quarta-feira, 29 de junho de 2011

As mil e uma faces da Monalisa


Um conceito muito importante para a História Cultural é o da representação. A realidade e a verdade se distanciam do objeto do historiador e em seu lugar ocupam as representações, suas práticas e discursos. Roger Chartier define esse conceito dessa maneira: "instrumento de um conhecimento mediador que faz ver um objeto ausente através da substituição por uma imagem capaz de o reconstituir em memória e de o figurar como ele é”. A representação ocupa o espaço do ausente (realidade) e ao mesmo tempo o torna presente em uma dualidade epistemológica. Porém, ela não tem somente o poder de representar, tomando a realidade como foco, mas de transgredir, subverter, criticar. É o que acontece com a crítica que Chaplin faz de Adolf Hitler no filme O Grande Ditador. O estadista é ridicularizado, não se comporta adequadamente em eventos públicos, disputa miúdos com Mussolini, mas é uma representação não só cômica, como crítica de seu autoritarismo e abusos de poder. 
Pensando nesse conceito, fiz uma pesquisa na internet sobre a obra clássica de Leonardo Da Vinci, a Monalisa, pintada por ele no século XVI. Experimentem, são múltiplas as representações "modernas" e releituras da obra, é um exercício divertido para vislumbrarmos elementos do imaginário do século XXI, seus valores, crenças, concepções de mundo, medos e sonhos.

A Monalisa moderna ganha os estereótipos da ditadura da beleza - silicone nos seios, cabelos loiros (provavelmente tingidos) com chapinha, botox nos lábios. Representação de uma estética homogênea cujos símbolos circulam por filmes, programas televisivos e revistas masculinas.

Outra beleza feminina - caracterizada pelo uso da burca por alguns grupos da religião islâmica. O olhar ocidental se assusta com a mulher inteiramente coberta sinônimo para ele de falta de liberdade e opressão. O olhar se destaca e também o mistério. As cores sóbrias da burca fazem menção à sisudez das normas religiosas.

Mais uma vez os traços da beleza ocidental - a homogeneização da estética se fazem presentes - barbie: mulher branca, loura, de olhos claros, nariz fino e com uma coroa de princesa. O imaginário da mulher bela associada aos contos infantis ocidentais que exaltavam valores como a brancura da pele e a beleza européia nórdica com uma magreza doentia. Longe da variedade da beleza das mulheres do mundo, se elege um só padrão de beleza.
Aqui, a Monalisa moderna é deslocada para outro cenário - uma lanchonete de fast food. Valores são veiculados como os relacionados à alimentação ("coma rápido, seu tempo é ouro"), a postura dos braços também muda para uma atitude mais informal, ela se curva á mesa, está mais a vontade. Seus cabelos ganham cachos e sua roupa anteriormente austera vira uma camiseta. Inclusive pulseiras adornam seu pulso. A Monalisa moderna deve ser bela, magra, mas deve consumir hamburgueres com milhares de calorias. Contradições da vida moderna?

Para ver mais montagens, veja o blog de Andrea Savoia.

Leia mais sobre representação e seu conceito em:
CHARTIER, R. O mundo como representação. Estudos Avançados. Vol. 5, no. 11. São Paulo: jan. abril de 1991. 

Radar Contemporartes

Amanhã: 6o. encontro do Café com PP, no campus Sigma (São Bernardo do Campo) da UFABC.


Concurso para escritoras mulheres... até amanhã são as inscrições.





Lançamento
Revista on line de produtores para produtores. Nr. 5, maio de 2011










Ana Maria Dietrich é professora adjunta da UFABC e coordenadora da Contemporartes - Revista de Difusão Cultural junto a Rodrigo Machado.

1 comentários:

discutindo educação e história disse...

Adorei Ana, muito inteligente e criativo

29 de junho de 2011 às 21:46

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