quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

O diálogo entre os tempos do Neblina sobre trilhos




A produção de um documentário possibilita mostrar a realidade social da comunidade e refletir as situações apresentadas de maneira mais abrangente, atingindo em vários graus a sociedade como um todo procurando manter uma relação de grande proximidade com a realidade, respeitando um conjunto de convenções. Dado pela utilização de um discurso pessoal de um evento que prioriza exigências mínimas de verossimilhança e literalidade. E esse livre discurso dos depoentes nos traz próximos a realidade. Cito Manuela Penafria: “a perfectibilidade do filme dialoga com a imperfectibilidade dos ‘intérpretes’, personagens reais do mundo existente” (Livro: O filme documentário – história, identidade, tecnologia - 1999 - Editora Cosmos - Lisboa;).


Os atuais moradores da vila de Paranapiacaba percebem a vida de uma determinada forma. A forma histórica que é síntese das categorias dinâmicas de um presente e de um passado que se comunicam em uma via de mão dupla. De acordo com o historiador Marc Bloch (2001): “essa solidariedade das épocas tem tanta força que entre elas os vínculos de inteligibilidade são verdadeiramente de sentido duplo”. Amparados na perspectiva de que “a ignorância do passado não se limita a prejudicar a compreensão do presente, [mas] compromete, no presente, a própria ação” (BLOCH, 2001)’ é possível a narrativa do histórico desenrolando a bobina do filme em sentido inverso das seqüências. A partir de um documentário, o diálogo entre os tempos é mote perfeito para o caminhar na via de mão dupla do conhecimento histórico.
O encontro das oralidades em um documentário – com seus métodos e mecanismos particulares, já consagrados como ferramentas que contextualizam e aproximam as pessoas do objeto retratado, do qual “não tiramos apenas prazer, mas uma direção também” (NICHOLS, 2008) – permite a seleção e o tratamento do material colhido da realidade que capacita à construção de uma perspectiva investigativa e reflexiva sobre a história do passado e do presente.
Cito Manuela Penafria: “Cada seleção que se faz é a expressão de um ponto de vista, quer esteja ou não consciente disso. Assim, a sucessão das imagens e sons, cujo resultado final é um documentário, tem como linha orientadora o ponto de vista adotado e encontra na criatividade do documentarista seu principal motor.” (PENAFRIA, 1999)
Do ponto de vista da constituição social local, encontrou-se uma comunidade desorganizada, socialmente vulnerável, isolada geograficamente e distante dos centros comerciais e postos de trabalho, em que está inserida e cerceada por leis de preservação patrimonial e ambiental que restringem suas ações. Sua história é pouca difundida pelo próprio municio e desconhecida para as demais regiões da capital. A difusão do turismo observa-se que a comunidade ainda não esta preparada, tanto em infra-estrutura como em equipamentos urbanísticos.


Nessa visão critica, buscou-se na produção do documentário a retratação do social dado pelas características históricas da vila, sendo o projeto construído pela história oral através dos depoimentos dos ex-ferroviários. A oralidade da memória encontra expressão criando espaços de resgate de vivências esquecidas pela história oficial e pelo movimento do progresso.


Rafael Caitano é estudante de Engenharia Ambiental da UFABC e documentarista do Neblina sobre Trilhos que conta com financiamento da Pró-Reitoria de Extensão da UFABC.

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