quinta-feira, 16 de junho de 2011

O OLHAR ESTRANGEIRO de MAUREEN BISILLIAT



Em cartaz no Museu Oscar Niemayer (MON) em Curitiba, a exposição da fotógrafa inglesa naturalizada brasileira, Maureen Bisilliat.
Nascida no ano de 1931 em Surrey, veio pela primeira vez ao Brasil em 1952 fixando-se definitivamente no país em 1957, em São Paulo. Nas palavras da fotógrafa, "o Brasil foi uma procura de raízes, que eu não tive quando criança. Nasci na Inglaterra, mas vivi em muitos lugares. Meu pai era diplomata, o que me obrigou a uma vida meio camaleônica. O destino me amarrou ao Brasil. Foi um ficar querendo."
Trabalhou como fotojornalista para a Editora Abril entre 1964 e 1972 na revista Quatro Rodas mas se destacou sobretudo na extinta revista Realidade.
Em 50 anos de intensa atividade, Bisilliat conseguiu produzir uma obra autoral, onde registra as cores e a multiplicidade do povo brasileiro, e em destaque a série onde busca retratar os personagens de grandes escritores da literatura brasileira.
Em dezembro de 2003 sua obra fotográfica completa com mais de 16.000 imagens, incluindo fotografias, negativos preto e branco e cromos coloridos, nos formatos 35mm e 6cmx6cm, foi incorporada ao acervo fotográfico do Instituto Moreira Salles.

Nas palavras de Paulino Viapiana, Secretário de Estado da Cultura, tradicionalmente as imagens acompanham textos como um caminho de dar forma à imaginação. Mas mais do que ilustrar, as fotos de Bisilliat são o próprio texto, ela é de fato uma fotógrafa que escreve. Com todas as imagens.
Consegue dar forma, traduzir, materializar, tridimensionar as palavras de mestres como Euclides da Cunha, Guimarães Rosa, João Cabral de Melo Neto, Jorge Amado, Adélia Prado dentre tantos outros que serviram de fonte para seu trabalho.

Suas fotos dão outro sentido à alma do sertão que parece não ter alma. Nelas podemos sentir a presença do calor, da seca, da aridez, e também da luz, umidade, cor e transparência.
Mesmo que a artista ache ser impossível aprisionar a alma, suas fotos a revelam. Registram o vigor, o sopro dos ventos que a limpa e a deixa à mostra. Ela consegue captar imagens de anjos de cara e pele pretas e ir para além da cor, do pó, do árido, do sertão.
De retratar o calor do sol, a simplicidade e a leveza da alma em meio à lama. Pura poesia, prosa ou romance. Pura literatura.












Para a fotógrafa, a exposição é "um chamado ao passado, e tem me dado, apesar das dúvidas sem fim, o prazer de um reencontro com um eu perdido no tempo: um algo de mim em outras dimensões."





Izabel Liviski é Fotógrafa e Mestre em Sociologia pela UFPR. Pesquisadora de História da Arte, Sociologia da Imagem e Antropologia Visual.  Escreve quinzenalmente às 5as feiras na Revista ContemporArtes.



1 comentários:

Ana Dietrich disse...

adorei as fotos dela, mostram nosso povo, mas sem ar de piedade, apenas de transparência. bjs querida bel.

19 de junho de 2011 às 00:39

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