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Na sacada |
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Estação da Luz |
Minha diversão era esticar o dia ficando por ali para irmos aos cinemas, ao Top Center, ao MASP, ao Parque Trianon, que chamávamos de parque dos tuberculosos, talvez por ser o único lugar que se podia ver algo de verde mesmo que coberto pela acinzentada poluição. Também íamos jogar pinball na travessa próxima ao colégio e passávamos, principalmente a sexta-feira, juntos nos divertindo no asfalto, nas vitrines e nos cinemas.
Quando ingressei na faculdade o cenário mudou um bocado, corria pelas cercanias da Estação Julio Prestes em direção a Estação luz do metrô em frente a Estação Luz da CPTM. Passava todos os dias pela antiga rodoviária de São Paulo. Ao invés de executivos e Krishnas, via putas, moradores de rua, vendedores ambulantes, sujeira, crianças chorando e muitos pedintes. Aos sons dos carros misturavam-se as buzinas constantes aos olhares das putas que as 6 30 da manhã ainda estavam pelas ruas. As lojas pequenas e alguns bares tiravam um pouco a minha atenção destes personagens e, muitas vezes, ficava olhando para cima, fugindo deles e ao mesmo tempo admirando a arquitetura da Estação Luz e Julio Prestes. São Paulo sempre me fascinou. E mesmo vivendo ali grande parte das horas dos meus dias, sempre me senti uma estrangeira.
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Saguão da Estação Luz |
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Interior da Sala São Paulo |
Essas questões me inquietaram e me inquietam de tal forma que proponho uma série, “São Paulo em Cena”, que buscará abordar desde um olhar mais intimista e pessoal sobre a cidade – demonstrada nas fotos que seguem – até colocar em foco, em outras duas edições, filmes e músicas que tematizaram a Paulicéia Desvairada.
Esse olhar é pessoal e, por isso, incompleto, recortado. E é particular na medida que expressou um sentimento presente no momento da captura dessas imagens: busca de um refúgio da cidade, na cidade. A distância das ruas, a carapaça do quarto de hotel para recompor a mente confusa e a loucura constante. Confesso que já fiquei em hotéis aos arredores da Paulista para descansar e ao mesmo tempo para repensar a cidade por um outro prisma. Um carnaval na Paulista tranqüila, um finados, uma necessidade de reviver momentos da adolescência. São Paulo que me encanta e que me faz sentir estrangeira na minha própria terra mas que me faz pensar, refletir.
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Saguão da Estação Luz |
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Kátia Peixoto é doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Mestre em Cinema pela ECA - USP onde realizou pesquisas em cinema italiano principalmente em Federico Fellini nas manifestações teatrais, clowns e mambembe de alguns de seus filmes. Fotógrafa por 6 anos do Jornal Argumento. Formada em piano e dança pelo Conservatório musical Villa Lobos. Atualmente leciona no Curso Superior de de Música da FAC-FITO, na FPA nos Cursos de Visuais e na UNIP nos Cursos de Comunicação e é integrante do grupo Adriana Rodrigues de Dança Flamenca sob a direção de Antônio Benega.
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