terça-feira, 16 de outubro de 2012

Como tenho que dizer como vejo as coisas - I


Estou de volta, agora em nova coluna, em que farei incursões sobre identidades e sexualidades, em especial as vem sendo representadas através Arte. O título da coluna, é preciso que se diga logo, foi emprestado de um livro da Suely Rolnik e, como para ela, aqui também estaremos atentos às estratégias do desejo em qualquer fenômeno da existência humana, “as mutações da sensibilidade coletiva, a violência, a delinquência (..), os indivíduos, os grupos, as massas”. Tudo o que der espaço para os movimentos do desejo, uma conversa, um tratado, um filme, tudo pode servir para cunhar matéria de expressão e criar sentido.  Por isso Rolnik batiza essa coluna, afinal, “o cartógrafo vive de expropiar, se apropriar, devorar e desovar, transvalorado”.

Vou falar hoje sobre um filme, um curta de um quarto de hora chamado Starcrossed - Love Against Fate, que foi traduzido no Brasil por Amor Contra O Destino. Quem não viu pode acessar através do link com legendas em português.

O filme é de 2005 e foi escrito e dirigido por James Burkhammer. Na história dois irmãos se apaixonam e essa paixão ameaça a vida pacata e vigilante que viviam até de então. Antes que pudessem separá-los, os irmãos fogem e se suicidam algemados dentro de uma piscina. Parte desse roteiro se assemelha em muito ao do filme Do começo ao fim, de 2009. Francisco e Thomás, do filme de Aluizio Abranches são, respectivamente, Darren e Connor. Mas são mais as semelhanças, na maneira que contam a história mostrando flashes da infância, onde ainda crianças demonstravam afeto que trancendia o habitual, o esperado e o ensinado; o olhar do outro (o pai), que estranha; o desabrochar do desejo na adolescência e o sexo.

Starcrossed - Love Against Fate nos mostra que durante toda a vida somos ensinados a reconhecer os caminhos corretos de nossa sexualidade, que há durante nossa trajetória uma espécie de pedagogia, de curriculo que nos ensinaria a maneira de ser homem e  a de ser mulher, o que Butler traduziria em inteligibilidade de gênero. Quem foge às regras estaria condenado a viver na marginalidade e lutar para garantir esse lugar, o que fez Genet por exemplo, quando reinvindicou para si uma identidade abjeta e queria ser reconhecido como tal; se adequar ao armário ou usá-lo como uma estratégia identitária ou, ainda, sucumbir – o que parece ter sido o destino trágico dos irmãos que, como nas tragédias gregas servia para alertar os demais cidadãos quando da desobediência civil.

Na próxima coluna prometo avançar um pouco mais no que oferece Starcrossed - Love Against Fate como análise e representação das sexualidades contemporâneas e compará-lo ainda mais de perto com o filme de Abranches.

Bom revê-los.

 

Djalma Thürler é Professor Adjunto da UFBA com estágio de Pós-Doutoramento em Literatura e Crítica Literária e Diretor de Teatro.

 

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