quarta-feira, 2 de maio de 2012

Ética e a pílula da farinha


Apresentamos hoje um texto de Diana Mendes, estudante de Filosofia da UFABC, que analisa o caso  caso microvlar-placebo, no qual mulheres tomaram medicamento anticoncepcionais sem efeito, os placebos - na época também conhecidos como “pílula da farinha” - produzidos pelo laboratório Schering em 1998 no Brasil.




Ética utilitarista e pílula da farinha




Analisamos o caso em questão pela corrente teleológica, ética utilitarista. No utilitarismo, sofrimento significa falta de ética. Nessa corrente a ação deve visar a felicidade para o maior número de pessoas e é focada nas conseqüências que geram o bem para a maioria. 



No caso do microvlar-placebo, como há dor e sofrimento causado na ação do laboratório Schering, há falta de ética, pois com a chegada das pílulas de teste às farmácias, não havia nenhuma garantia do efeito das mesmas, portanto levava a compra de um produto que não cumpria com as condições que ele mesmo prescrevia. Sendo assim, o produto não cumpriu sua função de ser uma prevenção à gravidez e isso poderia atingir e causar dor a muitas pessoas, como as mulheres que tomavam a pílula e não tinham condições financeiras para estar engravidando, ou mesmo estar mudando o plano de vida com a gravidez. 



Não só como mães, estaria presente o antiético, mas também como consumidoras, porque estariam pagando por uma propaganda enganosa. Outro fator a se pensar é na duração e intensidade da ação. A duração é longa, pois os reflexos causados pela dor da gravidez imprevista duram muito, na verdade, pela vida toda da mãe e da criança. A intensidade é grande, pois o número de pessoas afetadas no começo das vendas das embalagens com pílulas testes e após meses vendendo as mesmas é maior, não só as mulheres são afetadas, mas sim famílias e a vida das crianças que estão por vir são envolvidas. A falta de ética pode ser constatada também na demora de um mês da notificação do laboratório, nesse tempo quantas mulheres podem ter sido afetadas com o erro de distribuição das pílulas corretas e pílulas testes da empresa. O laboratório teve interesses econômicos, para não perder rendimento ou até credibilidade e clientes, e onde há interesse não há ética e não se pensa no bem para a maioria das pessoas.




Para as mulheres que tomaram as pílulas, quais seriam as conseqüências de uma gravidez imprevista? Elas teriam que arcar ou não com a gravidez? Fazer um aborto seria ético e um direito das mesmas? Até que ponto a vida delas mudaria com um filho (a)? Mesmo elas tomando as pílulas para se precaver e não engravidar, seria uma ação correta não criar a criança? Como consumidoras, é ético com elas, elas pagarem por um produto que não cumpre seu efeito e sofrerem as conseqüências disso, sem nenhum ressarcimento do laboratório? São questionamentos a se fazer. 



O resultado disso, é saber que a ação do laboratório foi antiética, mas as mulheres também estão lidando com o bem maior do ser humano (a vida) e elas também tem que pensar na felicidade das crianças que virão para que as conseqüências de suas ações não gerem mais sofrimento. Como prática, pode-se sugerir indenizações como citadas no texto, para que se garanta o bem estar das crianças e das mães, ou criação de ONGs que auxiliem na educação e formação dessas crianças. Ajuda psicológica para as mães que necessitem de apoio familiar para estruturar essa nova família com a vinda de um filho. Iniciativas de bolsa auxílio e muitas outras medidas.





Para os fornecedores, é ético não arcar com as conseqüências da ação de ter levado pílulas testes para venda em farmácias? Como não querer indenizar uma consumidora afetada pelo não-efeito do seu produto, isso é correto? É certo ter consciência das mulheres que poderiam ficar grávidas e ainda sim tardar a divulgar tal erro? Manter o interesse em não atingir a empresa, economicamente e na imagem da mesma e não pensar nas consumidoras, é justo? 

O resultado dessa reflexão leva à falta de ética, colocar o interesse do bem da empresa, acima do bem dos consumidores é trazer muito mais sofrimento. Ainda mais quando esse bem é a vida, o maior de todos, pelo qual todo ser humano deve zelar. Como medidas práticas, pode-se citar maior precisão e eficiência na distribuição dos produtos, garantindo a distribuição correta das embalagens corretas. Nesse caso haver um consenso entre a empresa, fornecedores e o PROCON (um órgão que assegure e defenda os direitos do consumidor), retirada de todas pílulas testes de circulação e ressarcimento, da maneira que for melhor, as pessoas prejudicadas. Além de um controle de qualidade eficiente e fiscalização constante.




Diana Mendes é estudante de Filosofia da UFABC




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