Taiguara e sua música de resistência: coisas que os jovens devem saber
Para os jovens músicos que se propõem a compor,
executar instrumentos e lecionar, entender a riqueza da música brasileira é
primordial. Em nossos estudos na Faculdade de Música da FACFITO, temos motivado
este aprendizado com pesquisas voltadas para gêneros musicais que povoaram a
mente e os corpos dos jovens das décadas de 1960, 1970, 1980, com seus festivais
de músicas que revelaram grandes nomes da MPB.
Interessante dizer que muitos jovens já trazem, em seus
referenciais musicais, uma grande diversidade de gêneros musicais que vão desde composições
de Chiquinha Gonzaga, passando por mestres como Pixinguinha, Luis Gonzaga, Chico
Buarque, Caetano e, no caso de Shauan, Taiguara. Na coluna de hoje, vamos relembrar um
pouco do músico uruguaio, que veio para o Brasil aos 4 anos de idade, para mais tarde levantar a bandeira da revolução musical nas “(...) Veias Abertas ‘da nossa grande’ America
Latina”, parafraseando o grande escritor e jornalista, também uruguaio, Eduardo
Galeano.
Confesso que fiquei surpresa quando meu aluno Shauan,
do primeiro semestre, se interessou em reviver as melodias, as sonoridades, a
energia e as letras de Taiguara. Com exceção do show no Sesc que reviveu as músicas de Vandré e Taiguara, há anos não ouvia falar deste grande
músico que encantou os jovens das décadas de 1970 e 1980. Ao lado de Geraldo
Vandré, Taiguara foi um dos compositores que dedicaram
parte significativa de suas obras às canções de protesto. Também, Taiguara, carrega a marca de mais músicas censuradas, sendo considerado símbolo
de resistência à ditadura militar. Músicas como, “Pra Não Dizer que Não Falei
das Flores”, Aroeira” e “Disparada”, entre outras, são hinos de tempos difíceis que
os jovens de hoje não podem deixar de escutar.
Fiquem agora com as palavras de Shauan e um pouco da música de Vandré e Taiguara no
show que houve no SESC Belenzinho em maio deste ano; “Vandré e Taiguara: Canções de Resistência”,
com a produção musical de André Perine, outro aluno faculdade que também já publicou nesta coluna. Ah,
o André Perine também faz o violão neste video. Uau, fina flor....
Taiguara
Shauan Lopes Bencks de Souza[i]
Enquanto o Brasil estava em uma fase
complicada e difícil de sua história, o ápice do Regime Militar, um artista uruguaio,
nascido em Montevideo, conduzia sua produção na direção da liberdade de
expressão, da bandeira do viver intensamente, do respeito ao próximo, da
consciência da necessidade da transformação de cada um, em busca de algo
melhor.
Este era Taiguara Chalar da Silva (1945 –
1996), artista à frente de seu tempo, com uma visão ampla das situações
nebulosas e das necessidades de mudança que todos precisamos passar para um
amadurecimento amplo e não vinculado a nenhuma força superior estranha e
conduzida por poderes não legítimos como os de um governo ou das limitações
naturais de cada pessoa que não se questiona sobre possibilidades de ampliação
de conceitos e reformulação de seus atos.
Era 1970, Taiguara já havia lançado seis
discos, quando se inscreveu no V FIC (Festival Internacional da Canção)
promovido pela TV Globo com a canção Universo do teu corpo, ficando em terceiro
lugar e sendo reconhecido pelo público.
Esta canção ainda não constava em sua
discografia, mas neste mesmo ano nasceu sua gravação, no famoso e talvez mais
conhecido disco de sua carreira, o disco A
Viagem. LP que situa, faixa após faixa, o posicionamento de Taiguara quanto
a questões como o amor, a reflexão constante sobre o mundo que vivemos, sobre
as diferenças sociais, sobre a mediocridade humana, e sugerindo em suas letras,
ainda que nas entre linhas, que todos tenhamos um posicionamento mais crítico
sobre tudo o que nos cerca.
O mundo sofria modificações em muitos
sentidos e a música também se modificava, reafirmando, mas também ampliando,
formatos já iniciados na década anterior, 1960, como na inclusão de
instrumentos de música erudita no Rock
and Roll, gerando diversos novos formatos como o Rock Progressivo, por
exemplo.
O uso de novos timbres, ruídos e outras
referências, não comuns para a época, começavam a povoar as composições
musicais, não apenas no campo da música popular, mas também na música erudita.
Experimentalismos aconteciam, artistas se descobriam e descontruíam realidades
vigentes até então.
Taiguara não ficou atrás destas novidades,
utilizando neste disco, A Viagem,
novos sons e arranjos arrojados que misturavam estas referências inovadoras com
formações orquestrais tradicionais, trazendo à tona canções com arranjos ricos
em timbres e texturas diferentes que poderiam tanto agradar como causar
estranheza por parte de seu público.
É bastante interessante que ao mesmo tempo,
ainda que Taiguara utilizasse das novidades e inovações da época em suas
canções e arranjos, ele não perdia a oportunidade de salientar a necessidade de
não se perder as referências mais importantes, simples e singelas, como as
referências familiares. Situação notada claramente em outra canção do mesmo
disco, a canção intitulada, O Velho e o
Novo, com participação de seu pai, o bandoneonista e maestro Ubirajara
Silva, e também, na canção Gente Humilde,
de Garoto, Vinícius de Moraes e Chico Buarque.
Taiguara morreu em São Paulo em 1996, vítima
de um câncer na bexiga, nos deixando um vasto material gravado, embora hoje de
difícil acesso para os interessados.
Referências Bibliográficas
Dicionário Cravo Albin da
Música Popular Brasileira. [internet]. Disponível em http://www.dicionariompb.com.br/taiguara. Acesso em 28 mai.2012.
[i] Shauan Bencks - Educador,
músico, produtor, oficineiro de produção musical em homestúdio, e gestor de
conteúdo Cultural para internet da Secretaria de Cultura de Osasco/SP. Está
cursando licenciatura em educação musical na FAC-FITO em Osasco/SP, é
responsável pelo site www.producaoarte.com e pode ser seguido no
twitter como @producaoarte.
0 comentários:
Postar um comentário
Seja educado. Comentários de teor ofensivo serão deletados.