As inúmeras facetas da Música Popular Brasileira: Pesquisas realizadas na disciplina "Cultura Popular"
Na coluna de hoje, vou levá-los à São Luiz do Paraitinga, cidade cheia de arte e graça, localizada no interior da capital paulista, para conhecer a música de Elpídio dos Santos, pelo viés de André Perine.
Estudar cultura popular em um país com a diversidade étnica, social e cultural do Brasil é um grande desafio. Na Faculdade de Música da FAC FITO desenvolvemos estudos de cultura nas disciplinas; Etnomusicologia e Cultura Popular. Partimos de estudos antropológicos, apoiados por alguns estudiosos como: Waldenyr Caldas, Darcy Ribeiro, Neri de Paulo Carneiro, Norval Baitello Júnior e outros, evidenciando o comportamento cultural e social dos eventos musicais de épocas distintas e de grupos distintos.
Nosso recorte, neste semestre, partiu do contemporâneo indo de encontro às décadas de 1960, 1970 e 1980 e aos eventos culturais, sociais e musicais que aconteceram na capital e no interior de São Paulo. Gêneros como a Tropicália, Jovem Guarda, Rock nacional, Hip Hop e cultura do inteiror paulista, foram evidenciados em nossos estudos, debates e produções.
Hoje, vamos conhecer o músico Elpídio dos Santos pelo olhar de André Perine, músico e aluno da FAC, integrante do grupo da disciplina Cultura Popular. André, que vive há muito tempo em contato com os artistas de São Luiz do Paraitinga, cidade localizada no interior do Estado de São Paulo, participou do CD em homenagem a Elpído e com propriedade escreve um pouco sobre a vida e obra desde grande músico brasileiro.
A pintura musical de um caipira do mundo
André Perine1
Um pintor sintetiza todo um universo numa tela, um poeta pode levar através da escrita um leitor a lugares incríveis, o cineasta pode construir cenas que não deixam sombras de dúvidas que poderiam fazer parte da vida qualquer um, mas e a música? Seria capaz de levar um ouvinte a ter sensações além do universo sonoro? Elpídio dos Santos tem esta capacidade. Com a simplicidade do caipira paulista de São Luiz do Paraitinga, no Vale do Paraíba, ele traduz um Brasil como se estivesse em todas as partes.
Não é à toa que Amácio Mazzaropi após conhecer Elpídio dos Santos não largou mais a parceria. Todo filme tem pelo menos uma música para agraciar e amarrar ainda mais o enredo ou uma ideia que é exposta. No filme, Jeca Tatu, 1960, uma família é expulsa de suas terras injustamente e na sua retirada lá está ela, além da cena, a música de Elpídio dos Santos: “Botei o meu boi no carro e não tive nada pra carregar”, trecho da música Fogo no Rancho. A tristeza da família saindo do rancho é marcante.
Capa do CD em homenagem a Elpídio dos Santos em que André participa |
Porém, participar da gravação do CD, Viva Elpídio! que contém desde as músicas mais conhecidas como: “A dor da saudade”, “Lua na Roça”, “Cai Sereno” (ou “Rama da Mandioquinha”), “Você vai gostar” (também conhecido como: “Casinha Branca” - aliás uma das peculiaridades dos títulos das músicas são seus codinomes), e também músicas inéditas como: “Figa de Guiné”, “Passeio ao Rio”, “ Sertanejinha”. A diversidade rítmica é muito relevante, encontram-se desde toadas, modas de violas e cantigas brejeiras como também sambas, choros, chamamés e marchas de carnaval. Os assuntos tratados também são sui generis, e falam de malandragem, superstição, culinária e os clássicos entraves amorosos, entre outros.
A terra de Elpídio dos Santos é muito conhecida por seus festivais de marchas de carnaval, todo ano se elege as melhores e se tem um carnaval de rua, sem o tradicional samba de avenida do eixo Rio-São Paulo. Uma volta saudosista para quem já viveu a experiência e uma incrível vivência para as pessoas que só ouviram falar. Apesar do pequeno hiato nos festivais devido ao acidente natural ocorrido na região, onde o rio que cruza a cidade transbordou por contas das fortes chuvas, destruindo parte da cidade no ano do centenário de Elpídio dos Santos, a reconstrução está quase terminada e os festivais de marchinhas já estão de volta.
Uma das músicas inéditas do CD é Filé Minhão que descreve uma situação de um noivado com um tom muito bem humorado. No refrão a noiva diz assim do noivo: “Meu nêgo toca tuba e é beiçudo pra danar... se tasco um beijo nele tenho até a impressão que tô num restaurante devorando um bife de filé minhão”, ela deixa de ir à gafieira, mas não se arrepende e tem um orgulho de estar com o amado. A letra é simples e o arranjo musical é feito sobre os moldes de uma banda de retreta. Cada detalhe pode ser visualizado, sentido, chega a ser sinestésico.
1- Discente de Licenciatura em Música da FAC FITO na disciplina de Cultura Popular, ministrada pela professora Katia Peixoto dos Santos.
Referências:
VIANA, Oswaldinho; VIANA, Marisa. Viva Elpídio!. CD. São Paulo: 2009
Kátia Peixoto é doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Mestre em Cinema pela ECA - USP onde realizou pesquisas em cinema italiano principalmente em Federico Fellini nas manifestações teatrais, clowns e mambembe de alguns de seus filmes. Fotógrafa por 6 anos do Jornal Argumento. Formada em piano e dança pelo Conservatório musical Villa Lobos. Atualmente leciona no Curso Superior de de Música da FAC-FITO e na UNIP nos Cursos de Comunicação e é integrante do grupo Adriana Rodrigues de Dança Flamenca sob a direção de Antônio Benega.
0 comentários:
Postar um comentário
Seja educado. Comentários de teor ofensivo serão deletados.