terça-feira, 2 de agosto de 2011

Crítica Fílmica: Os Famosos e os Duendes da Morte




"Estar perto não é físico". É essa a frase que marca o filme brasileiro Os Famosos e os Duendes da Morte. Apesar de o título remeter em primeiro momento aos filmes da Xuxa, a comparação é totalmente equivocada. O filme de Esmir Filho trabalha de forma sutil e bem temperada temas comuns à vida, sem cair na mesmice e no grave erro de inúmeras obras, brasileiras e internacionais, a ênfase nos estereótipos e caricaturas.

A sinopse divulgada pela produtora do filme relata acerca de um garoto de 16 anos, fã de Bob Dylan, que tem acesso ao restante do mundo apenas por meio da internet. E assim ele vê os dias passarem em uma pequena cidade rural de colonização alemã no sul do Brasil. Até que uma figura misteriosa o faz mergulhar em lembranças e num mundo além da realidade.

O resumo dado à história pode até parecer desinteressante, ou ainda fraco. Mas não julgue o livro pela capa, ou o filme pela sinopse, o filme vai muito além. A película traz questões como os desejos do ser - humano, as vontades inconscientes, o medo, a coragem, metas, conquistas e o desejo de liberdade... Liberdade de ser e sentir o que se quer.

A temática, aparentemente adolescente, parece ser facilmente transposta a qualquer outra realidade e em qualquer roteiro de cinema. Mas percebemos ao longo do filme como essa não é uma tarefa fácil. Afinal, quem nunca se viu perdido em alguma etapa da vida? No filme é possível perceber esse ‘sufocamento’ da sociedade atual imposto ideologicamente e, ainda sentir como somos incompletos e nos acomodamos. A transposição desses ícones é feita de forma sublime.

O filme de Esmir Filho conta com um elenco de atores desconhecidos pelo grande público, inclusive porque não eram atores profissionais, até então. Este, talvez, tenha sido um triunfo para o filme, pois conseguiu fugir da questão de figurinhas repetidas e ainda pode fazer uma excelente obra. Porém, um ato falho da produtora do filme, a Warner Brasil, foi não divulgar o filme por todo o Brasil. Ainda assim, a produção ganhou dois prêmios no Festival do Rio em 2009 e mais outros 3 no Festival Internacional de Guadalajara.
Para ser bom não precisa ser uma produção milionária com propagadas "pregues" e milionárias. Redundante falar isso? Mas trata-se de uma verdade: muitos filmes são sucesso por terem um alto teor de qualidade na propaganda, o filme nem tanto. Como exemplo, cito Avatar, um filme de imagens boas, mas que peca em todos os outros aspectos, principalmente em um roteiro clichê, repetitivo, extenso e fraco, o que resume tudo o que já disse.

Logo, afirmo que Os Famosos e os Duendes da Morte, mesmo não sendo uma produção de Hollywood, e ainda se quer tendo um nome bonito e chamativo, preza e chama a atenção pela qualidade fílmica da obra, deixando diversos outros filmes no chinelo. Estou sendo bem enfático, pois uma produção dessas não deveria ser esquecida pelo Cinema Nacional Brasileiro.





Renato Dering graduou-se em Letras pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e atualmente é mestrando em Literatura, pelo Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal de Viçosa (UFV). Desenvolve pesquisa na área de Literatura e Cultura de Massa, além de estudos sobre o contística e cinema. Contato: renatodering@gmail.com


A Contemporartes agradece a publicação e avisa que seu espaço continua aberto para produções artísticas de seus leitores.

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