segunda-feira, 19 de março de 2012

A literatura da internet: a poesia de Rodrigo Damacena




Hoje, para nossa coluna, tencionei a trazer algo contemporâneo, para que possamos verificar como anda a literatura nas suas faces escondidas, isto é, trago um autor provindo de blogs. Pouco conhecido entre muitos, até por ser proveniente da internet, ele possui uma poesia de extremo estilo e trabalha as palavras de forma cuidadosa.



Rodrigo Damacena é um goiano com seus “vinte e poucos anos” – como já dizia a música que marca sua época – e professor na área de Letras. Possui uma veia artística muito forte, o que fez com que seu blog, intitulado “Primeiro Gole”, obtivesse um tom literário que poucos artistas contemporâneos, inclusive no meio digital, conseguiram transpor.

É importante que não nos limitemos a busca de artistas, e dar devidos valores àqueles que estão à margem do cânone, por razões diversas. Se hoje existem meios de difundir a arte, por que não fazermos? Nos apropriemos deles para que façamos arte!

Antonio era poeta,
Antonio era poeta,
Mas há três meses não escrevia nada.

João estava desempregado.

Luis escreveu o poema “Desodorante”
E postou em sua página na internet.

Antonio culpava Maria,
Que o abandonou depois de mais de três anos.

Maria cansou de sustentar o poeta,
Que para seu pai, não passava de um vagabundo.

João continua desempregado.

Luis conheceu Fernanda,
Mas na verdade ela se chamava Catarina.

Catarina não gostava de seu nome,
Mas na internet podia ser qualquer pessoa.

Antonio começou a beber, delirava ótimos versos,
Mas andava deprimido demais para escrever.

João saiu para procurar emprego.

Luis publicou um poema de Neruda em seu novo blog,
E assinou como se fosse seu.

Fernanda estava completamente apaixonada,
Rabiscava os versos de Luis em guardanapos.

"Saudade é amar um passado que ainda não passou"

Antonio já nem saia de casa, nem pensava em escrever mais,
Sem dinheiro, começou a beber cachaça.

João ainda não voltou, e continua sem emprego.

Luis marcou um encontro com Fernanda,
Mas achou Catarina feia.

Antonio morreu aos 27 anos sem ter publicado nada,
Mas querem fazer um filme de sua vida – morte?

Maria casou-se novamente no mesmo dia que recebeu o inesperado seguro.
Foi passar a lua de mel em Recife.

João virou assaltante, e
Pela primeira vez ganhou dois versos.

Luis perdeu espaço para blogs de escritores anônimos.

Fernanda agora se chama Valéria,
Mas continua iludindo jovens internautas.


Desacordar
Me estacionei num esquecimento
Numa falta de trânsito,
Na incerteza da dúvida,
Num desquerer de tudo
Não preciso mais acordar às seis
Mas nem durmo
Nem desacordo.

Soneto I para Teresa

Teresa é o desejo de um gole,
O primeiro gole
E todos os outros possíveis!
E Teresa é eufemismo,

De um vazio da presença que falta
Ao meu lado na fotografia,
Pois Teresa não é só uma poesia,
Mas Teresa poderia era ser só soneto,

Quem dera Teresa ser só sonho,
Que acaba quando se acorda, mas
Teresa não termina quando eu acordo

Ela me espera sexta-feira,
E me arranha de longe,
E me beija no sonho.

- E o Primeiro Gole resiste em minha Teresa...

Primeiro Gole é fazer com que cada momento além de único, além de novo, que seja SEMPRE!


Para quem quer tomar mais um gole literário, acesse ao blog de Rodrigo Damacena: http://primeiro-gole.blogspot.com.br/


Renato Dering é escritor, mestrando em Letras (Estudos Literários) pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), sendo graduado também em Letras (Português) pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Realizou estágio como roteirista na TV UFG e em seu Trabalho de Conclusão de Curso, desenvolveu pesquisa acerca da contística brasileira e roteirização fílmica. Atualmente também pesquisa a Literatura e Cultura de massa. É idealizador e administrador do site EFFI, que divulga o cinema e conteúdos audiovisuais. Contato: renatodering@gmail.com @rdering

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