Literatura, onde está? - Ainda Alberto Martins
“Aonde” anda a literatura? Talvez essa seja uma das
perguntas que norteia a peça de Alberto Martins, proferida nada mais por outros
três grandes nomes de nossa literatura: Álvares de Azevedo, Mário de Andrade e
José Paulo Paes. Um fato é inegável: Não se sabe ou saberá onde ela está! Como
já diria a Professora da USP, em seu livro Altas literaturas, a modernidade
está em ruínas, e junto a ela, as artes estão se perdendo. Martins, com uma
história leve na leitura, e densa no conteúdo, nos propõe essa visão, que nos
leva a uma busca. Onde está a literatura?
O livro, que é introduzido com uma “Nota”, assim intitulada
e assinada por A.M, já nos afirma se tratar de uma ficção, ainda que as
personagens “reais” venham a se comportar de modo divergente à vida. Mesmo
evidenciado que o cenário seja a cidade de São Paulo, podemos perceber que ela
também é uma atuante na história, sendo utilizada não apenas como exemplo de
urbanização e modernidade, como uma conseqüência desse processo industrial
advindo dos séculos XIX e XX.
A história começa na Faculdade de Direito, curso esse que
será indagado por Álvares a José Paes: “Como? Então é possível ser poeta sem
ser bacharel em leis?”. E Paes, em sua inocência irônica, por mim considerada,
responde que “Nesse ponto, o país progrediu”. Reitero tanto a inocência quanto
a ironia, quando Zé Paulo comenta com Álvares que achava que a poesia era para
ser séria. Em um discurso que corre e ocorre livremente, o poeta romântico
afirma que a poesia era só fachada, causando a dúvida no contemporâneo. Sem
dúvida, Álvares de Azevedo, segundo Zé Paulo citando Mário personagem, foi um
gênio com seus defeitos... o primeiro deles foi ter deixado a poesia tão cedo,
o que tornou um novo mito dentro da própria literatura.
Quando mencionamos que São Paulo é uma outra atuante,
percebemos pelo próprio processo de construção do texto, que demonstra a
evolução da cidade e as conseqüências dessa industrialização, seja nas ironias
dos inúmeros mais de 30 bairros com nome de “Jardim”, ou nas colocações de Paes,
que podem ser tomadas como a confirmação da conseqüência do próprio
“modernismo” acelerado do início do século XX: “A mais nova invenção da cidade:
congestionamento em tempo integral”.
Mas, e Mário de Andrade, que falamos pertencer a narrativa,
por onde anda? Apesar de passear pela cidade com os outros dois poetas, só no
final se pronuncia, no paradoxo de pesar e alegria de ter pertencido ao
modernismo. Pode ser uma escolha pessoal, mas ficaria com as posições do jovem
que muito viveu, ao mais velho, que se enclausurou: “O jogo sempre muda e quem
está vivo... que se vire! Tristes os mortos, que não podem mudar as apostas”.
Para assinalar a pergunta levantada, acerca de “aonde” está
a literatura, prefiro, novamente, voltar ao tom romântico de Álvares, porém
sensato, e responder com outro questionamento: faz sentido procurá-la no
passado? É melhor que e identifiquemos em suas funções e em nossos direitos,
como já propõe Umberto Eco em Sobre literatura e Antonio Candido, Vários
Escritos.
Renato Dering é escritor, mestrando em Letras (Estudos Literários) pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), sendo graduado também em Letras pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Realizou estágio como roteirista na TV UFG e em seu Trabalho de Conclusão de Curso, desenvolveu pesquisa acerca da contística brasileira e roteirização fílmica. Atualmente também pesquisa a Literatura e Cultura de massa.
Contato: renatodering@gmail.com
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