quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Fragmentos sensíveis



Chega
Chega de surpresas desnecessárias e perguntas tolas, não tente fazer comparações e nem se assuste com as mudanças, a vida é muito mais do que suas narrativas bem comportadas tentam mostrar, bem menos interessante que as imagens produzidas pelos artíficios caricaturais. Chega de sessões de esterilização, do empastelamento intelectual, do clero do saber nos penetrar a alma e dirigir nossas emoções e ideias, é preciso viver, sentir, produzir significado. 

Olhe
Não me interessa as suas recomendações ancoradas no mofo de filosofias defuntas. Não tente me enquadrar nas caixas que tanto criticas e nas quais sepulta tantas mentes. Olhe ao redor, olhe para dentro, tente encarar diante do espelho o espantalho no qual você se tornou. Sim, é duro reconhecer nossa mediocridade, perceber nossa insignificância, ter que olhar para nossa alcova e desvelar o indesejável.

Quero
Eu quero Arte, Ciência, Filosofia, Fé e Liberdade ... Quero poder me entregar aos meus sonhos e utopias, minhas ilusões e heresias, ciente de que pude escolher o meu trágico fim. Quero pensar, amar, tocar, experimentar, criar, sem recomendações, regras e protocolos. Quero poder olhar nos rostos, falar com quem tem algo a dizer, e me tornar cega diante dos zumbis que rondam esta terra. 

Fique
Que fique com o sucesso da gentalha infeliz e frustrada que se inflama por títulos carimbados pelos cartórios dos ventos. Fique longe e não compartilhe comigo sua miséria existencial. Continue reproduzindo tudo o que te destrói, por medo de jogar tudo pelos ares e poder reencontrar a doce leveza do ser e a magia de uma vida que faça sentido. Fique calad@, não me conte seus palpites sobre as intenções alheias, é uma insanidade tentar desvendar as motivações humanas, mero fruto de um empreendimento que busca controlar e manipular o que há de mais íntimo nos seres humanos, uma subjetividade indecifrável. 

Pare
Pare de perder tempo, não sou convencível, me apego às minhas crenças como @ náufrago à rocha, nem o tempo nem o mundo conseguem me desencaminhar, sou resistente, persistente e intransigente. Não seja bob@, se parece que cedi, é por que apenas dei um tempo para colocar um ponto final. Pare de tentar olhar para o presente e prever o meu destino final, pobre de quem faz das abstratas e alienadas categorias sociológicas a lente para enxergar o mundo. Não sou uma peça nesta história moribundo, um artefato movido pela economia, um produto dessas relações de poder. Sou apenas eu, e só a partir de mim pode me ler, interpretar, interagir.

Vou
Vou fundar minhas epistemologias controversas, me guiar pelas éticas que emanam do meu ser e fazer políticas baseadas nos meus princípios e valores. Vou resgatar o que sobrou de mim, os resquícios de tempos pulsantes, vibrantes e alegres. Desfazer as amarras das falsas promessas de liberdade e dos enganos disfarçados de fino saber. Levantar da cova na qual fui enterrada pelas leituras inebriantes e fúteis. Me reabrir para o mundo, como aquela criança ingênua que encontra graça no canto dos pássaros e recolhe as pétalas das rosas que caem no jardim. 

Tatyane Estrela é graduanda no Bacharelado em Ciências e Humanidades e no Bacharelado e Licenciatura em Filosofia pela Universidade Federal do ABC. Participa do DEFILOTRANS - Grupo de Debates Filosóficos Transdisciplinares Para Além da Academia.


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