MICHAEL RUETZ, FOTÓGRAFO DAS REVOLUÇÕES
"A fotografia é no máximo uma pequena voz, mas às vezes, não sempre é verdade, acontece de um só clichê, ou até um conjunto, seduzir os sentidos a ponto de desembocar numa tomada de consciência. Tudo depende de quem olha; algumas fotografias suscitam tal emoção que geram reflexão. (...) A fotografia é uma pequena voz. Acredito nisso. Se for bem concebida, consegue fazer-se ouvir." (Eugene Smith, Centre National de la Photographie)
Há momentos em que a vida se torna um instante combinando biografia e história. Os anos de 1968 e 1989 foram instantes assim na história alemã do pós-guerra, onde itens, da maneira como eram, mudaram radicalmente e cada dia carregava o potencial das possibilidades consigo. Em tais momentos, assim descreve o filósofo francês Alain Badiou, o universal e o único se mesclam cada qual em seu evento concreto, o qual não está disponível ao poder do conhecimento com nenhum conceito conhecido. Estes são os momentos nos quais o sujeito encontra-se com a consciência social.
Há momentos em que a vida se torna um instante combinando biografia e história. Os anos de 1968 e 1989 foram instantes assim na história alemã do pós-guerra, onde itens, da maneira como eram, mudaram radicalmente e cada dia carregava o potencial das possibilidades consigo. Em tais momentos, assim descreve o filósofo francês Alain Badiou, o universal e o único se mesclam cada qual em seu evento concreto, o qual não está disponível ao poder do conhecimento com nenhum conceito conhecido. Estes são os momentos nos quais o sujeito encontra-se com a consciência social.
A mostra fotográfica de Michael Ruetz, 1968:Tempos Incômodos combina as características de biografia e história como o sociólogo Wright Mills define em seu livro "A Imaginação Sociológica".
Mas o trabalho de Ruetz não se limita apenas a documentar a dinâmica do movimento político de 68, mas é concebido como um diário fotográfico que contempla o período a partir da greve na Universidade de Berlim, em 22 de junho de 1966, até os acontecimentos do final de maio de 1975. As imagens mostram um mundo que despertava e se movia a um clima de liberação e emancipação, contemplando também fotografias tiradas na Grécia, em Roma, em Angola e no Chile.
A curadora da mostra em Curitiba, Stephanie Dahn Batista, descreve-a como um "diário de acontecimentos, tanto históricos quanto banais". "O público vai encontrar uma testemunha ocular de uma época histórica e vai ver também imagens de um cenário pouco conhecido das rebeldias nas ruas."
A curadora avalia que é muito grande a importância histórica do período retratado, permeado que foi por mudanças profundas." Era uma época de extrema revolta. O movimento estudantil contra as autoridades e a Guerra do Vietnã, por exemplo, eram questões sobre levantar a voz contra o sistema autoritário", diz ela. Para Dahn, é um tema que continua atual.
Ruetz capta com nitidez essas situações. "Ele não é fotógrafo documental, mas tem uma preocupação estética." Nascido em Berlim em 1940, ele já colaborou com os periódicos Time, Life, Der Spiegel e Stern e cobriu eventos como a invasão da Tchecoslováquia pelas tropas soviéticas em 1968.
O autor das imagens disse repetidas vezes que "1968 foi um estado de ânimo e que transitava entre o regozijo e a depressão". O fotógrafo alemão registrou situações históricas em imagens de efeito atemporal, além de capturar imagens do cotidiano. As fotos se transformaram em ícones de uma forma de vida perdida, em um período que a válvula de escape se traduzia em lutas de rua, manifestações e iniciativas artísticas e políticas.
O diário mostra os líderes políticos e culturais de Willy Brandt a Joseph Beuys, bem como as linhas divisórias entre a ditadura e o desenvolvimento democrático: em Berlim Oriental e Ocidental, em Portugal, no Chile, na Grécia e na África do Sul.
