quarta-feira, 28 de agosto de 2013

As tribos urbanas paulistanas e as suas religiões


Em abril deste ano , foi lançado pela editora do Centro Integração Escola Empresa (CIEE) o livro "São Paulo: das tribos indígenas às tribos urbanas", organizado pela Prof. Drª Ana Maria de Almeida Camargo (USP). O livro é uma compilação de textos  referentes a algumas aulas ministradas no tradicional curso "História de São Paulo", promovido e patrocinado pela mesma entidade. Nela, publiquei um pequeno artigo intitulado "A tribos urbanas paulistanas e as suas religiões".

Tive a honra de ser convidado para dar uma aula no curso de 2011, cujo tema era São Paulo e suas Religiões. Tratei da religiosidade de algumas "Tribos Urbanas", trabalhando a hipótese de que em tempos de crises de identidades e globalização, o hibridismo cultural produz novas tipologias identitárias surpreendentes, não só em relação ao seu padrão estético, mas também em relação a sua religiosidade. São, por exemplo, lutadores de MMA (Martial Mix Arts) e outros atletas "radicais" evangélicos, pastores e diáconos de "igrejas undergrounds" fãs e músicos de Heavy Metal Cristão, Góticos praticantes da magia pagã Celta Wicca, Punks Straigth Edges devotos de Krishna, fãs de música industrial adeptos do Asatrú (religião que cultua o panteão Escandinavo), entre outros.
Sem a pretensão de traçar a trajetória de cada uma dessas expressões, meu intuito foi focar na problematização a respeito do surgimento do fenômeno das novas religiosidades na contemporaneidade.



Show da banda de Heavy Metal Cristão Antidemon, realizado na sede do Ministério Evangélico Crash Church (Igreja do Impacto, em inglês), no bairro do Ipiranga (SP). Liderada pelo pastor Batista (em primeiro plano) a igreja realiza cultos evangélicos voltados para o público underground.

Uma das principais hipóteses é que a juventude busca na religiosidade explicações para suas inquietações, porém, não encontra nas religiões tradicionais espaço onde suas preferências estéticas, tanto corporal quanto musical, sejam aceitas. Muitos de meus entrevistados relataram experiências constrangedoras em igrejas e templos, nos quais para serem aceitos deveriam abrir mão de suas preferências e seguir o padrão imposto pela entidade. 
   A aula se desenvolveu em três partes: na primeira parte, tratou do surgimento das tribos urbanas no contexto da chamada “crise da modernidade”. Na segunda parte, apresentou alguns exemplos destas tribos e as religiões por elas adotadas, com dados coletados a partir do trabalho de campo realizado para elaborar esta aula. Por fim, realizou-se uma reflexão sobre estas tribos enquanto resultado do processo de hibridização cultural e como estas posturas, marcada pelo revivalismo, são uma forma de busca por respostas e saídas para problemas e angústias relacionadas diretamente ao cotidiano destes jovens, como a violência, a afirmação de sua individualidade, a solidão, as drogas, etc...
 
Com isso, temos o surgimento das chamadas Diglossias Culturais, em outras palavras, as culturas Glocais, a marca de nosso tempo. De acordo com esta ideia, elementos culturais que circulam em âmbito global são incorporados a elementos locais, dando origem a uma nova manifestação. Os grupos estudados refletem justamente esta ideia. É importante ressaltar que estes grupos estão conectados com outros grupos semelhantes em outras partes do mundo criando uma extensa e complexa rede de contatos para troca de informações, experiências e solidariedade.

Enfim, a aula, teve o objetivo de convidar os presentes, incluindo o ministrante da aula, para uma reflexão a respeito destas novas identidades juvenis que vem se constituindo há cerca de 20 anos na cidade de São Paulo. Dentre os vários questionamentos que ficaram “no ar”, os mais comuns foram: Trata-se apenas um modismo? Seriam eles uns “rebeldes sem causa”? Ou representam uma forma dos jovens questionarem o mundo onde vivem além de significar a busca por novos valores morais e de conduta?


Alexandre de Almeida é graduado em Historia e mestre em Antropologia, ambos pela PUCSP. Sua pesquisa tem como foco os grupos juvenis urbanos e seus posicionamentos políticos/partidários. Também realiza pesquisa na área de Arquivologia, com ênfase em documentos audiovisuais e sonoros. Foi radialista na Patrulha FM, em Santo André (SP), especializada no gênero Rock, no final da década de 1990, onde além de apresentar a programação comercial noturna, produziu e apresentou o programa “Expresso da Meia Noite”. Trabalha, há mais de dez anos, com patrimônio histórico arquivístico, atuando em instituições como o Arquivo Público do Estado de São Paulo e Centro de Memória Bunge. Atualmente, coordena a área de Arquivos Sonoros e Audiovisuais do Acervo Presidente FHC e trabalha como professor na rede pública de ensino de São Paulo.

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