VIVER NA FRANÇA
Nesta semana compartilho com vocês o relato da minha querida amiga Sonia Mara da UFPR, que retornou da França onde cursou Mestado em Biblioteconomia. Foi muito bonito ver o sonho dessa moça se concretizar e agora conhecer a experiência que teve, vivendo, estudando e conhecendo pessoas do mundo todo, durante esse tempo privilegiado.
A VONTADE DE IR MAIS LONGE
Viver fora do país é uma escolha, principalmente se a opção é estudar ou trabalhar. Partindo deste princípio, toda opção requer decisão: Ficar ou ir. E essa questão comporta toda a motivação, contentamento e vontade. A vontade nos impulsiona a superar as dificuldades, porque elas existem em todos os aspectos. Sair do nosso país exige, sobretudo, paciência para seguir os caminhos administrativos exigidos e indispensáveis para a vida futura. Obter um visa para a França é obrigatório, para quem pretende ficar mais de três meses, abrir uma conta corrente em um banco, também, assim como alugar um apartamento ou stúdio. Todas estas tarefas, que em nosso país parecem coisas tão simples, lá se agigantam.
Rio Rhone, na cidade de Lyon
Não é simples, não é fácil, não é rápido e custa caro. Por isto é importante, se você pretende estudar fora, estar preparado financeiramente, com um valor mínimo de 1800 reais ao mês para viver modestamente. Porém, mais importante que tudo isso, é a sua vontade. Crescer, sair do seu ambiente tranquilo e acolhedor, do seu conforto, da sua comodidade e se lançar rumo à um desconhecido tempo, que trará a você experiências maravilhosas. É tentador e vale a pena, porém, é uma decisão individual. Em termos administrativos, todo o processo é importante. O mais importante, é que você será identificado pelos organismos de imigração, será reconhecido, terá a sua identidade francesa temporária e será benvindo à França. (Depois da burocracia, vem a bonança).
Ao chegar na França com toda essa papelada, você precisa ainda solicitar o seu “titre de sejour” Mas aí é outra história... cumprir todas as formalidades e exigências para entrar no país, é fundamental. Mostrar a sua responsabilidade, o desejo de concretizar seus sonhos , compartilhar as experiências com outros estrangeiros e encorajar iniciativas de colegas. Tudo isso e mais a responsabilidade e transparência, o exemplo de boa conduta e dignidade são as condições morais que farão você sentir-se “em casa”.
O que me marcou quando cheguei à França, em setembro de 2008, foi a “boa acolhida” dos franceses. Morei em Villeurbanne, que é um bairro próximo de Lyon. Nesta Cidade Universitaria, vivem muitos estudantes brasileiros, distribuidos nas Universidades de Lyon I, Lyon II, Lyon III, entre outras e penso que nós brasileiros somos uma boa referência. Somos sempre bem-vindos. Tenho boas experiências e histórias de colegas que estudaram ou ainda estudam nessas Universidades.
Fui recebida pelo Diretor da escola, com um largo sorriso. Os funcionários que estavam por perto também foram gentis, solícitos e assim continuaram, quase um ano depois da minha chegada. O Mestrado é feito na Escola Nacional Superior de Ciências da Informação e de Bibliotecas que está situada em Villeurbanne - France. A L'Enssib ( Escola Nacional Superior de Ciências da Informação e de Bibliotecas) tem como missão formar conservadores e bibliotecários de todos os territórios nacionais e internacionais, que se interessam nos serviços pertinentes a organização de documentos, desenvolvimento de informações cientificas e técnicas e o desenvovimento de pesquisa em Ciências da Informação, Biblioteconomia e História do Livro.
É um grande estabelecimento de ensino superior, criado por decreto em 1992, tendo sucedido a l'ENSB (École Nationale Supérieure de Bibliothécaires), criada em Paris em 1963 e transferida para Villeurbanne em 1974. No início de 1999, fez uma fusão com o Instituto de Formação de Bibliotecários, o que faz deste estabelecimento nacional francês, o único na Europa, para formação de profissionais de categoria A na área da Biblioteconomia.
