HOMENS QUE USAM ROSA
A VIOLENCIA CONTRA HOMENS QUE USAM ROSA
O movimento feminista que se desenvolveu a partir dos anos sessenta em sociedades ocidentais levou a uma explosão de estudos sobre/das mulheres, os women´s studies, que constituiu um “importante territorio de empeno intelectual en sí mismo”, como pensou J. Weeks, e influenciou muitas disciplinas acadêmicas, especialmente no campo das ciências sociais e humanas. No calor do desenvolvimento dos estudos sobre as mulheres surgiu, há cerca 15 anos na academia norteamericana - e mais tarde na Europa, um tipo de estudo que ficou conhecido como men´s studies, dos quais podemos citar, à guisa de exemplos, autores como Michael Flood, Lynne Segal, Michael Kimmel ou Robert Connell.
Como ocorreu com os estudos feministas, mas agora focado na masculinidade, os estudos masculinistas "procuram transformar a nossa compreensão da masculinidade e fazê-lo de uma forma que é mais ou menos respeitável do ponto academicamente, mas se renunciar ao compromisso político de caráter antisexista.
Assim, os estudos masculinistas formaram um novo campo de pesquisa teórico-social e integrados em diferentes departamentos universitários, destinam-se a explorar novas visões de masculinidade com base uma nova forma de abordagem da leitura de textos. Quebrando o paradigma universalizante, o de que há uma única e verdadeira forma de ser homem, essas opiniões são críticas aos valores masculinos que, na sua maioria, os homens ocidentais incorporam e assimilam e mostram seu apoio às reivindicações feministas de caráter igualitária. Exemplo emblemático dessa nova postura, é o apoio que tem sido dado às mulheres na sua luta contra a violência género, haja vista o http://www.activate.org.uy/, cujo slogan é LA VIOLENCIA CONTRA MUJERES Y NIÑAS ES UN PROBLEMA DE TODOS.
Lembrei disso porque nos últimos dois meses dois fatos mui interessantes chamaram-me a atenção. O primeiro deles aconteceu com um parente próximo em Cuiabá (MT). Ele, pai recente, cheio de vontade de exercer uma paternidade contemporânea, assumindo papéis outrora atribuído, somente, às mães/mulheres, resolveu trocar a fralda do seu filho, Gustavo, que acabara de fazer cocô. Eis a surpresa, o fraldário do Shopping 3 Américas (http://www.shopping3americas.com.br) fica dentro do banheiro feminino, ou seja, reforça a norma binária, os papéis performativos de gênero, fechando as possibilidades de abordarmos de maneira mais pluralista a questão da masculinidade, afinal, quando falamos de homens e mulheres na contemporaneidade, devemos fazê-lo de maneira mais abrangente, plural, pois essas categorias expressam uma variedade que não se encaixa mais em um único padrão.
O que é ser homem hoje? Ou melhor, como deve ser um homem hoje? Se pensarmos como Simone de Beauvoir pensou sobre a mulher em sua famosa frase "a mulher não nasce, mas torna-se”, podemos dizer que os homens, também, são construídos. E o que parece que estamos construindo é uma linha de manutenção do macho épico, aquele que não precisa assumir outras funções além do proverdor, racional e autoritário. E que usa a cor azul.
Assim, passo para o segundo fato que me chamou atenção, dessa vez, comigo mesmo. Em recente vicita a Campina Grande (PB), onde fui participar de uma Banca de Doutorado, fiquei hospedado num hotel mui simpático, o http://www.gardenhotelcampina.com/campina/campina.html. Quando subi ao quarto, mal tinha colocado minha mala sobre a cama, fui surpreendido pelo atendente que disse terem se equivocado na recepção, que aquele não era o meu porque era um quarto feminino. Ora, pensei curioso, o que isso quer dizer? Externei meu pensamento e perguntei. A resposta, carregada de cuidado e desculpas, foi a de que aquele quarto guardava algumas características femininas, como a parede na cor rosa e um espelho que aumenta a imagem em muitas vezes, como se fosse para maquiagem ou coisa parecida.
Recusei a sair, disse que a caor rosa me atraia e que combinava com a or da minha camisa e, quanto ao espelho, seria muito útil, me ajudaria a tirar os pelos da minha orelha e do meu nariz.
Resultado, ainda hoje, sobre a página em branco da natureza, estamos imprimindo características e ações fortemente binárias, como se pudéssemos afirmar com uma certeza indiscutível que há papéis que pertencem unicamente a um ou outro gênero, ou seja, continuamos trabalhando mal para desconstruir padrões tão arraigados em nossa cultura. Os homens continuam usando roupa azul.
Djalma Thürler é Cientista da Arte (UFF-2000), Professor do Programa de Pós-Graduação Multidisciplinar em Cultura e Sociedade e Professor Adjunto do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências da UFBA. Carioca, ator, Bacharel em Direção Teatral e Pesquisador Pleno do CULT (Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura). Atualmente desenvolve estágio de Pós-Doutorado intitulado “Cartografias do desejo e novas sexualidades: a dramaturgia brasileira contemporânea dos anos 90 e depois”.
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