segunda-feira, 9 de julho de 2012

Literatura, onde está? - Ainda Alberto Martins





“Aonde” anda a literatura? Talvez essa seja uma das perguntas que norteia a peça de Alberto Martins, proferida nada mais por outros três grandes nomes de nossa literatura: Álvares de Azevedo, Mário de Andrade e José Paulo Paes. Um fato é inegável: Não se sabe ou saberá onde ela está! Como já diria a Professora da USP, em seu livro Altas literaturas, a modernidade está em ruínas, e junto a ela, as artes estão se perdendo. Martins, com uma história leve na leitura, e densa no conteúdo, nos propõe essa visão, que nos leva a uma busca. Onde está a literatura?

O livro, que é introduzido com uma “Nota”, assim intitulada e assinada por A.M, já nos afirma se tratar de uma ficção, ainda que as personagens “reais” venham a se comportar de modo divergente à vida. Mesmo evidenciado que o cenário seja a cidade de São Paulo, podemos perceber que ela também é uma atuante na história, sendo utilizada não apenas como exemplo de urbanização e modernidade, como uma conseqüência desse processo industrial advindo dos séculos XIX e XX.

A história começa na Faculdade de Direito, curso esse que será indagado por Álvares a José Paes: “Como? Então é possível ser poeta sem ser bacharel em leis?”. E Paes, em sua inocência irônica, por mim considerada, responde que “Nesse ponto, o país progrediu”. Reitero tanto a inocência quanto a ironia, quando Zé Paulo comenta com Álvares que achava que a poesia era para ser séria. Em um discurso que corre e ocorre livremente, o poeta romântico afirma que a poesia era só fachada, causando a dúvida no contemporâneo. Sem dúvida, Álvares de Azevedo, segundo Zé Paulo citando Mário personagem, foi um gênio com seus defeitos... o primeiro deles foi ter deixado a poesia tão cedo, o que tornou um novo mito dentro da própria literatura.

Quando mencionamos que São Paulo é uma outra atuante, percebemos pelo próprio processo de construção do texto, que demonstra a evolução da cidade e as conseqüências dessa industrialização, seja nas ironias dos inúmeros mais de 30 bairros com nome de “Jardim”, ou nas colocações de Paes, que podem ser tomadas como a confirmação da conseqüência do próprio “modernismo” acelerado do início do século XX: “A mais nova invenção da cidade: congestionamento em tempo integral”.

Mas, e Mário de Andrade, que falamos pertencer a narrativa, por onde anda? Apesar de passear pela cidade com os outros dois poetas, só no final se pronuncia, no paradoxo de pesar e alegria de ter pertencido ao modernismo. Pode ser uma escolha pessoal, mas ficaria com as posições do jovem que muito viveu, ao mais velho, que se enclausurou: “O jogo sempre muda e quem está vivo... que se vire! Tristes os mortos, que não podem mudar as apostas”.

Para assinalar a pergunta levantada, acerca de “aonde” está a literatura, prefiro, novamente, voltar ao tom romântico de Álvares, porém sensato, e responder com outro questionamento: faz sentido procurá-la no passado? É melhor que e identifiquemos em suas funções e em nossos direitos, como já propõe Umberto Eco em Sobre literatura e Antonio Candido, Vários Escritos.





Renato Dering é escritor, mestrando em Letras (Estudos Literários) pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), sendo graduado também em Letras pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Realizou estágio como roteirista na TV UFG e em seu Trabalho de Conclusão de Curso, desenvolveu pesquisa acerca da contística brasileira e roteirização fílmica. Atualmente também pesquisa a Literatura e Cultura de massa.



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