Poética do nada
Nesta sexta a reflexão perfaz as instâncias do nada. São intensos os muitos momentos em que a existência parece perder o movimento. Intensos exatamente porque, quando a vida exterior assume a sua condição de mais íntima monotonia, a sua realidade interior ganha velocidade extraordinária. No universo interior, passam então a dar-se os mais fascinantes acontecimentos, impulsionando mudanças, reordenando o todo, dando-lhe novos significados. É especialmente essa condição de alteração, de cambio reflexivo, o que me atém ao escrever “Poética do Nada”. O nada é dotado de importância, de pertinência... Ignorar a sua intensidade é incorrer na ausência dos mergulhos interiores, os quais permitem o encontro de cada um de nós com nós mesmos.
Adriano Almeida
Poética do nada
As folhas em branco...
Canetas, papel e mãos.
Pensamentos em nó.
As folhas em branco...
Canetas, papel e mãos.
Pensamentos em nó.
Frases insensatas.
Calor pueril...
Instintos selvagens.
Meu veneno vital.
Olhos de inquietude,
vontades não-permitidas.
Saudades não-contidas...
Os dias em transe...
Monotonia turbulenta...
Instantes de ódio, seu mais puro refrigério...
Acalentam o nada,
que por hora insiste em ser tudo.
É irritante saborear mais um dia...
De verão glacial,
de equadores hibernais...
Mais um pouco de penitência,
de culpa ou castigo.
De verão glacial,
de equadores hibernais...
Mais um pouco de penitência,
de culpa ou castigo.
No quarto, o silêncio...
Seu sigilo eterno,
guarda a ânsia perturbadora,
em sua tranqüilidade voraz.
Devora-me o tempo,
Consumindo cada segundo.
Da raiva ao orgulho,
cada um dos seus limites impuros.
Ironicamente concede-me
a música...
Esta, pode ser sentida,
Mas aprisiona-me...
Ressoando-me em notas,
não vividas...
Adriano Almeida é pesquisador na área de cultura, imaginário e simbologia do espaço. Mineiro, tem se dedicado a escrever poemas, crônicas e contos. Seus escritos, de caráter introspectivo, retratam as incertezas, os conflitos, a melancolia e os encantos da existencialidade humana.
3 comentários:
Sinceramente, jamais o havia lido, arrependo-me ante a magnitude e beleza de sua sensibilidade poética.
15 de dezembro de 2012 às 09:38Deixo registrado minha admiração e apreço.
Maria Mirian
Sem palavras, Maria. Grato pela gentileza... Seja bem-vinda!!!
15 de dezembro de 2012 às 19:27Um grande poeta, uma grande obra.
16 de dezembro de 2012 às 04:43Postar um comentário
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