sexta-feira, 6 de julho de 2012

Taiguara e sua música de resistência: coisas que os jovens devem saber


                                      Katia Peixoto/Shauan Bencks
Para os jovens músicos que se propõem a compor, executar instrumentos e lecionar, entender a riqueza da música brasileira é primordial. Em nossos estudos na Faculdade de Música da FACFITO, temos motivado este aprendizado com pesquisas voltadas para gêneros musicais que povoaram a mente e os corpos dos jovens das décadas de 1960, 1970, 1980, com seus festivais de músicas que revelaram grandes nomes da MPB.
Interessante dizer que muitos jovens já trazem, em seus referenciais musicais, uma grande diversidade de gêneros musicais que vão desde composições de Chiquinha Gonzaga, passando por mestres como Pixinguinha, Luis Gonzaga, Chico Buarque, Caetano e, no caso de Shauan,  Taiguara. Na coluna de hoje, vamos relembrar um pouco do músico uruguaio, que veio para o Brasil aos 4 anos de idade, para mais tarde levantar a bandeira da revolução musical nas “(...)  Veias Abertas ‘da nossa grande’ America Latina”, parafraseando o grande escritor e jornalista, também uruguaio, Eduardo Galeano.
Confesso que fiquei surpresa quando meu aluno Shauan, do primeiro semestre, se interessou em reviver as melodias, as sonoridades, a energia e as letras de Taiguara. Com exceção do show no Sesc que reviveu as músicas de Vandré e Taiguara, há anos não ouvia falar deste grande músico que encantou os jovens das décadas de 1970 e 1980. Ao lado de Geraldo Vandré, Taiguara foi um dos compositores que dedicaram parte significativa de suas obras às canções de protesto. Também, Taiguara, carrega a marca de mais músicas censuradas, sendo considerado símbolo de resistência à ditadura militar. Músicas como, “Pra Não Dizer que Não Falei das Flores”, Aroeira” e “Disparada”, entre outras, são hinos de tempos difíceis que os jovens de hoje não podem deixar de escutar. 
Fiquem agora com as palavras de Shauan e um pouco da música de Vandré e  Taiguara no show que houve no SESC Belenzinho em maio deste ano; “Vandré e Taiguara: Canções de Resistência”, com a produção musical de André Perine, outro aluno  faculdade que também já publicou nesta coluna. Ah, 
o André Perine também faz o violão neste video. Uau, fina flor....



“Caminhando e cantando E seguindo a canção Somos todos iguais Braços dados ou não Nas escolas, nas ruas Campos, construções Caminhando e cantando E seguindo a canção...Vem, vamos embora Que esperar não é saber Quem sabe faz a hora Não espera acontecer...”.


Taiguara
Shauan Lopes Bencks de Souza[i]



Enquanto o Brasil estava em uma fase complicada e difícil de sua história, o ápice do Regime Militar, um artista uruguaio, nascido em Montevideo, conduzia sua produção na direção da liberdade de expressão, da bandeira do viver intensamente, do respeito ao próximo, da consciência da necessidade da transformação de cada um, em busca de algo melhor.

Este era Taiguara Chalar da Silva (1945 – 1996), artista à frente de seu tempo, com uma visão ampla das situações nebulosas e das necessidades de mudança que todos precisamos passar para um amadurecimento amplo e não vinculado a nenhuma força superior estranha e conduzida por poderes não legítimos como os de um governo ou das limitações naturais de cada pessoa que não se questiona sobre possibilidades de ampliação de conceitos e reformulação de seus atos.

Era 1970, Taiguara já havia lançado seis discos, quando se inscreveu no V FIC (Festival Internacional da Canção) promovido pela TV Globo com a canção Universo do teu corpo, ficando em terceiro lugar e sendo reconhecido pelo público.

Esta canção ainda não constava em sua discografia, mas neste mesmo ano nasceu sua gravação, no famoso e talvez mais conhecido disco de sua carreira, o disco A Viagem. LP que situa, faixa após faixa, o posicionamento de Taiguara quanto a questões como o amor, a reflexão constante sobre o mundo que vivemos, sobre as diferenças sociais, sobre a mediocridade humana, e sugerindo em suas letras, ainda que nas entre linhas, que todos tenhamos um posicionamento mais crítico sobre tudo o que nos cerca.

O mundo sofria modificações em muitos sentidos e a música também se modificava, reafirmando, mas também ampliando, formatos já iniciados na década anterior, 1960, como na inclusão de instrumentos de música erudita no Rock and Roll, gerando diversos novos formatos como o Rock Progressivo, por exemplo.




O uso de novos timbres, ruídos e outras referências, não comuns para a época, começavam a povoar as composições musicais, não apenas no campo da música popular, mas também na música erudita. Experimentalismos aconteciam, artistas se descobriam e descontruíam realidades vigentes até então.
Taiguara não ficou atrás destas novidades, utilizando neste disco, A Viagem, novos sons e arranjos arrojados que misturavam estas referências inovadoras com formações orquestrais tradicionais, trazendo à tona canções com arranjos ricos em timbres e texturas diferentes que poderiam tanto agradar como causar estranheza por parte de seu público.
É bastante interessante que ao mesmo tempo, ainda que Taiguara utilizasse das novidades e inovações da época em suas canções e arranjos, ele não perdia a oportunidade de salientar a necessidade de não se perder as referências mais importantes, simples e singelas, como as referências familiares. Situação notada claramente em outra canção do mesmo disco, a canção intitulada, O Velho e o Novo, com participação de seu pai, o bandoneonista e maestro Ubirajara Silva, e também, na canção Gente Humilde, de Garoto, Vinícius de Moraes e Chico Buarque.


Taiguara morreu em São Paulo em 1996, vítima de um câncer na bexiga, nos deixando um vasto material gravado, embora hoje de difícil acesso para os interessados.
Referências Bibliográficas
Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira. [internet]. Disponível em http://www.dicionariompb.com.br/taiguara. Acesso em 28 mai.2012.
Wikipédia. [internet]. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Taiguara. Acesso em 28 mai.2012.


[i] Shauan Bencks - Educador, músico, produtor, oficineiro de produção musical em homestúdio, e gestor de conteúdo Cultural para internet da Secretaria de Cultura de Osasco/SP. Está cursando licenciatura em educação musical na FAC-FITO em Osasco/SP, é responsável pelo site www.producaoarte.com e pode ser seguido no twitter como @producaoarte.


Kátia Peixoto é doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Mestre em Cinema pela ECA - USP onde realizou pesquisas em cinema italiano principalmente em Federico Fellini nas manifestações teatrais, clowns e mambembe de alguns de seus filmes. Fotógrafa por 6 anos do Jornal Argumento. Formada em piano e dança pelo Conservatório musical Villa Lobos. Atualmente leciona no Curso Superior de de Música da FAC-FITO e na UNIP nos Cursos de Comunicação e é integrante do grupo Adriana Rodrigues de Dança Flamenca sob a direção de Antônio Benega.

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