quinta-feira, 4 de julho de 2013

Somos a rede social?




Os protestos e manifestações iniciados no mês de junho foram amplamente divulgados pela mídia tradicional e também nas redes sociais. A Wikipédia define essas ações como “várias manifestações populares por todo país que inicialmente surgiram para contestar os aumentos nas tarifas de transporte público, principalmente em São Paulo”. Vale lembrar que os artigos da Wikipédia são construídos através da colaboração de usuários, assim, internautas já se dispuseram a construir na enciclopédia livre esse pedaço da história brasileira, à sua maneira.



 Em resposta a essas manifestações, consideradas as maiores desde o movimento “cara pintada”, o governo brasileiro votou uma série de concessões, além da revogação do aumento das tarifas de transporte em várias cidades brasileiras.

Esses protestos ganharam repercussão internacional pela grande adesão de participantes, além da organização e engajamento através das redes sociais pela Internet. As hasthtags saíram do Twitter e do Instagram e foram direto para os cartazes nas ruas. As avenidas passaram a lembrar as linhas do tempo do Facebook, um grande fluxo de informações, de mensagens e sem a ordem ou coesão esperada em uma manifestação. Essa desordem e falta de coesão também foi criticada dentro das redes sociais.


Se as mídias sociais facilitaram o engajamento pelo o movimento, igualmente serviram para ajudar a compreender e mensurar as informações sobre os protestos. Foi criada uma série de infográficos que explicam, ou tentam explicar, as ações e manifestações. Com a mesma finalidade surgiram as plataformas que possibilitaram um acompanhamento online dos protestos. O CausaBrasil, que permite entender os temas das renvindicações, é um exemplo. Já SODET Change Brasil, mostra através de um globo terrestre virtual onde as pessoas estão comentando sobre as manifestações.

Possibilidades à parte, existe também o lado negativo dessa convocação por meio das redes sociais digitais. De acordo com a filósofa Marilena Chauí, num texto publicado pelo Coletivo Digital, essa convocação é indiferenciada e poderia ser feita para qualquer tipo de evento, porém, calhou de ser em prol da redução da tarifa do transporte público. Outro ponto negativo é a forma de evento, algo pontual, sem passado e sem historicidade.

A filósofa também ressalta que como as manifestações são de massa a divisão de classe não tem sido evidenciada, contudo, é importante considerar sim essa divisão e conflitos de interesses e de poderes na sociedade. “Se não levarem em consideração a divisão social das classes, isto é, os conflitos de interesses e de poderes econômico-sociais na sociedade, os manifestantes não compreenderão o campo econômico-político no qual estão se movendo quando imaginam estar agindo fora da política e contra ela.”

A apolitização dos participantes dos protestos também é evidenciada através da utilização de slogans publicitários. De acordo com uma matéria publicada no siteda BBC, o uso dos termos “o gigante acordou” da campanha do uísque Johnnie Walker e o “Vem pra rua” das propagandas da Fiat, revelam alienação política e consumismo excessivo da população.  O professor do Centro de Estudos Latino-Americanos sobre Cultura e Comunicação da USP, Dennis de Oliveira, afirma, na mesma reportagem, que é um reflexo da sociedade na qual os manifestantes estão inseridos "muitos dos manifestantes não têm qualquer conexão com partidos políticos, então eles tomam emprestadas expressões do mundo no qual eles estão imersos- e nos últimos anos este tem sido o mundo do consumo"



Sempre acreditei que o mundo virtual e as redes sociais são reflexos do que acontecem fora dele. Se aqui, no mundo real, as pessoas não são politizadas, por que na Internet seria diferente? Eu continuo reafirmando a posição de uma professora que me deu aulas na especialização sobre as mídias sociais: elas são apenas meios e instrumentos para certas finalidades. Os homens e seus fins continuam os mesmos.


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Ana Paula Nunes é formada em Comunicação Social pela Universidade Federal de Viçosa|UFV e especialista em Mídia, Informação e Cultura pela Universidade de São Paulo |USP. Trabalha com Marketing Digital e Mídias Sociais, atuando principalmente nas áreas de: pesquisa, monitoramento e planejamento.

1 comentários:

Felipe Menicucci disse...

Muito bom o texto! Vale a discussão de até que ponto esse movimento saiu, de fato, das mídias sociais. Mesmo nas ruas, era um dos assuntos mais comentados no facebook.

5 de julho de 2013 às 21:41

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