Sonia Mara e a colega Yao Lu
Passam por lá estudantes de vários países, e todos os continentes são representados. São pessoas maravilhosas, extraordinárias. Um cadinho para lembrar-se pela vida afora. No ano letivo de 2008-2009 tive como colegas estrangeiros duas chinesas, uma africana, um suiço, um algeriano, duas Sirias e uma cubana. A cubana partiu “antes do tempo” . Mas deixou sua marca, contou suas experiências e nos mostrou um pouco da realidade de seu país. Trocamos muitas idéias, compartilhamos com os franceses nossos anfitriões, as realidades dos nossos países.
Como estudantes nos enriquecemos com este aprendizado que faz parte do currículo, de forma “implícita”. Não tem nota e nem avaliações, mas, acredito que é um dos mais belos e apaixonantes processos de “ensino-aprendizagem” deste período para todos nós. As vidas que passam e as suas histórias deixam marcas indeléveis na personalidade de cada um. O autor Eric Landowski, em seu livro “As presenças do outro” embasado na sociossemiótica, fala da importância do outro na construção da nossa identidade. Ele cita também algumas especificidades do povo francês e de seu relacionamento com os estrangeiros (para ler e refletir)......
ATIVIDADES
Os hábitos de vida são diferentes. Os franceses não trabalham aos sábados, nem aos domingos (salvo por motivo de força maior). Eles amam “sair de circulação” nos dias em que são feriados. Valorizam os dias de sol, lotam os parques, os jardins e as estradas. Partem para regiões próximas ao mar. No inverno vão para as montanhas fazer ski, ou simplesmente passear. Quem não tem muito dinheiro para fazer viagens caras, vai ao cinema, ao teatro, aos museus e às bibliotecas. Não esquecendo de comentar, que na França, claro, tudo é pago. Mesmo para fazer carteirinha em uma biblioteca municipal, o cidadão paga. Isto não é um problema, faz parte da cultura. Aprende-se a valorizar o dinheiro, o patrimônio, a História. Valorizar e preservar.
Os hábitos de vida são diferentes. Os franceses não trabalham aos sábados, nem aos domingos (salvo por motivo de força maior). Eles amam “sair de circulação” nos dias em que são feriados. Valorizam os dias de sol, lotam os parques, os jardins e as estradas. Partem para regiões próximas ao mar. No inverno vão para as montanhas fazer ski, ou simplesmente passear. Quem não tem muito dinheiro para fazer viagens caras, vai ao cinema, ao teatro, aos museus e às bibliotecas. Não esquecendo de comentar, que na França, claro, tudo é pago. Mesmo para fazer carteirinha em uma biblioteca municipal, o cidadão paga. Isto não é um problema, faz parte da cultura. Aprende-se a valorizar o dinheiro, o patrimônio, a História. Valorizar e preservar.
PROJETOS DE FUTURO
Sou herdeira do futuro. Todo o esforço é válido para projetar um espírito que vai pouco mais além, na minha opinião. Ir mais longe, deixar um traço, fazer projetos que possam benificiar o amanhã. Melhorar a qualidade de vida através de ações concretas é uma atitude que me encanta. Tantas pessoas trabalham para isso no mundo, no Brasil, nas Universidades. Eu quero fazer parte desse grupo.
Sala de aula
Espero que este aprendizado, este conhecimento, que é na verdade uma ferramenta indispensável na construção deste futuro que desejo, possa me permitir fazer parte dos trabalhos que já estão em andamento na nossa comunidade. Não quero descobrir a “América”, ela já foi descoberta. Mas quero contribuir, fazer parte da construção dos novos caminhos abertos para atravessarmos as velhas descobertas, inclusive da América. Fazer a diferença, este é um belo futuro. E é para ele que estou olhando neste momento, sem esquecer que o presente é que me levará “petit à petit” em direção ao futuro que está bem aqui na minha frente.
Referências:
Landowski, Eric. Presenças do outro: Ensaios de Sociossemiótica. Perspectiva, São Paulo:2002.
Texto: SONIA MARA SALDANHA BACH
Fotos: Sonia Mara e Charlotte Noireaux
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Izabel Liviski é Fotógrafa e Mestre em Sociologia pela UFPR. Pesquisadora de História da Arte, Sociologia da Imagem e da Cultura, escreve a coluna INCONTROS quinzenalmente às 5ªs feiras, na ContemporARTES.
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