ONGs: Limites e Possibilidades
As questões sociais tiveram notório agravamento devido às transformações
sócio espacial (urbanização, etc.) ocorrida no que data o século XX. Desse
modo, emergiram novos atores sociais no sentido de enfrentar as mazelas em
curso tendo em vista que o aparato do Estado não abrange todos os setores.
Segundo PINTO (2005), esses novos atores sociais são denominados:
organizações não governamentais, as chamadas ONGs. Essas possuem uma dupla
concepção no que se refere ao seu significado em sociedade. A primeira
concepção seria ONGs como “representantes” da sociedade civil e a segunda, ONGs
como “substitutas” do Estado. Assim
sendo, destacaremos nesse debate, duas importantes iniciativas não
governamentais que obtiveram êxito no que diz respeito ao enfrentamento da
questão social. Entretanto salientando que, apesar das grandes contribuições
dadas à sociedade, as ONGs, possuem limitações sendo essencial a ação do
Estado.
A Pastoral da Criança nasceu do segmento da Igreja Católica tendo por
moção enfrentar a desnutrição de crianças. Sua história se inicia quando o
Diretor da UNICEF sugere ao Cardeal que a Igreja Católica fomentasse a
prevenção contra a mortandade de crianças. Nesse sentido, recruta-se a
sociedade civil para tal ação, sendo maior parte mulheres pobre. De tal modo, a
população passa a ter um sentimento de pertencimento e inclusão, todavia essa
inclusão se dá de maneira enviesada, tendo em vista que os ditos inclusos são
os representantes do segmento e, os exclusos a população pedinte.
Outro importante protagonismo nesse cenário foi a Ação da Cidadania
Contra a Fome, campanha liderada pelo sociólogo Herbert de Souza, o Bentinho.
Esta nasceu a partir do contexto social, político e econômico a qual o Brasil
vivia: o impeachment de Collor. O objetivo dessa campanha era mobilizar a
sociedade civil no que tange a luta contra a fome apontando para um Brasil sem
Fome, justo e cidadão.
De acordo com PINTO (2005), embora as atividades mencionadas tenham tido
grandes efeitos na sociedade, ambas se diferenciam. No que tange as diferenças,
cabe ressaltar, que a Pastoral da Criança mostra-se hierarquizada, admitindo o
cargo do Estado, sendo sua relação com essa instituição uma espécie de
“substituta”, de tal modo, recebendo recursos.
Já a “Ação...” fazia seu protagonismo sem ajuda do governo, de maneira
descentralizada e independente.
Outro aspecto apontado é o grau de eficácia, onde a Pastoral se mostrou
mais eficaz que a “Ação...” pelo fato da primeira ser uma instituição da Igreja
e seu objetivo ser voltado para um enfoque específico que é a desnutrição.
Sendo relevante também evidenciar que a Pastoral faz uso da sua “rede de
dioceses e paróquias”. Já a “Ação...”, possuía o objetivo mais amplo tendo por
panorama que essa queria acabar com a fome no Brasil.
A questão do voluntariado é outro aspecto no que se refere ao grau de
eficácia.
“Na Pastoral,
os recursos não dependem do voluntariado, são garantidos, em sua grande
maioria, pelo Ministério da Saúde, e o voluntariado ocorre através de uma ação
de convencimento nas comunidades carentes usando o trabalho voluntário de
mulheres pobres [No caso da] ‘Ação...’, tudo é voluntário, desde os locais para
estabelecer comitês até a distribuição, doação e recolhimento de alimentos”
(PINTO, 2005, p.210 -211).
Aqui se ratifica as diferenças entre à Pastoral e a “Ação...” onde a
primeira por causa de sua ação social acaba que “tomando” o lugar do Estado,
bem como impedindo que esse construa políticas de abrangência universal. Nada
obstante, as ações da Pastoral possuem limitações, pois suas atividades não são
universais. No que toca a “Ação...”, esta se caracteriza como aparelhamento
mais democrático, mais participativo. Todavia, nessa atividade também há
transposição de responsabilidade do Estado e o não recebimento de recurso
(PINTO, 2005). Contudo, se o Estado não oferecer recurso para as ONGs suas
ações não passariam de filantropia.
Igualmente, ao analisar outras ONGs derivadas da de Bentinho, PINTO
(2005) afirma que todas possuem pouca força no que diz respeito à eficácia,
pois suas ações são limitadas.
Entretanto, quando suas ações se voltam para além da distribuição de alimentos
há maiores possibilidades de haver inclusão tendo por cenário que leva a
participação e empoderamento das pessoas. Do mesmo modo, YOUNG (2000) assegura
que a sociedade civil tem autodeterminação, mas não autodesenvolvimento, ou
seja, as ONGs conseguem se fundar e se estabilizar, mas tem dificuldades de
influenciar as outras estancias de poder. Nesse sentido, necessita da operação
do Estado.
As possibilidades se mostram para as ONGs quando essas possuem o aparato
do Estado. Da mesma forma que o ser humano não consegue viver sozinho, as ONGs
também não. Quando ligada para além da sociedade civil ou com outras ONGs elas
crescem, fazendo ramificações, o que é importante, pois normalmente quem faz o
papel de deliberação é o Terceiro Setor. Por fim, as ONGs fazem com que as
pessoas se empoderem e participem, sendo esse seu conjunto de possibilidades
(LAVALLE; CASTELLO; BICHIR, 2008).
Referências:
LAVALLE, Adrián Gurza; CASTELLO,
Graziela; BICHIR. ATORES
PERIFÉRICOS NA SOCIEDADE CIVIL: Redes e centralidades de organizações em São
Paulo. REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS
SOCIAIS. v. 23, n° 68, 2008.
PINTO,
Céli Regina Jardim. A SOCIEDADE CIVIL E
A LUTA CONTRA A FOME NO BRASIL (1993 – 2003). Brasília: Revista Sociedade e
Estado, v. 20, 2005, p.195 - 228.
YOUNG, Iris. Inclusion and democracy. Oxford: Oxford
University Press, 2000.
Taysa Silva Santos é graduanda do Curso de Serviço Social da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB. Integrante do Núcleo de Estudos e Pesquisas Gênero, Raça e Etnia e também do Grupo de Pesquisa NATUSS, Natureza, Trabalho, Ser Social e Serviço Social da mesma universidade.
E-mail: taysa_123@hotmail.com.
A Contemporartes agradece a publicação e avisa que seu espaço continua aberto para produções artísticas de seus leitores.
1 comentários:
Este texto também encontra-se publicado na Revista Partes (São Paulo).
16 de setembro de 2012 às 14:05Att,
Taysa S. Santos
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