardo o meu carro na garagem com o JV assistindo, alguns dos seus espaços de vida, e a imagem do seu rosto; todas as fotografias de fevereiro de 2011.
Diante dessas representações imagéticas poderá você amigo(a) com quem divido estas linhas tecer outras considerações, perceber outras “realidades” que aqui não foram abordados, até porque “a natureza que fala à câmara não é a mesma que fala ao olhar; ... Só a fotografia revela esse inconsciente ótico [o que não pode ser percebido detalhadamente pelos olhos na fração de segundos que a fotografia transforma em imagem estática], como só a psicanálise revela o inconsciente pulsional.” [4]
Se desejar divida então suas impressões através do espaço dos comentários, porque para mim, pelos olhos do meu neto Guilherme, rememoro a minha infância.
Fotografias 12, 13, 14 e 15: Um dos seus desenhos favoritos em imagem registrada diretamente da televisão, sua prima Clara na casa de sua bisavó Marlene, o gato de sua bisavó, Tuffy Schow, e uma fotografia do brinquedo conhecido como totó, de uma pousada onde ficamos em Rio das Flores/RJ, nas férias de janeiro de 2011. Todas as fotos realizadas com a Sony Cyber-shot neste mesmo mês.
A Contemporartes agradece a publicação e avisa que seu espaço continua aberto para produções artísticas de seus leitores.
André Luiz Reis Mattos é Mestrando em História Cultural pela Universidade Severino Sombra – Vassouras/RJ
A Contemporartes agradece a publicação e avisa que seu espaço continua aberto para produções artísticas de seus leitores.
[1] Idem 1, pp 127.
[2] HALBWACHS, Maurice. “A Memória Coletiva”. Centauro Editora, São Paulo/SP. 2ª Edição, 2006, 4ª Reimpressão, 2009, pp 29.
[3] BOSI, Ecléa. “O Tempo Vivo da Memória. Ensaios de Psicologia Social”. Ateliê Editorial. São Paulo/SP, 2ª Edição, 2004, a autora cita também neste trecho P. Nora, pp 20.
[4] BENJAMIN, Walter. “Pequena História da Fotografia”, in “Walter Benjamin – Obras Escolhidas Vol. I – Magia e Técnica, Arte e Política.” São Paulo. Editora Brasiliense. 11ª Reimpressão. 2008, pp 94.
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