terça-feira, 17 de julho de 2012

Maria



http://www.youtube.com/watch?v=7vA-c1xy5aQ

"Roupa pra tirar retrato", 2004, de Sérgio Roizenblit

Um vestido azul ganha destaque perspectiva afora, em direção a uma câmera de vídeo. Os sons de um sino de vaca anunciam, em verdade, a presença humana. Uma dama de azul conversa com o homem com a câmera. Um "bom dia" se transforma na busca pelo seu nome próprio e dessa pequena investigação, um elogio se transforma em um problema: "gostei muito da sua roupa" é elevada ao nível de um leve embate sobre teoria do retrato. A retratada afirma que aquela não é uma "roupa para tirar retrato" e com isso coloca em xeque a falsa espontaneidade de qualquer objeto da retratística. Todo retrato é uma apresentação que passa por uma negociação entre o pêndulo que o causa, ou seja, aquele que mira o olhar e aquele que tem seu espírito roubado e apropriado pelo outro. 

O ponto de interesse, talvez, deste curta-metragem está justamente na resposta oral e rasteira desta humilde senhora; as lentes do homem de São Paulo puderam capturá-la em seu caminhar diário e mesmo transformar este encontro em cinema institucionalizado em festivais, mas ao mesmo tempo ela foi capaz de verbalizar sua discordância. Não, não trajava uma roupa "limpa e passada", como aquelas que julgava serem as ideais para um retrato. Em dado momento, diz "roupa para tirar retrato não é assim não, mas se quer tirar, tire", ou seja: visto que você tem essa arma mais forte do que eu, a câmera de vídeo, faça o que bem entender dela.

Não satisfeita em explicitar o domínio da técnica em contraposição à sua própria vontade, a retratada inverte a hierarquia da retratística e dispara diversas perguntas àqueles que filmam: de onde eles são? São casados? Por fim, elogia a beleza de todos eles e deseja que sigam com Deus. A relação de poder aqui é percebida, escancarada e mesmo ironizada por esta inteligente senhora. Seus verbos proferidos nos deixam curiosos, visto que, diferente de algumas pinturas do Renascimento, não há aqui um espelho dentro do quadro que possa mostrar também a face daqueles que retratam.

Com que roupa iríamos ali ao lado, como ela diz, visitar uma amiga? Quais os limites entre diálogo e vigilância através do vídeo? Quais novos códigos de ética e estética perpassam a relação que o homem contemporâneo criou entre a câmera de vídeo, a alteridade cultural e a rápida disseminação possibilitada por um circuito de divulgação audiovisual? Num segundo momento, quais diferenças surgem quando se disponibiliza esse encontro num campo virtual público e Maria é, além de uma habitante de Exu, em Pernambuco, objeto de um texto como este?









Raphael Fonseca é crítico e historiador da arte. Doutorando em História e Crítica da Arte pela UERJ. Bacharel em História da Arte pela UERJ, com mestrado na mesma área pela UNICAMP. Professor de Artes Visuais no Colégio Pedro II (RJ). Curador de mostras e festivais de cinema como “Commedia all’italiana” (Caixa Cultural de Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo, 2011) e "Cinema pós-iugoslavo" (Caixa Cultural de São Paulo, 2012). Membro da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas (ANPAP) e da Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA).

2 comentários:

Anônimo disse...

A HISTÓRIA QUE NINGUÉM CONTA
E O QUE TIROU DIPLOMA POR PROCESSOS SAFADOS ATÉ FINGI QUE NEM É COM ELE

Quando custa uma universidade pública? Cerca de 15 bilhões. R$ 5 bi é com infraestrutura:tudo da aluno carente precisa (alojamento, comida livro e bolsa), residencial para docente e funcionários, biblioteca de qualidade,etc. Os outros R$ 10 bi é para ser aplicado na rede básica para produzir o que universidade prescinde para ter o mínimo de qualidade, e disso nem preciso dizer que a maior parte é para pagar salário docente.

As nossas universidades públicas começaram com JK, o qual fundou 10. Quanto gastou por isso? PRATICAMENTE NADA. O que fez foi juntar alguns núcleos cursos isolados num pacote e se deu o nome de universidade. E na maioria dos casos, designou terreno conseguido por doação (coisa que até turma de construtora entrou alegremente) para ser o campus. Obviamente todos os terrenos ¨doados¨ exigiram gastos fabulosos só com fundações, como a história mostra. E enquanto não, continuariam funcionando nos mesmos prédios de sempre e em alguns casos em espaço cedido da rede pública. E tudo SEM GASTAR UM CENTAVO A MAIS COM REDE PÚBLICA DE ENSINO BÁSICO.

