As tribos urbanas paulistanas e as suas religiões
Em abril deste ano , foi lançado pela editora do Centro Integração Escola Empresa (CIEE) o livro "São Paulo: das tribos indígenas às tribos urbanas", organizado pela Prof. Drª Ana Maria de Almeida Camargo (USP). O livro é uma compilação de textos referentes a algumas aulas ministradas no tradicional curso "História de São Paulo", promovido e patrocinado pela mesma entidade. Nela, publiquei um pequeno artigo intitulado "A tribos urbanas paulistanas e as suas religiões".
Tive a honra de ser convidado para dar uma aula no
curso de 2011, cujo tema era São
Paulo e suas Religiões. Tratei da religiosidade de algumas "Tribos
Urbanas", trabalhando a hipótese de que em tempos de crises de identidades
e globalização, o hibridismo cultural produz novas tipologias identitárias
surpreendentes, não só em relação ao seu padrão estético, mas também em relação
a sua religiosidade. São, por exemplo, lutadores de MMA (Martial Mix Arts) e
outros atletas "radicais" evangélicos, pastores e diáconos de
"igrejas undergrounds" fãs e músicos de Heavy Metal Cristão, Góticos
praticantes da magia pagã Celta Wicca, Punks Straigth Edges devotos de Krishna,
fãs de música industrial adeptos do Asatrú (religião que cultua o panteão
Escandinavo), entre outros.
Sem a pretensão de traçar a trajetória de cada uma
dessas expressões, meu intuito foi focar na problematização a respeito do
surgimento do fenômeno das novas religiosidades na contemporaneidade.
Show
da banda de Heavy Metal Cristão Antidemon, realizado na sede do Ministério
Evangélico Crash Church (Igreja do Impacto, em inglês), no bairro do Ipiranga
(SP). Liderada pelo pastor Batista (em primeiro plano) a igreja realiza cultos evangélicos
voltados para o público underground.
Uma das principais hipóteses é que a juventude busca
na religiosidade explicações para suas inquietações, porém, não encontra nas
religiões tradicionais espaço onde suas preferências estéticas, tanto corporal
quanto musical, sejam aceitas. Muitos de meus entrevistados relataram
experiências constrangedoras em igrejas e templos, nos quais para serem aceitos
deveriam abrir mão de suas preferências e seguir o padrão imposto pela
entidade.
A
aula se desenvolveu em três partes: na primeira parte, tratou do surgimento das
tribos urbanas no contexto da chamada “crise da modernidade”. Na segunda parte,
apresentou alguns exemplos destas tribos e as religiões por elas adotadas, com
dados coletados a partir do trabalho de campo realizado para elaborar esta aula.
Por fim, realizou-se uma reflexão sobre estas tribos enquanto resultado do
processo de hibridização cultural e como estas posturas, marcada pelo revivalismo,
são uma forma de busca por respostas e saídas para problemas e angústias
relacionadas diretamente ao cotidiano destes jovens, como a violência, a
afirmação de sua individualidade, a solidão, as drogas, etc...
Com isso, temos o surgimento das chamadas Diglossias
Culturais, em outras palavras, as culturas Glocais, a marca de nosso tempo. De
acordo com esta ideia, elementos culturais que circulam em âmbito global são
incorporados a elementos locais, dando origem a uma nova manifestação. Os
grupos estudados refletem justamente esta ideia. É importante ressaltar que
estes grupos estão conectados com outros grupos semelhantes em outras partes do
mundo criando uma extensa e complexa rede de contatos para troca de
informações, experiências e solidariedade.
Enfim, a
aula, teve o objetivo de convidar os presentes, incluindo o ministrante da
aula, para uma reflexão a respeito destas novas identidades juvenis que vem se
constituindo há cerca de 20 anos na cidade de São Paulo. Dentre os vários
questionamentos que ficaram “no ar”, os mais comuns foram: Trata-se apenas um
modismo? Seriam eles uns “rebeldes sem causa”? Ou representam uma forma dos
jovens questionarem o mundo onde vivem além de significar a busca por novos
valores morais e de conduta?
Alexandre de Almeida é graduado em Historia e mestre em Antropologia, ambos pela PUCSP. Sua pesquisa tem como foco os grupos juvenis urbanos e seus posicionamentos políticos/partidários. Também realiza pesquisa na área de Arquivologia, com ênfase em documentos audiovisuais e sonoros. Foi radialista na Patrulha FM, em Santo André (SP), especializada no gênero Rock, no final da década de 1990, onde além de apresentar a programação comercial noturna, produziu e apresentou o programa “Expresso da Meia Noite”. Trabalha, há mais de dez anos, com patrimônio histórico arquivístico, atuando em instituições como o Arquivo Público do Estado de São Paulo e Centro de Memória Bunge. Atualmente, coordena a área de Arquivos Sonoros e Audiovisuais do Acervo Presidente FHC e trabalha como professor na rede pública de ensino de São Paulo.
Alexandre de Almeida é graduado em Historia e mestre em Antropologia, ambos pela PUCSP. Sua pesquisa tem como foco os grupos juvenis urbanos e seus posicionamentos políticos/partidários. Também realiza pesquisa na área de Arquivologia, com ênfase em documentos audiovisuais e sonoros. Foi radialista na Patrulha FM, em Santo André (SP), especializada no gênero Rock, no final da década de 1990, onde além de apresentar a programação comercial noturna, produziu e apresentou o programa “Expresso da Meia Noite”. Trabalha, há mais de dez anos, com patrimônio histórico arquivístico, atuando em instituições como o Arquivo Público do Estado de São Paulo e Centro de Memória Bunge. Atualmente, coordena a área de Arquivos Sonoros e Audiovisuais do Acervo Presidente FHC e trabalha como professor na rede pública de ensino de São Paulo.
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