quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Beatles e a conquista do mercado americano





O grupo britânico de rock The Beatles revolucionou a cultura mundial e ainda o faz passados 50 anos de seu surgimento. Contudo, a grande sacada do grupo para se tornar famoso no mercado global, ocorreu quando após uma fantástica campanha de marketing, o grupo aportou nos EUA, em fevereiro de 1964. A aparição no programa de TV apresentado por Ed Sullivan parou o país e a partir dessa invasão midiática, qualquer banda que almejasse o sucesso, deveria focar na indústria cultural. Uma das principais mudanças foi na forma de noticiar e divulgar o estilo musical que era resgatado com o quarteto inglês. 

Beatles antes da fama: em Hamburgo e como quintento



Quando os Beatles desembarcaram em Nova York, mesmo com a resposta de vendas de 1 milhão de discos vendidos do single I Want To Hold You Hand e, uma campanha publicitária eficaz realizada pela gravadora Capitol, a imprensa norte-americana ainda se mostrava desinformada e “desinteressada” em relação ao grupo. As críticas ao álbum recém lançado eram positivas, mas não continham detalhes maiores sobre a banda. O prestigiado New York Times previa que a beatlemania não seria sucesso nos EUA. A Newsweek e o New York Daily News inclusive criticaram o grupo por serem “um desastre” em termos musicais. A coletiva concedida pelo grupo ainda no aeroporto John F. Kennedy, quando chegou a Nova York, no dia 7 de fevereiro de 1964, demonstra com estapafúrdias perguntas dos jornalistas presentes, que os Beatles não eram levados a sério pela imprensa, bem como o próprio rock executado pelo grupo.
Beatles no programa de Ed Sullivan: o começo da conquista na América


Repórter: Todo esse cabelo ajuda vocês na hora de cantar?
John: Claro que sim. Com certeza.
Repórter: Vocês se sentem como Sansões? Se perderem o cabelo, não conseguirão tocar?
John: Não sei.
Paul: Eu também não sei.
{...} Repórter: Quantos de vocês são carecas? Vocês usam peruca?
Ringo: Todos nós somos.
Paul: Eu sou careca.
{...} Repórter: Vocês são de verdade?
Paul: Somos sim.
John: Venha até aqui para sentir. (risos).
(CAVALCANTI, 2005, Bizz especial Anos 60, p. 13).

Contudo, a exibição no show de tevê de Ed Sullivan e as apresentações lotadas pelo país fizeram com que a imprensa americana começasse a abordar os Beatles com um melhor tratamento jornalístico. A exposição do grupo passou a ser tanta que nos meses seguintes outros grupos da Inglaterra como The Rolling Stones, The Who, The Kinks, The Animals, entre outros, apresentaram-se nos palcos americanos conquistando, conseqüentemente, o grande mercado mundial da música. Era a invasão britânica do rock.

Os Beatles inauguraram não apenas uma nova forma de se estabelecer à relação entre grupo e apreciadores do rock, com a criação de produtos exclusivos para os fãs clubes, por exemplo, mas também determinaram novos rumos para toda a indústria musical. Em pleno sucesso, o grupo iria compartilhar do auge da produção de discos da indústria fonográfica norte-americana que entre 1965 e 1970 duplicou sua produção, atingindo a cifra de quase dois bilhões de dólares de faturamento (CORRÊA, 1989, p.91). A estratégia do quarteto de Liverpool em criar uma gravadora própria a Apple Corporation em 1967 denota a visão de mercado do grupo, como também a mudança causada pela música rock com elementos alternativos ao estilo do grupo a partir de 1966. É notório o interesse do grupo em desmistificar a imagem de grupo comercial das baladas ingênuas dos primeiros anos. 

Beatles em 1969: nada de roqueiros ingênuos, apenas artistas e bons  negociantes


A grande sacada e prova da genialidade dos “Fab Four” foi captarem as mudanças sociais no mundo naquele período. Com a efervescência da contracultura no ocidente, e a proliferação de movimentos sociais que contestavam toda a sociedade, agora vista como retrógrada e decadente, os Beatles buscaram referências diversas no som, passando a incluir elementos de música clássica, vanguarda e oriental, para afirmar uma posição também transgressora, bem como fortalecer a imagem de artistas e intelectuais  e não meros “fantoches” da indústria fonográfica. Porém, mesmo inovando o estilo e adotando uma postura de não mais realizar concertos para se dedicarem às experimentações de estúdio, o grupo seguiu dando às cartas em termos comerciais. O exemplo é que antes desse período, os Beatles recebiam por unidade vendida de elepê 6% do preço total. Após, com uma revisão de contratos, o grupo elevou sua percentagem de venda para 69% o que fez com que o mercado que mais consumia produtos do grupo pagasse uma quantia absurdamente mais cara. Os Beatles foram fantásticos e serão eternos pela qualidade ímpar de sua música. Pela genialidade de “prever” novos conceitos e romper paradigmas na música e, consequentemente, na cultura como um todo, porém nada disso seria suficiente se não fossem craques também em termos de negócios na indústria musical.


Marcelo Pimenta e Silva é graduado em jornalismo pela Universidade da Região da Campanha, Bagé/RS. Como pesquisador atuou por três anos no Núcleo de Pesquisa da História da Educação, pela Urcamp, tendo produzido diversos trabalhos multidisciplinares. Tem como temas de pesquisa a imprensa alternativa brasileira; a contracultura e suas implicações na sociedade brasileira, além de temas como o ativismo na cibercultura. Conta com experiência em colunas sobre cultura, em jornais, em sites e em revistas. Atualmente, trabalha com jornalismo, assessoria de imprensa e pesquisa free-lance, além de cursar pós-graduação em comunicação mercadológica na Fatec Senac de Pelotas/RS. 


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