quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Sobre extremismos e afins



          A questão que envolvem grupos extremistas, incluindo de extrema direita, tem sua raiz nos mesmos pressupostos ideológicos que são os chamados elementos fascistizantes: anti-democráticos, anti-liberais, anti-comunistas e com matrizes calcados na dificuldade de se lidar com o outro, enquanto, diferente, ou seja, a difusão de preconceitos contra minorias que fujam a normatividade. Usam também da violência para externalizar seu ódio contra alvos pré-determinados. No caso do Brasil, isso acontece contra nordestinos, negros e homossexuais majoritariamente, minorias respectivamente étnicas e de gênero.

             No caso da Europa, os alvos principais são os imigrantes e pessoas que professam religiões diferentes da maioria. Porém, ao contrário do Brasil que os grupos de extrema-direita se constituem em grupos isolados, verificamos na Europa uma crescente representação de partidos políticos ostensivos de direita, o que preocupa mais, porque quando esses partidos tem uma representatividade no Estado a política de uma nação pode ser transformada e a democracia pode entrar em crise.
       Outro fenômeno ligado tanto a Europa quanto ao Brasil é a globalização e o uso de novas tecnologias para promover tanto a difusão de tais ideias extremistas quanto o intercâmbio entre tais grupos promovendo uma representatividade e poder que fogem das esferas tradicionais de poder de estado.
            Na década de 90, principalmente a partir do inverno alemão de 1991, momento marcado por atentados de violência de grupos neonazistas, a ameaça do ressurgimento do fascismo enquanto movimento de massa voltou a preocupar os defensores dos valores democrático. A exemplo do que aconteceu mundialmente, principalmente após o término da Guerra Fria, houve no Brasil o aparecimento de grupos neonazistas, dos quais citamos os Carecas do Subúrbio e o Poder Branco. Os grupos neonazistas tem muitas diferenças com relação a seu modelo original, o nazismo de Adolf Hitler. Uma diferença crucial é que os membros desses grupos não são alemães natos e no caso da ideologia nazista essa questão racial era primordial. Além disso, no caso brasileiro, não tem apoio institucional nenhum, constituindo-se em grupos isolados.
                 Acredita-se que seu aparecimento esteja ligado ao contexto do mundo pós-guerra fria em que o sentimento de xenofobia, a crise econômica advinda principalmente da desagregação da União Soviética e os efeitos disso uma população que seria convidada a adentrar ao mundo capitalista pelas portas dos fundos, ou seja, sem condições financeiras de aproveitar os frutos da economia de mercado. O ressurgimento de movimentos de extrema-direita e que tenham como forte componente o racismo, está associada, em um primeiro momento, a essa tendência mundial onde grupos com tais perfis aparecem em diversos lugares do planeta. Outro fenômeno é a desagregação do estado de bem estar social e o reaparecimento de políticas conservadoras e neoliberais que tiveram sua expressão mais contundente no governo de Margareth Tatcher e Ronald Reagan.
            O Estado perde seu papel ativo e passam a ter expressão grandes privatizações de empresas estatais, corte de despesas e de investimentos públicos. Não havia nesse momento tão importante para a ordem mundial, o plano Marshall, que serviu como instrumento de equilíbrio da economia no imediato pós-guerra.

Com a entrada do capital estrangeiro nos antigos países socialistas, o padrão de consumo típico dos ocidentais rompeu as últimas fronteiras do mundo no final dos anos 80 e começo dos 90. Completava-se assim, a globalização que junto com o neoliberalismo, marcou a passagem para o novo século. As nações do leste europeu abandonaram o modelo socialista e acabaram introduzindo reformas de cunho neoliberal, bem como os países da América Latina, como é o caso do Brasil. (TEIXEIRA, C., 2006: 2).

