quinta-feira, 29 de setembro de 2011

São Paulo em Cena II: São Paulo é pano de fundo de tramas fílmicas.



O espectador entra na sala escura de cinema e faz um pacto de silêncio e credibilidade consigo mesmo. Deixa-se levar pelas imagens, sons e ruídos para adentrar no mundo fantástico da obra fílmica. Claro que o mundo lá fora continua sendo seu referencial pois tudo que existe na tela de alguma forma existe na estrutura das possibilidades de uma mente criativa de terrestres (moradores do planeta terra), mesmo quando o filme trata de ficção científica. A imaginação humana pode ir muito longe, a lugares incríveis e inimagináveis num primeiro momento, mas que se tornam verossímeis pela magia do cinema. É por este viés que o lugar onde a trama irá se desenrolar, o cenário fílmico, precisa ser bem pensado. Uma cidadezinha inventada muitas vezes são locações de estúdios que remetem a alguma cidade existente ou não no Mapa Mundi. Outras vezes, o cenário fílmico são compilações de outros vários lugares que remetem a um outro qualquer no mundo da imaginação.
Em “São Paulo em Cena II”  vou enfatizar a cidade de São Paulo como cenário fílmico. Lógico que se fosse pensar na quantidade de filmes que foram realizados tendo a cidade como cena seria possível escrever uma tese sobre o assunto. A idéia é fechar um recorte em filmes que considero significativos para pensarmos a cidade. Pesquisando a respeito, vi que existem muitos curtas metragens, vídeos e ensaios sobre a cidade de São Paulo, ou que possuem a cidade como pano de fundo ou que versam a respeito de sua historia. Então tive de escolher alguns que assisti e que achei relevante.


Ponte Estaiada 

Minhocão

 Em Ensaio Sobre a Cegueira (2008), filme de Fernando Meirelles baseado no romance homônimo de José Saramago, a cidade de São Paulo serve de cenário para quase todas as filmagens externas do filme, apesar da co-produção com o Canadá e Japão, São Paulo foi escolhida para cenário principal. Sem dúvida que Ensaio sobre a Cegueira é um filme paulistano principalmente no quesito "cartão postal" da cidade, reparem nas locações: As escadarias do Teatro Municipal, o Viaduto do Chá, a Avenida Paulista, o Minhocão, a Ponte Estaiada. A produção do filme pedia à CET para parar o trânsito no local da cena, jogava lixo na área durante a madrugada, filmava ao amanhecer e depois limpava tudo. O fato de Meirelles ser paulistano deve ter influenciado e muito na escolha da cidade de São Paulo servir de cenário desta incrível história sobre a cegueira humana. Os prédios, a Ponte Estaiada, o Viaduto do Chá, deram um charme especial ao filme, que também teve algumas cenas realizadas em Montevidéu e Toronto.

Cenas imitadas de filmes policiais (miscelânia oriental). Boas imagens noir

Cidade de Plástico, 2008, com direção do chinês Yu Lik-wai e roteiro de Fernando Bonassi, conta a história de Yuda (Anthony Wong Chau-Sang) e de seu filho Kirin (Odagini Joe) que prosperaram na cidade de São Paulo por conta de negócios mafiosos. A trama se passa  no bairro da Liberdade onde um imigrante chinês conquistou o poder de ser o chefe da máfia da pirataria no Brasil. O diretor é  chinês, mas o roteiro tem a participação de Fernando Bonassi, que escreveu Cazuza - O Tempo Não Para. O filme foi vaiado no festival de Veneza de 2008 e por conta disso foi remontado. O resultado final: uma mistura de filmes policiais com filmes chineses, com uma pitada incrédula de filosofia oriental.

