segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Fernando e suas pessoas




Entre tantas pessoas, tanto Pessoa. Poderia ser uma definição, caso não fosse tão redundante e clichê. Abordar um pouco da obra desse autor que é um dos grandes nomes da literatura de língua portuguesa, e claro, da literatura mundial, exige não apenas atenção, mas um extremo e delicado cuidado. Cuidado esse ainda mais rigoroso quando se adentra a sua heteronímia. Não podemos simplesmente falar em Alberto Caeiro, Bernardo Soares, Ricardo Reis e Álvaro de Campos como “outros” de Fernando Pessoa. É necessário que os tratemos como realmente são, logo, que os identifiquemos como pessoas, ainda que ficcionais, são ficções experimentadas e consolidadas por Pessoa e pela literatura. Afinal, foi o próprio Álvaro de Campos que vai questionar a existência de Fernando Pessoa. Como pode?



Os vários personagens criados por Fernando Pessoa trazem a certeza e a incerteza dos vários “eus” propostos pelo poeta português. Se ora se contradizem, ora se completam e se complementam. Álvaro de Campos, por exemplo, talvez nunca tenha chegado a conhecer, de fato, Bernardo Soares, ainda que percebamos indicações que possam ter se encontrado em ruas portuguesas, uma vez que pareciam frequentar os mesmos ambientes que Campos.


É importante que percebamos que Bernardo Soares consegue ser mais próximo de Pessoa do que o próprio Álvaro de Campos, sendo considerado por Fernando Pessoa como um “semiheterônimo”. Explicou o poeta português que isso ocorria, pois apesar de não ser ele, diferente dele não o era. Quiça, portanto, uma mutilação de suas personalidades. Essa aproximação é tão interessante, e ao mesmo tempo emblemática, que temos a revelação de Bernardo Soares no trecho 299, do Livro do Desassossego, afirmando que ele cria em si várias personagens constantemente. Ainda, reitera ele, que para criá-lo, ele destrói-se. Ele não existe, pois, senão exteriorizado.





Renato Dering é escritor, mestrando em Letras (Estudos Literários) pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), sendo graduado também em Letras pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Realizou estágio como roteirista na TV UFG e em seu Trabalho de Conclusão de Curso, desenvolveu pesquisa acerca da contística brasileira e roteirização fílmica. Atualmente também pesquisa a Literatura e Cultura de massa.


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