            No Brasil, houve uma grande repercussão dessas novas políticas econômicas e que foram implementadas pelos governos Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso. A privatização da economia brasileira ajudou a aguçar o quadro de desigualdade social que o país tem como uma característica crônica e os grupos neonazistas aparecem como a face de não aceitação mais violenta dessa nova conjuntura.
      Outra interpretação para o aparecimento de tais grupos está relacionada a questões identitárias. Segundo Alexandre de Almeida (2004), eles aparecem como uma forma de reação diante do processo de fragmentação da identidade e de instituições no último quarto do século XX. É interessante observar, ao analisar os dados coletados por Almeida sobre o movimento denominado como Poder Branco, que existe um grande distanciamento do ideário nacional-socialista original. Segundo ele, sempre pautados na questão da violência e da ação das massas, eles se baseavam nos seguintes princípios: a supremacia da raça branca. Porém, ao contrário da ideologia nazista que pensava a raça definido por relações hereditárias, no caso dos neonazistas pertencentes ao Poder Branco, para eles o que basta é a aparência – a tonalidade da pele e a composição do corpo.
            Não há como negar que também existem aproximações entre o movimento neo-nazista e seu original, como por exemplo, sobre a propagação da idéia que os judeus são o grande problema da sociedade. Enquanto na sociedade do III Reich se divulgava que existiria um complô judaico e que esse complô era o responsável pelo quadro de crise econômica e inflacionária que a Alemanha passava, com os representantes do Poder branco se divulga que os judeus estão infiltrados nas novas mídias globalizadas, televisão, internet, cinema, e que dominam por assim dizer tais meios de comunicação com o objetivo obscuro de “destruir a raça branca”.
                     Ações como a da atual tragédia na Noruega, centralizadas na patologia de um indivíduo e potencializadas pelo poder de destruição advindo das novas tecnologias da contemporaneidade são possíveis em qualquer lugar do planeta. Para mim, essas ações são apenas a ponta do iceberg de distúrbios comuns à sociedade contemporânea, que, com o advento da globalização e das novas tecnologias, sofreu profundas modificações na maneira de pensar e os paradigmas que atravessam profundamente a percepção do mundo como o tempo e o espaço foram radicalmente transformados. Não temos ainda –enquanto estudiosos das Ciências humanas – ideias tangíveis em que tudo isso vai desembocar.
           Um outro ponto de vista é a questão de uma expressividade maior de movimentos de resistência de caráter minoritários, basta citar o movimento LGBTT, o movimento negro entre outros, se tornando a expressão do que é politicamente correto assim como a ideias multiculturalistas, tudo isso com uma grande visibilidade. Isso causa uma reação forte de movimentos reacionários que não admitem tal diversidade e recrudescem seu ponto de vista expressando sua negação por meio de ações violentas como essa.
           O grupo mais expressivo do ponto de vista nacionalista no Brasil dos anos 30 e 40 foi a Ação Integralista Brasileira. Não agiam com violência e em alguns casos, no sul do Brasil, chegaram a agir conjuntamente com o movimento nazista no Brasil, que se desenvolveu no seio da comunidade alemã.

            O fato do Brasil ser uma país com uma variedade de povos e etnias não o deixa livre de o aumento de movimentos de extrema-direita que são transmutados para nossa realidade. No caso, por exemplo, o ódio aos nordestinos se refere a uma processo histórico de cunho local, ou seja, faz parte da nossa história brasileira e está ligado aos processos migratórios de nordeste para o sudeste nos anos 70 e 80. Acredito que um componente essencial na análise seja a desigualdade social que faz com que se cresça o ódio às minorias. Estão em jogo não somente a questão racial que foi a base ideológica do nazismo em sua forma original, mas outros tipos de exclusão: econômica, política, social, de gênero, de classe. Os alvos desses movimentos são variados e dependem de elementos da realidade local, no entanto, a forma é sempre a mesma: a dificuldade de se lidar com o diferente e o uso da violência para conseguir uma maior expressividade e visibilidade.

A          A internet é um terreno fértil para isso. Porém, vejo como necessidade políticas de informação que poderiam fomentar a denúncia da veiculação desse tipo informação ajudariam a punir o crime pela internet e racismo no Brasil é crime.








Ana Maria Dietrich é professora adjunta da UFABC e coordenadora da Contemporartes - Revista de Difusão Cultural - junto a Rodrigo Machado.




AGENDE-SE 








Abertas as pré-inscrições para o Curso de Extensão "Cenário Mundial e Atualidade: Os dilemas do mundo contemporâneo em questão", oferecido pelo LEPCON ( Laboratório de Estudos e Pesquisas da Contemporaneidade - Vinculado a importantes Universidades públicas como Universidade Federal de Viçosa/UFV e Universidade Federal do ABC/UFABC ), e também pelo Núcleo de Ensino Professor João Martins
O curso será gratuito, ministrado quinzenalmente aos sábados a tarde e direcionado a estudantes do Ensino Médio e Superior.
A data de início é 20 de agosto de 2011 em Caratinga (MG)
Entre os temas a serem trabalhados nas Oficinas que compõem os 8 módulos do Curso estão Terrorismo; Conflitos Étnicos; Fundamentalismo Religioso; Questão Ambiental; Diversidade Sexual e Indústria Cultural; dentre outros.
O objetivo será realizar uma viagem reflexiva e discussiva pelos principais temas do Cenário Mundial na Atualidade, fazendo uso de uma abordagem inovadora e profunda.






IX Encontro Regional Sudeste de História Oral
“Diversidade e Diálogo”


16, 17 e 18 de agosto de 2011


Universidade de São Paulo

FFLCH - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas





Inscrições abertas até o dia 12 de agosto ou até o encerramento das vagas.

Acesse o site para se inscrever: 
http://each.uspnet.usp.br/gephom/encontroregional2011/





Três dias de programação com:



- Conferências de Luisa Passerini e John Kotre



- Debates com profissionais de todo o país e do exterior, incluindo: Alice Beatriz da Silva Gordo Lang, Ana Maria Mauad, Antonio Torres Montenegro, Carla Muhlhaus, Daphne Patai, José Carlos Sebe Bom Meihy, Karen Worcman, Lígia Maria Pereira Leite, Luciana Quillet Heymann, Maria de Lourdes Mônaco Janotti, Maria Paula Nascimento Araújo, Marieta de Moraes Ferreira, Olga Rodrigues de Moraes von Simson, Sara Albieri, Tânia Regina de Luca



- Três diferentes minicursos sobre diversos aspectos do trabalho com história oral e memória



- Mais de 150 comunicações orais e pôsteres



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