domingo, 27 de maio de 2012

X-Men Primiera Classe e os dilemas do século XXI



Para os aficcionados por X-Men a última oportunidade para o deleite cinematográfico é X-Men Primiera Classe. Para os que estão interessados excluxivamente nas últimas novidades do cinema iraniano ou argentino, não é preciso dizer que se trata de entretenimento para o grande público. Mas devemos lembrar que mesmo, e principalmente, a oferta massiva da sétima arte está repleta de questões do nosso tempo cuja análise é bem vinda.
Li, não me lembro onde nem quando, que X-Men consegue ser mais plausível que qualquer grupo ou super-herói individual. Isso pelo fato de haver muito mais identificação com as pessoas de carne e osso. Pessoas discriminadas, à margem da sociedade, porém, com habilidades especiais têm muito mais apelo que os heróis altruístas ou os fantasiados que perseguem criminosos por terem sido privados dramaticamente do convívio de um ou mais familiares por bandidos. É o caso dos piegas Batman e Homem Aranha (sem querer ofender seus fãs).
Não faço ideia se Stan Lee, que costuma aparecer de forma bastante pontual nos filmes dos outros personargens da Marvel (Homem de Ferro, Thor), se deu por conta desse potencial quando criou os primeiros personagens de X-Men na década de 1960. O fato é que seus mutantes tocam na questão da alteridade, além de serem os mocinhos, são peludos, deformados, órfãos e seguidores de um cadeirante. No mundo ocidental, que não respondeu à questão de como conviver com o diferente, ou oque é considerado como fora dos padrões normais, tais personagens podem bem representar os anseios de deficientes físicos, negros, obesos e homossexuais.
Como nos dias atuais também é moda imbricar fatos históricos e ficção e em algumas searas acadêmicas o fctício nem é tão diferenciado do que é real, X-Men Primeira Classe é ambientado no período da Crise dos Mísseis em plena Guerra Fria e faz menções ao holocausto judeu. Além da dicotomia entre “mundo livre”, termo caro ao cinema estadunidense da segunda metade do século XX, e bloco soviético, tem-se o conflito entre mutantes e humanos. Na realidade, porém, a Guerra Fria faz parte da dimensão do passado, o holocausto também, mas o preconceito é tema atual.
O passado, por sua vez, não está fora do real, se faz presente como a melhor ferramenta para moldar as conciências. Ferramenta essa que é bem utilizada pelo cinema estadunidense, que raramente lembra que, os judeus vítimas do holocausto se converteram em algozes dos palestinos. Criaram o Estado artificial de Israel numa região cercada por árabes. Israel historicamente sempre teve apoio dos Estados Unidos, país hegemônico no concerto das nações, que vez por outra se manisfesta favorável por uma conciliação entre árabes e israelenses, mas têm nos árabes seu antípoda atual desde 11 de setembro de 2001. Já os antípodas de outrora, os soviéticos, são retratados em X-Men Primeira Classe como facilmente corruptíveis e manipuláveis.
A hecatombe nuclear maior temor do período da Guerra Fria não se concretizou. A bipolaridade EUA versus URSS deixou lugar para outras questões. A evocação do perigo nuclear faz lembrar que esse ainda existe e imbricado com as questões ambientais. Para além do temor de que os iranianos construam artefatos bélicos de urânio enriquecido, no Japão a tragédia nuclear da usina de Fukushima foi desencadeada por eventos naturais. Tanto a rivalidade entre as principais potências da Guerra Fria como a incompetência em nível global de refrear a devastação ambiental que causa sérios desequilíbrios no sistema planetário fazem notar a falta de sabedoria da humanidade.

Metaforicamente os mutantes podem bem representar uma ância de destruição contida nos humanos, a única que espécie do planeta que ao longo de sua existência construiu sociedades complexas, porém essa complexidade pode significar seu próprio fim. Se a ficção sempre copia a realidade também ajuda a construí-la. Em X-Men, nações se digladiam e pessoas não aceitam o que é diferente. Pode bem fazer refletir sobre os dilemas que estamos enfrentando no correr do século XXI.

José Alexandre da Silva é professor de história e mestrando em educação pela UEPG.


A Contemporartes agradece a publicação e avisa que seu espaço continua aberto para produções artísticas de seus leitores.

0 comentários:

Postar um comentário

Seja educado. Comentários de teor ofensivo serão deletados.