TREMÉ: Resistência Emocional, Étnica e JAZZ
Parece que continuamos pedindo paz.
Continuamos exigindo, como nossa face embrutecida, o respeito.
Que ainda temos que implorar pela não exclusão, marginalização puramente preconceituosa.
Parece, infelizmente, ainda...
Parece, infelizmente, ainda...
por: Aline SerzeVilaça
Para nós, amantes da legítima expressão cultural e artística da, dante ou ainda, segregada população negra, criola e afro-descendente dos Estados Unidos, trata-se de uma belíssima, e próxima da realidade, manifestação vídeo- ficcional que homenageia a cidade em que provavelmenete nasceu o Jazz.
Trata-se de uma série densa, inteligente, perspicaz que faz do drama e do momento televisivo, um momento de apreciação artística, denuncia e reflexão. Momentos que extrapolam a cena estética e provocam e sugerem um crítico questionamento a cerca de toda uma condição sobre-humana que o nosso povo negro, em diversas partes do mundo, enfrentou.
Trata-se de uma série densa, inteligente, perspicaz que faz do drama e do momento televisivo, um momento de apreciação artística, denuncia e reflexão. Momentos que extrapolam a cena estética e provocam e sugerem um crítico questionamento a cerca de toda uma condição sobre-humana que o nosso povo negro, em diversas partes do mundo, enfrentou.
E dolorosamente, ainda enfrenta. Mesmo em virtuosos casos como o de New Orleans, onde quem definha dolorosamente são por vezes, virtuosos, protagonistas do patrimônio imaterial universal.
Pois é,
assim como enxotamos e deliberamos à capoeiristas, sambistas, violeiros, brincantes, mães de santo, entre outros griôs a posição e condição de indesejáveis periféricos. A série TRÉME da HBO, denuncia este mesmo, infame, costume brasileiro, sendo aplicado aos grandes jazzistas e ao Jazz, negado a atribuição e valorização de sua importância e função na cultura estadunidense.
Tréme, nome francês para o bairro de New Orleans provavelmente em Storyville, região negra desta cidade sulista, onde Louis Armstrong, pelas sujas e violentas, ruas cresceu; dá nome ao seriado que conta o caos instalado e intensificado após o desastre natural Katrina. Tragédia que segundo personagens como um irritado professor politicamente engajado, teria atingido proporções absurdas de estragos na cidade, devido ao descaso e provável negligência criminosa do governo local.
Os capítulos recheados de belas imagens de um cotidiano sacrificado pela continua reconstrução, pela exaustiva repetição do deixar as memórias de lado para recomeçar. Mostram a resistência dos moradores, o desejo de voltar para suas casas, a revolta por não poder voltar, e nem mesmo ocupar um conjunto popular habitacional desocupado, que não fora atingido pelas águas da tempestade.
Tréme, explicita a violência que resurge ainda mais intensa, sórdida e assustadora. Discute os estilos de Jazz Música, a manutenção e os desgastantes esforços para a preservação das tradições locais. Além de colocar em pauta a delicada discussão da contemporânea massificação artística, e quanto a globalização e a industria fonográfica promovem o processo de esquecimento dos estilos tradicionais que representam a identidade, ancestralidade e expressão local.
Entre as deliciosas cenas das saborosas comidas típicas de New Orleans, onde são exploradas a fartura da "Soul Food", tópico que vale uma próxima coluna. Entre as divertidas cenas embaladas pelos desfiles de rua. Até mesmo pela beleza ritualística das marchas dos funerais. Entre as maravilhosas canções que inundam as cenas, em Tremé nos encantaremos, e muitas vezes até em posição solidária a dureza da vida como ela se apresenta, e a garra dos homens e mulheres que sempre lutam para dar uma resposta a altura.
É um seriado não apenas para os amantes das sincopes, do swingue, da sensualidade, da elegância do improviso do JAZZ.
É um seriado que transcende o entretenimento confortável, restrito a passiva posição de espectador. Enquanto professora de Jazz Dança, Tremé salto sob meus olhos feito laboratório de pesquisa, enquanto coreógrafa, aparece como estimulo de criação, enquanto aspirante a militante das causas negras entrega bons argumentos. Enquanto colunista, me deu inspiração. Na posição de mulher negra, trouxe a lembrança de outras dores. Assistindo a boemia do bairro, salivei por um bom vinho e mais um pouco de Coltrane.
Indico à todos, sem tentar explicar mais, por que é sempre um bom motivo querer simplesmente conhecer mais um pouco de All that Jazz!!!
Por: Aline SerzeVilaça
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