quinta-feira, 16 de agosto de 2012

TINA MODOTTI, FOTÓGRAFA E REVOLUCIONÁRIA



"Quando quero me lembrar de Tina Modotti devo fazer um esforço, como se se tratasse de recolher um punhado de névoa. Frágil, quase invisível. Eu a conheci ou não a conheci?" 
(Pablo Neruda)

Uma das mulheres mais fascinantes do século XX, Assunta Adelaide Luigia Modotti Mondini, apelidada de Tina Modotti, nasceu em Udine, Itália, em 1896 e morreu na Cidade do México em 1942, mas não antes de se tornar um mito. Giuseppe Modotti pai de Tina e de mais cinco filhos (ela era a segunda mais velha) foi para a Áustria em busca de emprego e ficou um longo período por lá. Quando voltou Tina já tinha nove anos e ela e seus irmãos, que tinham ficado com a mãe na Itália, enfrentavam uma situação bastante difícil. Tina chegou a abandonar a escola para ajudar sua mãe nos trabalhos eventuais que ela encontrava como costureira.
Mais tarde ela consegue um trabalho em uma fábrica nos subúrbios de Udine. Yolanda, sua irmã mais nova, se referia a ela como alguém com um semblante resignado e um rosto triste, mas que jamais reclamava da falta de comida ou frio. O pai de Tina resolve tentar a sorte nos EUA e se muda para lá onde começa a trabalhar a fim de juntar dinheiro para trazer o restante da família. Então em 1913 ele finalmente consegue trazer a família para os EUA e apenas uma semana depois de chegarem em São Francisco, Tina consegue um emprego em uma fábrica têxtil.

Na época São Francisco era o centro de intensas manifestações de trabalhadores, muitas vezes violentas, mas também era o local de encontro de intelectuais, poetas, escritores e artistas de diversos lugares dos EUA. Tina que frequentava locais de trabalhadores e de grupos teatrais no distrito italiano de São Francisco logo abandona o trabalho na fábrica têxtil para dedicar seu tempo ao teatro, mas para se sustentar ela ainda trabalha como costureira por conta própria. Nessa época Tina conhece o poeta e pintor Roubaix I’Abrie Richey, conhecido por Robo, que se apaixona por seu jeito taciturno e sua beleza triste, e com quem se casa passando a frequentar com ele a boêmia intelectual de Los Angeles, cidade para onde se mudam após o casamento. Em 1920, Tina participa como atriz em vários filmes mudos como: "The Tiger’s Coat" no qual interpretava uma mexicana.

                                 Diego Rivera e Frida Kahlo -  (México, 1º de maio de 1929)


Conhece personalidades como Frida Kahlo, Diego Rivera, David Alfaro Siqueiros e Rufino Tamayo além de vários refugiados políticos. Tina, que já trabalhava como fotógrafa profissional, atividade que durou apenas sete anos de 1923 a 1930, publica pela primeira vez suas fotos na revista “Mexican Folkways and Formas”. Ela costumava retratar as pessoas, os lugares, objetos, tudo que remetesse à cultura mexicana, ao povo mexicano.

                                                                 Foto: Tina Modotti
Em 1927 Tina se filia ao Partido Comunista Mexicano e no mesmo se envolve com o revolucionário cubano Julio Antonio Mella. Seu envolvimento com o movimento comunista se torna cada vez mais intenso e ela começa a publicar fotos no jornal revolucionário El Machete. Um dia enquanto caminhava com Mella em uma rua qualquer da cidade do México o casal é atacado e Mella é assassinado. Tina é acusada pela polícia mexicana e é levada a interrogatório.,
                                                                 Foto: Tina Modotti
Pouco tempo depois, ela é expulsa do México por suas atividades revolucionárias e envolvimento com o partido comunista. Impedida de voltar para os EUA ela vê na União Soviética sua única opção e muda-se para a Rússia, onde conhece personalidades da política e da arte como Sergei Eisenstein e engaja-se em missões internacionais de apoio à revolução. Atua na falida revolução espanhola e onde passa a integrar a Ajuda Vermelha Internacional, uma espécie de Cruz Vermelha comunista, onde ela realiza missões de “resgates clandestinos”.

Foto: Tina Modotti

Nessa época surgem as suspeitas de que ela trabalhava para o serviço secreto russo, porém, nada foi confirmado. Em 1939, Tina muda seu nome e decide voltar para a Cidade do México. Lá, três anos depois, em 1942, ela morre em um episódio cercado de mistérios: na versão oficial é alegado que Tina Modotti sofreu um ataque cardíaco em um táxi e não resistiu, mas há suspeitas de que ela tenha sido assassinada por seus antigos camaradas que não aceitavam seu desligamento, morta provavelmente por envenenamente.  Em seu funeral foi colocada uma bandeira com uma foice e um martelo sobre seu túmulo. Ao lado, um retrato dela do tempo em que morava na Califórnia, feito por Edward Weston.

