Rainbow Gathering, a Contracultura não morreu...
“Traga coisas boas. Você ficará surpreso de que o que você realmente precisa é na verdade muito pouco. Traga amor, abraços e boas energias e o mais importante: traga você mesmo”.
Esse é o convite que consta no site do grupo Rainbow Gathering como é conhecido. O grupo existe há 39 anos e tem como objetivo reunir pessoas de diferentes culturas e pensamentos interessadas em uma nova vivência, completamente à parte da sociedade capitalista tradicional, “fora da Babilônia”, como definem os participantes. Os encontros chegam a reunir cerca de 30.000 pessoas e predominam em sua filosofia, conceitos de paz, amor, harmonia e liberdade. Alguns definem esses happenings como os maiores encontros hippies do mundo.
Mais do que um encontro hippie, é uma reunião de pessoas com formas de pensar e agir alternativas, que incluem entre outras coisas, mochileiros do mundo inteiro e até crianças e cachorros.
São realizados em grandes campos abertos e pitorescos que podem variar da Nova Zelândia à Pensilvânia. O Rainbow não é apenas um encontro, existe uma cultura Rainbow que é vivenciada durante o evento que dura 4 luas, aproximadamente um mês.
Durante esse período, os participantes são convidados a deixar de lado certos hábitos da vida moderna, como por exemplo, a individualidade. Tudo é feito em grupo, inclusive a comida. São construídas cozinhas comunitárias, onde o principal tipo de alimento é o vegetariano.
Outra característica é a quase ausência do dinheiro, como moeda de valor. Tudo funciona na base da troca, em grandes rodas onde você pode negociar com os outros “irmãos”, coisas das quais necessite. O único momento em que se vê dinheiro, é quando se passa o Chapéu Mágico, onde você pode, se quiser, depositar qualquer quantia que lhe convenha. Se não tiver nada, um beijo ou um sorriso para o chapéu também valem. Outra forma de colaborar, é cozinhando ou construindo as estruturas do festival como fogões de barro e banheiros secos.
O Rainbow é uma espécie de anarquia organizada. Não há líderes definidos, e você pode se perguntar como um encontro de milhares de pessoas pode funcionar sem liderança?
Bem, existem reuniões, grandes círculos de fala, onde as pessoas discutem o que será feito e para dar sua opinião, você recebe o bastão da fala e depois o passa adiante. E há focalizadores, pessoas responsáveis por organizar as reuniões, mas que raramente intervêm no que está sendo discutido.
Não existe uma "população fixa", porque a idéia é que você passe pelo festival, aprenda e depois de um tempo saia para colocar em prática os ensinamentos, seja fundando ou indo morar em comunidades alternativas, seja aplicando isso na sua rotina. É claro, que há os que passam a vida inteira indo de um Rainbow a outro sem nunca parar. Mas eles não são a maioria.
De resto, o Rainbow proporciona às pessoas, momentos agradáveis com muita música, oficinas, yoga, reflexão, ensinamentos, conhecimento pessoal intenso e muitas descobertas. Afinal não é todo dia que se tem a oportunidade de conviver com 30.000 pessoas do mundo inteiro. Quem já foi, afirma que a experiência é única. Para participar não é necessário pagar entrada. Basta levar suas coisas dentro de uma mochila, uma barraca, comida para contribuir com a cozinha e coração e mentes abertos para novos aprendizados.
Para os interessados em participar dessa "trip", o grande problema é a saber as coordenadas para chegar lá. Assim como no ENCA (Encontro de Comunidades Alternativas) – evento semelhante que ocorre no Brasil - é difícil achar informações com antecedência. Os encontros podem se dar em qualquer parte do mundo, e geralmente só é divulgado o país onde vai ocorrer.
Benoit Paillé, fotógrafo canadense e participante há sete anos desse grupo nômade, fotografou alguns destes encontros durante três anos, na Espanha, México e Canadá. A produção de imagens não costuma ser permitida, porém Paillé captou com muita sensibilidade as fotos que ilustram essa matéria.
São imagens muito especiais daqueles a quem se refere como seus irmãos e irmãs e estão repletas de cores, olhares e sentimentos puros.
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Izabel Liviski é Fotógrafa e Professora de Sociologia, disciplina da qual é Mestre pela UFPR. Pesquisadora em História da Arte, Sociologia da Imagem e da Cultura, escreve a coluna INCONTROS quinzenalmente às quintas-feiras na revista ContemporArtes.
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