Amado Capitão
Já culminava à meia-noite, a lua elucidava a pequena cidade de Camamu, na Bahia. Era uma noite triste e com o passar das horas luzes iluminavam o interior dos acanhados casebres, gatos miavam nos becos e, como de costume, raparigas esperavam pelos viajantes que viriam a desembarcar no porto. Ansiosa eu esperava por meu amado, eis que estava disposta a passar a noite observando os reflexos do mar, as estrelas do céu, até que meu amado Capitão chegasse e a saudade que me amargurava a cada segundo acabasse.
Aos poucos recordava o primeiro encontro, à troca de olhares, o redemoinho no estômago, o primeiro e inesquecível beijo e mais tarde, o nosso enlace. Um amor avassalador, ora doentio, ora sadio. A espera continuava e finalmente ouvi o apito e a luz ainda longe. Uma nova brisa soprava meus cabelos e me levantara o ânimo.
O tempo foi consumindo e à medida que os viajantes desembarcavam meu coração disparava. Era muito tempo sem uma palavra sussurrada ao ouvido, um beijo, um toque.
No semblante dos marinheiros notei tristeza e aflição, pareciam esconder-me algo e soluçando vertia insondáveis lágrimas imaginando o que poderia ter acontecido. Enfim, a notícia: meu amado capitão havia se afastado para sempre. A morte o levara discreto e surdamente para onde eu não poderia encontrá-lo.
Hoje percebo que o tempo passa, mas há instantes que ficam. E vejo muitas pessoas viverem de certezas. Outras, porém, de incertezas. Eu continuo a viver do mais sublime sentimento: o amor.
Penso que um dia o tocarei e o meu fascínio por seus olhos voltará a satisfazer todos os meus desejos. Toda noite me vejo junto dele e hoje estou a desfrutar novamente dos raios da lua refletindo sobre o mar, que um dia hão de me levar para junto dele, o meu Amado Capitão.
A Contemporartes agradece a publicação e avisa que seu espaço continua aberto para produções artísticas de seus leitores.
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