sábado, 26 de novembro de 2011

Literatura e História: uma discussão sem fim?


Há discussões que muitos julgam ultrapassadas, mas que sempre vêm a tona, exatamente, por não terem sido esgotadas. Uma delas diz respeito às pesquisas que realizo no mestrado, a relação entre Literatura e História.
Parece ultrapassado afirmar que a História de caráter positivista foi, de certa forma, descredenciada ao longo dos anos, principalmente, após estudos de Hayden White, Georges Duby, Carlo Ginzburg, entre outros. Também parece ser conhecido que ambas as áreas em questão têm muitos elementos em comum. O que as torna diferentes, segundo Luiz Costa Lima, seria o foco narrativo. Enquanto uma busca chegar mais próxima à “verdade”, a outra possui maior liberdade de criação, não tendo nenhum compromisso com essa “Verdade”.
Hoje, venho aqui tentar “colocar mais lenha na fogueira”, ao apresentar um poema do poeta norte-americano Walt Whitman. Ele já vislumbrava no século XIX que essa discussão relacionada à aproximação entre as áreas seria algo a causar muitas e muitas discussões. Vamos ao poema:
A um historiador

Você que fala das coisas passadas,
tem explorado só o lado de fora,
as superfícies das raças,
a vida como ela se deixa ver,
tratando o ser humano
como uma criatura de políticos,
agregados, governantes e sacerdotes...
Eu, habitante dos Alleghanies,
tratando-o como ele de fato é
em seus plenos direitos,
tomando o pulso da vida
que raramente se deixa entrever
(o grande orgulho do homem consigo mesmo):
cantor da Personalidade, rascunhando
o que ainda está por vir
- O que eu projeto é a história do futuro.
(WHITMAN, 2002, p. 14).

Como observamos, para o poeta, o trabalho do historiador seria menor, já que ele só consegue espreitar pelo lado de fora das coisas, sem nunca compreendê-las completamente. O historiador faria, de alguma forma, um trabalho raso, vendo somente “a superfícies das raças”, não conseguindo observar o ser humano dentro de sua particularidade, julgando-o “como uma criatura de políticos/ agregados, governantes e sacerdotes...”.
Por outro lado, engrandecendo sua técnica e a poesia em si, o poeta fala de si próprio como alguém que trata o ser humano como de fato ele é, buscando, para retratá-lo, “o pulso da vida/ que raramente se deixa entrever”. O poeta seria, desta maneira, alguém a frente de seu tempo, em busca constante daquilo “que ainda está por vir”, alguém que projeta a história do futuro.
Nessa discussão, que a cada dia é retornada, renovada, muitos e muitos historiadores, poetas, escritores de literatura em geral já sublinharam suas opiniões. O importante é sempre trazer novos subsídios que contribuam cada vez mais para uma altercação que a cada dia se faz mais presente nos estudos de muitos estudiosos e de muitas áreas do saber.

Referência Bibliográfica:

WHITMAN, Walt. Folhas das Folhas de Relva. Tradução Geir Campos. São Paulo: Brasiliense, 2002.









Rodrigo C. M. Machado é mestrando em Letras, com ênfase em Estudos Literários, pela Universidade Federal de Viçosa. Dedica-se ao estudo da poesia portuguesa contemporânea, com destaque para a lírica de Sophia de Mello Breyner Andresen.

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