Walmor Chagas como Carlos  - Lindas cenas de SP

São Paulo Sociedade Anônima (1965), com direção e roteiro de Sergio Person, dá ênfase ao caos urbano da cidade de São Paulo proporcionado pelo rápido crescimento industrial automobilístico dos fins da década de 1950. Walmor Chagas interpreta Carlos, um jovem de classe média inconformado que tenta alçar vôos mais altos e nunca se conforma com o que tem. Uma crítica à sociedade de consumo no desenfreado movimento de ter e criar cada vez mais necessidades.  Aqui a cidade de São Paulo é o cenário do filme, seus prédios, trânsito, negócios e competição. Person teve uma morte prematura em meados da década de 1970 mas este filme o deixou conhecido e marcou o cinema nacional.

Andrea Beltrão como Lucia, a mãe que faz tudo pelo filho presidiário - Imagens de caos e violênca em SP


Salve Geral, 2009, de Sergio Rezende revela alguns momentos de maio de 2006 relembrando os ataques do PCC contra policiais nas ruas de São Paulo. É um filme que discute temas polêmicos que envolvem policiais, corrupção e mostra de forma particular o evento que envolveu mais de 25 mil presos rebelados, 251 ataques e centenas de mortes. O filme trata dos ataques pelo viés de duas personagens: Lucia, uma professora de piano vivida por Andrea Beltrão e Rafael, seu filho que está preso. O filme evidencia as mulheres que atuam nos bastidores do Comando.


 Encanto e desejo para Iara
Medo e insegurança para Válter 


Em "Inquilinos", 2009, Sergio Bianchi mais maduro parece manerar nos escrachos,  presentes em "Cronicamente Inviável", 2000 e em "Quanto Vale ou É por Quilo?", 2005.  No entanto, sem abandonar o seu lado sarcástico, Bianchi conta  a história de uma família simples, honesta e trabalhadora que vive em um bairro de classe média baixa perto de favelas na cidade de São Paulo. O cotidiano pacato dos quatro personagens; pai, mãe e dois filhos explicitam os valores éticos e morais daquela família. Suas vidas seguem sem grandes intercorrências até  a casa ao lado ser alugada para três jovens  estranhos com hábitos suspeitos que provocam medo e insegurança em Válter, o pai de familia e angústia e desejo em sua mulher, Iara. A boa dosagem de suspense a la Alfred Hitchcook  desperta curiosidade e tensão durante o filme. Na verdade os novos inquilinos são membros do Primeiro Comando da Capital. Mais um filme que aborda as intercorrências do Comando na capital paulista. São Paulo pelo viés do poder paralelo.


Jean Claude Bernardet faz uma homenagem a SP via filmes de todas as épocas - recorte e montagem bem feitos

E o último desta edição é São Paulo Sinfonia e Cacofonia (1994), um curta de Jean Claude Bernardet, privilegia trechos inventivos de mais ou menos 100 filmes tendo a cidade de São Paulo como protagonista. A trilha sonora de Lívio Tragtenberg enriquece o curta. Lívio e Wilson Sukorski já fizeram a versão musical ao vivo, colocando aspetos da espacialização sonora  e ruídos com guitarras, saxofones, clarinetes, geradores sonoros. Bom para ver a São Paulo de todas as épocas e de todos os olhares. 
Na próxima edição mais filmes e músicas de RAP com cenas de SP.
Bons filmes !!!! 


Kátia Peixoto é doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Mestre em Cinema pela ECA - USP onde realizou pesquisas em cinema italiano principalmente em Federico Fellini nas manifestações teatrais, clowns e mambembe de alguns de seus filmes. Fotógrafa por 6 anos do Jornal Argumento. Formada em piano e dança pelo Conservatório musical Villa Lobos. Atualmente leciona no Curso Superior de de Música da FAC-FITO, na FPA nos cursos de Visuais e na UNIP nos Cursos de Comunicação e é integrante do grupo Adriana Rodrigues de Dança Flamenca sob a direção de Antônio Benega.




1 comentários:

Unknown disse...

Muito bom!!! Amo São Paulo!!!

30 de setembro de 2011 às 16:25

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