quinta-feira, 12 de abril de 2012

Pina Bausch homenageada por Wim Wenders



Wenders e Pina, simplismente amigos....

Inegável o impacto visual e sonoro que o cinema 3D proporciona aos espectadores, ainda mais quando na tela grande são exibidos filmes oriundos de espetáculos cênicos. O diretor Win Wenders, fazendo uso desta tecnologia, tornou possível ampliar o público de Philippine Bausch e de sua Companhia Tanztheater Wuppertal mostrando espetáculos como “Café Muller” e “Le Sacre du Printemps”, para um grande número de pessoas em todo mundo. 

Cena de "Café Müller"
Para os amantes da dança e também para os leigos no assunto, o filme “Pina” emociona pelo lindo trabalho de palco e pela riqueza de detalhes que leva o público a vivenciar cada movimento, cada respiração, cada expressão facial e corporal dos bailarinos. Sem dúvida, assistir ao filme é sentir-se num imenso teatro, com o privilégio de ver planos de detalhes incríveis e ainda de quebra imagens externas com bailarinos encenando sobre planos do campo e da cidade. Sobreposições de planos que lembram os quadros cubistas.

Pina, olhar profundo e sincero
Indicado ao Oscar de Melhor documentário 2012, “Pina” não é o tipo de filme que se nutre da vida e obra da coreógrafa. Wenders, que foi também seu amigo, preferiu desvelá-la pela dança, que sempre foi sua mais louca paixão.
Magra, pálida e com olheiras, Pina era uma fumante inveterada,  fez-me lembrar de Serge Gainsbourg com seu cigarro vivo e criativo. Seu talento em superar limites pela dança era fantástico. Sua Companhia era sua vida, sua arte sua essência. Wenders consegue extrair essa máxima de Pina em seu filme.

Elemento - água - cenas do filme
Wenders tem vocação para lidar com artistas; músicos, bailarinos.... Seu filme “Buena Vista Social Club”, 1999, revive o Clube de Havana e seus músicos cubanos, verdadeiras jóias guardadas que,  a partir desse encontro com o diretor, tornaram-se um marco da música cubana para o mundo. Wenders consegue, com o filme, emergir a salsa das entranhas de Havana e mostrá-la para o mundo revelando artistas como Compay Segundo, Eliades Ochoa, Ibrahim Ferrer, Amadito Valdés e outros.  O filme é uma viagem no espaço e no tempo pelas imagens e pela música cubana. Magnífico!

Em "Buena Vista Social Club", Wenders traz de volta a bela música cubana
 Em “O Hotel de um milhão de dólares”, 2000, Wenders filma a história criada por Bono do U2, que também participou da trilha sonora, sobre um hotel decadente onde houve a morte de um milionário. Um investigador, interpretado por Mel Gibson, tenta achar os culpados. Dá para perceber o envolvimento que o diretor consegue estabelecer com músicos e artistas, algo particular que move seus filmes dando um tom todo especial à trama documental ou ficcional. Particularmente, gosto muito de como Wenders faz isso.


Em “Pina 3D”, ele faz uma homenagem sincera, porém nada singela.  Sofisticada, à altura de sua musa, tudo é bem cuidado, os figurinos, as luzes  e uma trilha sonora instigante em que  pode-se ouvir Caetano Veloso com seu “Leãozinho”.
 Pedro Almodóvar e Federico Fellini imortalizaram Pina em seus filmes, respectivamente em,   “Hable con Ella” e “E La Nave Va”. Lindas imagens no início de “Hable com Ella” em que vemos um trecho da peça “Café Müller” de Pina e em “E La Nave Va”, em que a bailarina alemã vive a princesa cega Lherimia.

Pina em "E la nave va" de Fellini
Wenders, visceral, sincero; Pina, expressionista e contemporânea; sua Companhia, impecável. Amigos e contemporâneos unidos pela arte, Wenders e Pina inspiram e transpiram numa química incrível. Apesar do filme ter sido realizado após a morte da coreógrafa, os bailarinos, apaixonados pela dança, pela dança de Pina, revivem com fervor a musa. Fica evidente a paixão e dedicação dos bailarinos da Companhia que seguem os mandamentos da coreógrafa como uma religião, um dogma, sem contestar  deixando se renderem aos espetáculos com paixão e dedicação. No filme, a bailarina brasileira Regina Advento, que faz parte da Companhia, fala em português e dança em homenagem a Pina, uma leve dança das cadeiras. 
No jogo de cenas entre palco e cidade, alguns bailarinos prestam homenagem a grande Pina, dançando pequenos trechos e poucas palavras.
O filme é lindo, vale muito a pena assisti-lo. Bom filme!

 Cenas de "Sagração da Primavera" 
Cenas da cidade - cenário urbano



Kátia Peixoto é doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Mestre em Cinema pela ECA - USP onde realizou pesquisas em cinema italiano principalmente em Federico Fellini nas manifestações teatrais, clowns e mambembe de alguns de seus filmes. Fotógrafa por 6 anos do Jornal Argumento. Formada em piano e dança pelo Conservatório musical Villa Lobos. Atualmente leciona no Curso Superior de de Música da FAC-FITO e na UNIP nos Cursos de Comunicação e é integrante do grupo Adriana Rodrigues de Dança Flamenca sob a direção de Antônio Benega.

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