O termo que melhor define esse fotógrafo é o de "documentarista político", segundo João Urban, fotógrafo curitibano. "Ele tinha grande sensibilidade para esses temas. Talvez tenha sido esse o motivo de ele ter sido mandado ao Chile quando Allende (Salvador Allende, presidente do país entre 1970 e 1973) foi eleito." Imagens fortes e próximas do personagem são algumas características marcantes na obra do fotógrafo. Ele trabalha com lentes grande angular, perto das pessoas, e registra os momentos decisivos na cena.
Ganhador de diversos prêmios na área de fotografia e com vários livros publicados, Ruetz não se concentrou somente em retratos políticos. "Ele foi um cronista visual daquele tempo, e não se focou apenas nos grandes acontecimentos históricos, mas também nas figuras da rua, no dia a dia. A composição e a ironia presentes nos seus trabalhos provocam um riso inteligente".
As fotografias de Ruetz têm significado excepcional. São documentos muito emocionais sobre os acontecimentos de 1968. Mas não é o ponto de vista do jornalista que detém essas imagens. A sua perspectiva nasceu com o movimento e ele é parte do mesmo. Igualmente transparece nas suas fotografias o estilo de um escrito manual artístico desses acontecimentos. A experiência subjetiva e a mediação objetiva se fusionam, segundo K.Staeck e J.Odenthal da Academia de Artes de Berlim.
Michael Ruetz nasceu em Berlim em 1940 e se tornou conhecido pelos registros do
movimento de protesto estudantil. Após estudar Sinologia, Estudos Japoneses e Jornalismo em Freiburg e Munique, se transferiu em 1963 para a Universidade Livre de Berlim. Lá testemunhou as primeiras ações que levaram à revolta estudantil e começou a registrar os eventos com sua câmera, fazendo suas primeiras obras importantes em 1964. Como morava em Berlim, Rütz pode viajar livremente pela Alemanha Oriental, fotografando a vida oficial e privada na RDA.
Serviço:
Exposição fotográfica
"1968 - Tempos Incômodos"
Período expositivo: de 20/06 a 12/08/2012.
Caixa Cultural
Rua Conselheiro Laurindo, 280 – Centro
Curitiba - Pr.
Fone:(41) 2118.5114
Exposição fotográfica
"1968 - Tempos Incômodos"
Período expositivo: de 20/06 a 12/08/2012.
Caixa Cultural
Rua Conselheiro Laurindo, 280 – Centro
Curitiba - Pr.
Fone:(41) 2118.5114
Izabel Liviski, é Fotógrafa e Professora de Sociologia, disciplina em que é Doutoranda pela UFPR.
Pesquisadora de História da Arte, Sociologia da Imagem e da Cultura, e Linguagens Visuais.
Escreve a coluna INCONTROS quinzenalmente às 5as feiras na Revista ContemporArtes.
1 comentários:
A fotografia é uma voz. Gostei! Mais do que se fazer ouvir, às vezes é um grito.Vejo nas redes sociais o quanto as fotografias aparecem mais que as palavras. Dizem mais que as palavras. Quando não são as fotos, são os comics a linguagem de nossa época digital.
20 de julho de 2012 às 17:43As fotos de Ruetz mostram o processo revolucionário de forma interessante. Os movimentos caóticos acontecem em cenários que definem a Ordem (avenidas, prédios, sinalizações). Às vezes parecem o caos, em outras (como na foto em que os jovens correm como se marchassem) parecem uma nova Ordem que já se anuncia.
Será que estaremos eternamente condenados à vida institucionalizada, onde a liberdade e o desejo só fogem à domesticação em raros momentos?
Seu texto, Izabel, entre outras coisas importantes disse bem: a composição é irônica.
PS: vejo na foto da "fotógrafa" que você envelheceu num repente. A menina fotografou sua alma?
Abços.
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