                                        Retrato de Modotti feita por E. Weston

Ángel de la Calle publica uma biografia em quadrinhos, onde tenta desvendar o mistérios da vida e da morte de Tina Modotti e nos conta a história de um mito do século XX. Tina Modotti foi uma revolucionária de todas as vanguardas de seu tempo, artísticas e políticas. Revolucionou também a moral e os chamados bons costumes. Este livro refaz os passos da revolucionária: sua infância em uma pobre cidade italiana, sua passagem pelo cinema, sua vida escandalosa no México, sua luta na Guerra Civil Espanhola e sua morte ainda sem explicação..

A história de Modotti contada por De La Calle é um alento a todas as mulheres que desejam ser livres. Excluídas da política e do privilégio de serem soberanas de seus próprios corpos por séculos, tornam-se protagonistas de atos de liberdade incondicionais. Ter muitos amantes, viajar sozinha, ser artista, engajar-se na política, lutar uma revolução. Não poderia haver melhor subtítulo para a obra em quadrinhos que, como toda história real, tem uma certa dose de ficção. Tina canalizava, afinal, a mulher do século 20. À heroínas como ela deveríamos agradecer todas.

"A la puesta del sol sigue la noche,
Prefiero la aurora...."  (T.M.)

Agradecimentos à amiga Mônica Munhoz Pereira, pela sugestão da pauta.
A A la puesta de sol sigue la no



Izabel Liviski, é Fotógrafa e Professora de Sociologia, disciplina em que é Doutoranda pela UFPR. Pesquisadora de História da Arte, Sociologia da Imagem e da Cultura, e Linguagens Visuais. Escreve a coluna INCONTROS quinzenalmente às 5as feiras na Revista ContemporArtes.


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Foto:Melina de Souza



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Prefiero la aurora…

(Tina Modotti)

la puesta de sol sigue la noche
A la puesta de sol sigue la noche


Prefiero la aurora…

(Tina Modotti)


Prefiero la aurora…

(Tina Modotti)





A la puesta de sol sigue la noche





Prefiero la aurora…



(Tina Modotti)



A la puesta de sol sigue la noche





Prefiero la aurora…



(Tina Modotti)



 
as ela não segue a carreira 
 
































                         

 


9 comentários:

Anônimo disse...

Gostei da reportagem. Muito interessante! Abraço, Michele.

24 de agosto de 2012 às 12:43
Anônimo disse...

Muito obrigada pela reportagem, Izabel. No México, o pessoal falava muito dela. Importante que se conheça sua história por aqui tb! abç, Miriam

24 de agosto de 2012 às 12:50
Francisco Cezar de Luca Pucci disse...

"Ter muitos amantes, viajar sozinha, ser artista, engajar-se na política, lutar uma revolução". Eis a radicalização máxima de um sonho de liberdade que, acredito eu, dorme um sono leve no seio de todas as mulheres. Como homem fico feliz que assim seja, pois assim como Marx afirmava que o fim do capitalismo libertaria inclusive os capitalistas (o que é absolutamente lógico do ponto de vista dialético), nós homens não estaremos nunca absolutamente livres enquanto as mulheres - nossa contraparte - não o forem.
Vivam as Tinas!!!!!

24 de agosto de 2012 às 17:40
Incontros- foto&texto disse...

Marcelo Gonçalves Marcellino enviou comentário por e-mail:

Obrigado mais uma vez Izabel por enviar essas preciosidades.
Abs.

25 de agosto de 2012 às 14:59
Anônimo disse...

Querida Izabel,
Eu é que tenho que te agradecer pois sua matéria ficou muito boa e fez jus a Tina Modotti essa grande revolucionária que utilizou a imagem para dar voz aos excluídos.
Obrigada amiga.
Bjs. Mônica

27 de agosto de 2012 às 13:44
Isaac Medeiros disse...

Muito bacana encontrar textos sobre essas personalidades que tanto dão orgulho a nossa geração. Menos pela visibilidade social que essas conseguiram ter, do que pela tentativa positiva de enfrentamento de preconceitos e desrespeito contra mulheres, pobres, minorias e maiorias que viveram no início do século XX.

27 de agosto de 2012 às 15:40
Incontros- foto&texto disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Incontros- foto&texto disse...





Recebido por e-mail:

Querida,
Adorei o artigo. Parabéns!
Conheci a história desta interessante mulher através do livro delicioso de Angel de la Calle que ofereci à minha mãe há uns anos atrás. Maravilhoso!
Abraços,
Lígia

29 de agosto de 2012 às 22:13
Anônimo disse...

Muchas gracias por vuestros comentarios sobre mi libro. La verdad es que la vida d eTina fue fascinante y su capacidad para hacer amigos sigue siendo la misma tantos años después de su muerte.
Ángel de la Calle

24 de agosto de 2013 às 18:06

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