Por que a classe docente superior deixou tudo isso acontecer sem um suspiro de protesto? Em tais criação de universidade tinha um presente maravilhosos para todos: os cargos administrativos seriam ocupados por esses ganhando extra. Porquanto, deixaria sala de aula, espaço lúgubre, mal cheiroso e cheio de aluno com as piores deficiências, sem perder um centavo e as benesses da carreira docente, mais extras com possibilidade de ir até ao infinito. Fora os ganhos políticos dos mais importantes.

Veio a ditadura e precisava atuar nesse quadro por haver um inimigo feroz: estudante de nível superior. Era preciso levantar bilhões para fazer os campi universitários. E nem isso queriam, as construtoras com sempre estavam na jogada, mas que fosse cidade universitária: Tinha que ser coisa tão inóspita para pobre que mesmo que fosse só para ir uma aula para seguinte precisaria ter carro.

A turma delfiniana entrou em campo para conseguir fábulas via empréstimos internacionais MEC/USAID. Como há certas coisas que provocam vergonhas mesmo em facínoras, precisar explicar como gastar bilhões com curso superior sem ensino básico, educação para o povo. Eis que entra em cena o MOBRAL. E ficou assim: dos bilhões vindo se gasta centavos com educação para o pouco e os demais com construtoras para fazer cidades universitárias.

22 de julho de 2012 às 23:01
Anônimo disse...

Cont.

Construída essas cidades universitárias, surgiram uma enormidade de problemas e um era gritantes: como conseguir docente para tanto, havendo dois subtraendo: mais cargos administrativos e.. alguns indesejáveis que precisavam perseguir e demitir. A grosso modo ¨resolveram¨ isso delegando ao general que cuidava da universidade pública (toda essa tinha gabinete comando por gente do serviço de informação, sendo reitor apenas boneco de figuração) . Esse passou nomear como docente, salvo raras exceções, todo tipo de escória social e com mais gosto quanto mais escória fosse (O CONCURSO ERA FAJUTICE, SALVO EXCEÇÕES E MESMOS ESSAS O GENERAL TENTAVA POR TODOS OS MEIOS EVITÁ-LA ). Precisava até que o sujeito se fingisse de esquerda para fazer relato e denunciar ao general e não só aluno, como todo e qualquer. Alguns aproveitaram, já que desejava que general nomeasse esposa/amante, parente, amigo, etc para vaga, para delatar docente. E alguns casos, para o sujeito tomar fugir, bastava esse colocar bilhetinho por baixo da porta do gabinete do docente, dizendo-se amigo anônimo e que estava sabendo que o general desconfiava que esse era comunista.

Essas escórias sociais transformaram a funcionalidade da universidade coisa pior do que antro formado pelas piores formas de degeneração social, porquanto, tudo foi implementado via o processo de diplomação. Aos que compactuam toda facilidade para tirar tudo quanto for tipo de diploma e aos que percebem a menor inconveniência, as perseguições das mais abjetas. Com isso, fizeram com que na ponta da universidade pública o mais provável sair era um corrupto voraz, um sujeito que não se sustenta em pé um segundo se dependesse do que sabia, mas apenas por ter diploma de nível superior de uma universidade pública. Tudo isso para cumprir a máxima que os golpistas sempre fizeram questão de propalar quando diziam - ¨ Estão achando ruim ditadura @¨%$@(#!!! Esperem quando for civil ¨

Veio o tempo dito de redemocratização. A primeira providência foi tocarem fogo em todos os arquivos do general, alguns foram pelo fato do general cumprir o prometido, e com um prêmio: EFETIVAÇÃO DE TODOS SEM CONCURSO. E um dado: a quantidade de cargos administrativos estava estagnada. Para tanto, criaram a figura dos campi para o interior, na imensa maioria nada além de escola pública cedida pelos municípios. Esse precisava ter curso superior para diplomar docente que prestasse e tendo sem prestar, de onde viria aluno para fazer curso superior? Como o que interessa mesmo era o cargos administrativos, isso era questão para safado colocar.

O governo Lula fez tal qual JK, com alguns adendos próprios e com algumas atualizações exigidas pelo tempo e nada mais. E essas continuaram atuando, salvo pequenas exceções, tal como faziam tais imundices sociais que entraram como docente nos tempos da ditadura , só que agora com alguns desses ainda e outros imundos que esses mesmos produziram.

22 de julho de 2012 às 23:02

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