quinta-feira, 1 de setembro de 2011

A música popular brasileira saiu do ensino médio?





Basta uma rápida olhada nos meios de comunicação para notar que a onda do sertanejo universitário virou uma febre nacional. A cada dia pipocam novas duplas, em número tão expressivo, que parece que estamos vivendo novamente o início da década de 90. Nesse novo contexto da música popular do Brasil, pode-se entender que a terceira geração do sertanejo, após muita batalha, agora cursa faculdade e prega um estilo de vida cada vez mais distante do mundo rural.

Milionário e Zé Rico: um sertanejo distante de um produto midiático

Os sertanejos do passado, como Tonico e Tinoco, Milionário e Zé Rico, entre outros, cantavam as dificuldades do homem do campo, o caipira, o brasileiro de pouca instrução que levava uma vida de dificuldades e sofria com um Brasil que avançava (sem planejamento adequado) para um processo de urbanização que esmagava a sociedade.
Com a ascensão de Fernando Collor de Melo na presidência da República, em 1990, temos um novo sertanejo nas paradas de sucesso. São as duplas que ascendem ao poder. Ganham dinheiro; impõem modas e costumes e fazem a transição da figura do caipira para o homem de raízes do campo, mas que vive nas grandes cidades e consome diversos bens e utensílios. Alguns se destacam, outros aparecem e somem como cometas. É a lei do mercado e da indústria cultural.
A resposta para essa urgência em consumir novos ídolos está na pouca fidelização da massa. O público que consome músicas populares, vendidas vorazmente pela mídia, não é fiel. Assim como o sertanejo, repleto de histórias de traições, o público é fiel apenas às paradas de sucesso, construídas por mídias e gravadoras.
Isso fica evidente na primeira década de 2000. Após o sucesso do pagode, torna-se moda associar um ritmo musical à palavra universitária. Com o poder de acesso das camadas mais pobres à universidade, o símbolo de ingressar e cursar uma faculdade é traduzido, inicialmente, no forró universitário. Trata-se de música feita para jovens de faculdade que não querem pensar em problemas como violência, política, crises econômicas e, talvez nem no estudo, mas, sim, apenas em curtir o ritmo em bares voltados a músicas populares. Nada mais dionisíaco para esses tempos pós-modernos.
Agora, um outro ritmo chega ao tão sonhado mundo das universidades. Porém, livre de rótulos, a dúvida é em termos de qualidade. Até que ponto se manterá a tal música deste universo universitário?
A resposta parece ser simples: até outro ritmo ingressar na "universidade da mídia".
Victor e Léo: um modelo rentável para a mídia

Nessa terceira onda sertaneja, mesmo com título de graduação, vimos que o gênero peca pelo mesmo fator que “matou” os outros ritmos popularescos: não há uma evolução temática. Os temas continuam sendo poligamia, traição e amores mal resolvidos.
Com tudo isso, talvez seja hora de termos duas reformas: uma na educação e outra na tal música popular brasileira.

Marcelo Pimenta e Silva é graduado em jornalismo pela Universidade da Região da Campanha, Bagé/RS. Como pesquisador atuou por três anos no Núcleo de Pesquisa da História da Educação, pela Urcamp, tendo produzido diversos trabalhos multidisciplinares. Tem como temas de pesquisa a imprensa alternativa brasileira; a contracultura e suas implicações na sociedade brasileira, além de temas como o ativismo na cibercultura. Conta com experiência em colunas sobre cultura, em jornais, em sites e em revistas. Atualmente, trabalha com jornalismo, assessoria de imprensa e pesquisa free-lance, além de cursar pós-graduação em comunicação mercadológica na Fatec Senac de Pelotas/RS. 




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