sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Poética do nada


Caros leitores,


Nesta sexta a reflexão perfaz as instâncias do nada. São intensos os muitos momentos em que a existência parece perder o movimento. Intensos exatamente porque, quando a vida exterior assume a sua condição de mais íntima monotonia, a sua realidade interior ganha velocidade extraordinária. No universo interior, passam então a dar-se os mais fascinantes acontecimentos, impulsionando mudanças, reordenando o todo, dando-lhe novos significados.  É especialmente essa condição de alteração, de cambio reflexivo, o que me atém ao escrever “Poética do Nada”. O nada é dotado de importância, de pertinência... Ignorar a sua intensidade é incorrer na ausência dos mergulhos interiores, os quais permitem o encontro de cada um de nós com nós mesmos.

Adriano Almeida


 Poética do nada


 As folhas em branco...
Canetas, papel e mãos.
Pensamentos em nó.



Frases insensatas.
Calor pueril...
Instintos selvagens.
Meu veneno vital.



Olhos de inquietude,
vontades não-permitidas.
Saudades não-contidas...
Os dias em transe...



Monotonia turbulenta...
Instantes de ódio, seu mais puro refrigério...
Acalentam o nada,
que por hora insiste em ser tudo.



É irritante saborear mais um dia...
De verão glacial,
de equadores hibernais...
Mais um pouco de penitência,
de culpa ou castigo.



No quarto, o silêncio...
Seu sigilo eterno,
guarda  a ânsia perturbadora,
em sua tranqüilidade voraz.



Devora-me o tempo,
Consumindo cada segundo.
Da raiva ao orgulho,
cada um dos seus limites impuros.



Ironicamente concede-me
a música...
Esta, pode ser sentida,
Mas aprisiona-me...
Ressoando-me em notas,
não vividas...





Adriano Almeida é pesquisador na área de cultura, imaginário e simbologia do espaço. Mineiro, tem se dedicado a escrever poemas, crônicas e contos. Seus escritos, de caráter introspectivo, retratam as incertezas, os conflitos, a melancolia e os encantos da existencialidade humana.






3 comentários:

Maria disse...

Sinceramente, jamais o havia lido, arrependo-me ante a magnitude e beleza de sua sensibilidade poética.
Deixo registrado minha admiração e apreço.

Maria Mirian

15 de dezembro de 2012 às 09:38
Adriano de Almeida disse...

Sem palavras, Maria. Grato pela gentileza... Seja bem-vinda!!!

15 de dezembro de 2012 às 19:27
Marcelo Silva Anjos disse...

Um grande poeta, uma grande obra.

16 de dezembro de 2012 às 04:43

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